De 2 em 2 anos, mais coisa menos coisa, sai um novo filme de Wes Anderson. Por esta altura já ninguém se pode sentir enganado ao ser confrontado com alguma situação inesperada, uma vez que todos sabemos bem ao que vamos. Paletas pastel absolutamente dominantes, simetria doentia, movimentos de câmara definidos milimetricamente por algoritmos da NASA e, bem, e uma adorável patetice autista, à qual ninguém resiste. Vou sempre de pé atrás, preparado para criticar de modo senil como um idoso retido num lar, refém de donas de casa psicóticas a trabalhar sem vinculo contratual. Acontece, no entanto, que no final gosto sempre do filme e fico também sempre irritado por isso.

Mas aqui estamos, no filme de Wes Anderson #32377, o último da sua linha, de uma gradual evolução narrativa / estética / conceptual / subliminar que parece manter a tendência evolutiva. Nem sequer compreendo porquê, seguimos dezenas destes realizadores Auteur que começam a definhar a meio da primeira dezena de filmes, mas aqui o Zés Anderson parece manter-se sempre sólido, hirto e vigoroso nesta caminhada Canneana.

Desta vez é um magnata das armas e negócios obscuros que sobrevive a uma tentativa de assassinato e decide nomear a sua filha como herdeira do seu império. Problema: a filha é freira e está prestes a acabar o mestrado freiral e preparada para entrar na carreira eclesiástica como irmã. Rapidamente se percebe que a jovem religiosa devota guardadora da paz sai ao pai, e não apenas no volume torácico. Tem jeito para devassar vidas alheias, conspirar de modo complexo e profundo, uma jogadora campeão do xadrez da patifaria transgressora.

E o seu plano, exageradamente complexo e cheio de detalhes desnecessariamente profundos, precisa de uma associação de mentes facínoras a trabalhar em espelho para funcionar. Enfrentando sabotagens, conspirações governamentais e dilemas familiares, acompanhadas por de perto por Michael Cera, Riz Ahmed, Tom Hanks, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Bryan Cranston, Jeffrey Wright e Bill Murray, o filme vai de patetice em patetice para nos manter sempre com um sorriso idiota nos lábios.

Para mim serve, 100 minutos densos e bonitos, povoados de talentos, com especial destaque para o segmento desportivo de Tom Hanks e Bryan Cranston, uma mensagem muito critica do atual momento politico e social e um beleza técnica excepcional, área que tem sempre um lugar especial no meu coração.

Mais do mesmo? Sim. Inovador? Não. Armado ao pingarelho? Definitivamente. Engraçado? Muito. É de ver? Depende da vossa relação com os limites de humor perante a intelectualidade e as artes.


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