O amor é um conceito demasiado complicado para ser processado pelo cérebro humano. É uma emoção? É um comportamento? É um procedimento destinado a criar vínculos? É inato? Aprende-se? Há quem diga que não se pode explicar ou que a partir do momento em que se pode explicar, deixa de existir. É um circuito de recompensa e gerador de dopamina para criar no ser humano a vontade de não se querer matar mal entre neste mundo? Talvez. Mas como diria o poeta “What is love, baby dont hurt me, dont hurt me, no more…”. E é este último conceito poético do impactante mestre do eurodance, o criador de hinos Haddaway, que vamos usar para falar de amor. O amor mais sofrido, mais duro e também mais solidificador de vínculos. Uma força de gravidade imensa que só percebemos existir quando tentamos sair da órbita do objeto amado e não conseguimos. Não há força de escape que nos liberte da atração gravitacional, neste caso o chamado “Poder do Amor”, do objeto da nossa paixão. Mesmo quando pensamos não estar sob a jurisdição da lei da gravitação amorosa universal. Quando percebemos que o ar é apenas respirável na órbita do nosso centro de afetos. Que pode ser um parceiro, podem ser filhos, animais, por vezes dinheiro e objetos ou no caso de Lobo Antunes, uma pedra que um dia irá, eventualmente, amar.
Together fala-nos de um casal muito diferente entre si. Como todos os casais. Como o meu, como o vosso. Desequilibrado, injusto, pernicioso e por vezes torturador. Há uma mudança na sua vida que irá alterar várias dinâmicas. Vão morar para a mata onde coisas estranhas começam a aparecer, o seu vínculo será testado e terão que aprender, e gostar, de ficar juntos. No sentido mais siamês do termo. Pelo meio há misticismo pagão, florestas mágicas, itens encantados e uma maldade sem consciência, apenas reativa a quem for suficientemente burro para se defrontar com ela.

Michael Shanks, realizador neozelandês com carinha de bebé e bochechas rosadas de quem ainda almoça em casa da mãe, estreia-se com um filme muito pessoal, uma materialização de um amor difícil de conjugar, com pessoas aparentemente inconciliáveis cuja única compatibilidade é este amor visceral, difícil de explicar e de ser entendido. Transmutado na versão que mais gostamos de ver o amor representado, o body horror, o casal sofre transformação incompreensíveis que só o corpo, na sua versão primordial e desconectada do cérebro, compreende.
Interpretado por Dave Franco e Alison Brie, competentes na exteriorização deste amor difícil e irracional, uma toxicidade conjugal que pode ser em simultâneo um tipo de amor carnal mais verdadeiro que o romance de cordel do costume. Será amor se não sentires o ardor dentro de ti, no fervilhar visceral vulcânico e orgânico no nosso âmago? Pode também ser interpretado, pela subjetividade da arte, como uma abordagem da codependência, no facto de por vezes haver apenas peso a atrasar a vida e a sua confusão com o conceito de amor, aquela sensação que as mulheres têm de serem substitutas para a mãe do seu companheiro e os companheiros interpretam como sendo amor, metendo ali uma perna inteira no pântano da discussão e retórica Freudiana. Área essa que vou evitar, peço desculpa.

Não é um filme livre de pecados. A trama não é suficiente para preencher os 100 minutos e torna-se por vezes penoso de tão lento e repetitivo. Há elementos que nos são martelados como se fossemos pessoas duras de compreensão e uma certa escuridão na direção de fotografia que agora se usa muito, principalmente nos produtos de plataformas de streaming, que é apenas um incómodo assim que passa o encanto pelo modernaço HDR, que é a característica que agora vende televisões nas lojas.
Aprecio muito o misticismo, a reverência e o assombro que os americanos, ingleses ou mesmo os nórdicos têm pelas suas florestas, criando histórias e lendas em seu redor, transformando o desconhecido e o escondido em mirabolantes mitologias que acabam por verter para cinema ao ser aproveitadas, provavelmente muito pela rama, mas para nós que desconhecemos a profundidade mistica destes locais, serve perfeitamente.
Também surgiu recentemente uma polémica, que fala em plágio em relação a um filme de 2023. Deixo aqui o vídeo, mas vejam-no apenas se já viram o filme porque SPOILER ALERT:
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