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Category: Cinema (Page 1 of 27)

Alison Brie – Peitinhos da Quinta

Após ter ficado encantado com a performance de Alison Brie no filme Together, cujo meu texto acerca dele pode ser lido aqui, resta apenas fazer a homenagem a esta mulher bonita, com excelente sentido de humor e enorme capacidade nas artes da representação. O seu estilo “à vontade” com o seu corpo, sem tabus, dá-lhe uma leveza difícil de encontrar fora dos anos 80 e 90. Sem mais delongas, ficam a multimédia sortida. Quando acabarem de esgalhar o pessegueiro, leiam o texto acerca do filme no blog. Obrigado

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Together (2025)

O amor é um conceito demasiado complicado para ser processado pelo cérebro humano. É uma emoção? É um comportamento? É um procedimento destinado a criar vínculos? É inato? Aprende-se? Há quem diga que não se pode explicar ou que a partir do momento em que se pode explicar, deixa de existir. É um circuito de recompensa e gerador de dopamina para criar no ser humano a vontade de não se querer matar mal entre neste mundo? Talvez. Mas como diria o poeta “What is love, baby dont hurt me, dont hurt me, no more…”. E é este último conceito poético do impactante mestre do eurodance, o criador de hinos Haddaway, que vamos usar para falar de amor. O amor mais sofrido, mais duro e também mais solidificador de vínculos. Uma força de gravidade imensa que só percebemos existir quando tentamos sair da órbita do objeto amado e não conseguimos. Não há força de escape que nos liberte da atração gravitacional, neste caso o chamado “Poder do Amor”, do objeto da nossa paixão. Mesmo quando pensamos não estar sob a jurisdição da lei da gravitação amorosa universal. Quando percebemos que o ar é apenas respirável na órbita do nosso centro de afetos. Que pode ser um parceiro, podem ser filhos, animais, por vezes dinheiro e objetos ou no caso de Lobo Antunes, uma pedra que um dia irá, eventualmente, amar.

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Jurassic World Rebirth (2025)

Acordei numa sala escura. Uma lâmpada forte apontada cirurgicamente à minha cara. Mal conseguia abrir os olhos, sentia o sabor a sangue na boca e provavelmente meia dúzia de costelas partidas. Tentei falar. Ao fim da primeira sílaba, senti um pulmão pressionado por algo pontiagudo. “Foste tu quem escreveu o texto do Jurassic World Rebirth na página do Sr. Joaquim no Facebook?”. Aflito e assustado pensei que finalmente as consequências estavam a materializar-se na vida real. “Senhor quê? Nunca ouvi falar…”. De repente sinto um choque a percorrer-me o corpo, todos os músculos se mexem violentamente de modo involuntário. Incluindo o esfíncter retal, infelizmente. “Era uma pergunta retórica, óh burro! Sabemos que nem sequer viste o filme. Emprenhas pelos ouvidos só para te armares em espertinho e alguém tem que pôr fim a isso. Tens 3 dias para o ver. Senão voltas para aqui e levas uma segunda volta que não será tão agradável”. Um pensamento relâmpago tomou conta de mim, deixar completamente esta parvoíce de falar de cinema. Não necessito realmente disto para nada, muito menos morrer eletrocutado todo borrado por mim abaixo. “Quem és? Serviços Secretos? ASAE? Polícia Judiciária? Mossad? CIA? Mercenário? Espião MI6?”. Uma gargalhada que me vaporizou uma brisa de má higiene oral na cara. “Não, meu bandalho. Sou o Caló que trabalha de manhã no talho do Alcides. Primo da Gisela da Zouparria, que é recepcionista na Florista Linita. Campeão distrital de dominó”. Ok, pensei. Finalmente o famigerado reconhecimento público.

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How to Train Your Dragon (2025)

Estavamos de férias e o puto torceu o pé. Todos os planos de palmilhar repetidamente, em modo robótico, as ruas turísticas daquele vilarejo balnear foram por água abaixo. Ficámos tristes por não podermos fazer a voltinha dos tristes pelas lojas de bolas e chinelos, snifar o intenso cheiro a champô e as hormonas de pitas com esperança de se estrearem na área das desilusões amorosas de verão. O plano? Ficar em casa e ver um filme. Todos já viram o How To Train Your Dragon e, mesmo antes de passar ao próximo da pastinha do Sr. Joaquim, reparei que era de 2025. “Mas que diabos…?”. Um remake em imagem real? Da mesma realizadora? Bom, o puto mais novo ainda não o tinha visto e todos nós já nos tínhamos esquecido do original. Quarenta minutos depois de o termos visto, para ser sincero. Comando na mão, carreguei no botão.

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The Phoenician Scheme (2025)

De 2 em 2 anos, mais coisa menos coisa, sai um novo filme de Wes Anderson. Por esta altura já ninguém se pode sentir enganado ao ser confrontado com alguma situação inesperada, uma vez que todos sabemos bem ao que vamos. Paletas pastel absolutamente dominantes, simetria doentia, movimentos de câmara definidos milimetricamente por algoritmos da NASA e, bem, e uma adorável patetice autista, à qual ninguém resiste. Vou sempre de pé atrás, preparado para criticar de modo senil como um idoso retido num lar, refém de donas de casa psicóticas a trabalhar sem vinculo contratual. Acontece, no entanto, que no final gosto sempre do filme e fico também sempre irritado por isso.

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Karate Kid Legends (2025)

Uma das piadas recorrentes de Barney Stinson, popular personagem de How I Met Your Mother interpretado por Neil Patrick Harris, era que o verdadeiro Karate Kid seria Johnny Lawrence. Daniel LaRusso foi um principiante com sorte que estragou a meteórica carreira de Lawrence com um pontapé ilegal. E que depois lhe arruinou a vida para sempre, abandonando um futuro promissor, lançando-o para sempre numa vida de álcool, drogas, Rock n’Roll e decadência urbana. Essa tendência da série, para reforçar a sua personalidade oposicionista, acabou por dar origem à série Cobra Kai. E depois, com o êxito meteórico dessa série em todas as faixas etárias, Karate Kid começou a ser novamente um nome pomposo e popular, a criar tendências e a pedir o que se pede sempre: outro filme.

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Until Dawn (2025)

Há uns tempos, num episódio do podcast Nalgas do Mandarim, falava com os meus amigalhaços co-apresentadores acerca do fenómeno da última década e meia das adaptações de videojogos para cinema. E, como de costume, elencavam-se argumentos rezingões de velhos furiosos com o avanço dos tempos acerca do tema “No meu tempo é que era bom”. Neste caso de nos anos 80, 90 e inícios dos 2000s, os videos jogos mimicavam os filmes que víamos, o cinema era a força motriz por detrás da jovem, imberbe e imatura indústria dos videojogos. Para quem tem andado distraído nos últimos 20 anos, as coisas mudaram drasticamente. A indústria dos videojogos, principalmente da gama AAA, é lider no entretenimento e o cinema e TV agora adoptam os jogos em blockbusters e séries premium nas plataformas.

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Rocky IV (1985) e a reciclagem das nostalgias

Esta semana foi a queima das fitas de Coimbra. Tenho vindo a acompanhar novamente este evento académico, porque os meus filhos e sobrinhos estão já a começar o seu percurso no Ensino Superior. Um gajo vai-se inteirando das novas modas. Por exemplo, já não há garrafas de vidro, o cortejo é super organizado, os concertos das noites do parque são uma merda e as miúdas agora mijam de pé com as amigas à volta a tapar com as capas. Antigamente mijavam de cócoras, mas as bêbedas das amigas estavam sempre a levantar as capas e qualquer pessoa que passasse na rua tinha acesso a uma versão local d’A Origem do Mundo de Gustave Courbet, em 3D com cheirinho. E uns salpicos se se aproximasse demais.

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The Infernal Rapist (1988)

Carlos El Gato é preso e condenado à morte por cadeira elétrica. Coitado, certamente será engano ou uma injustiça do complicado sistema judicial mexicano, tantas vezes manipulado pelas garras dos barões da droga. Ah, não é nada. É um serial killer que também viola. Parafraseando o acordão da sua condenação, “viola à fartazana”. E no dia em que está para ser executado aparece-lhe Satanás com uma proposta. Longe do cornudo vermelho da literatura ocidental dos últimos séculos, este diabo é uma versão badalhoca das madames de bordel dos anos 60 e 70, aquelas senhoras que aviavam chouriça à taxa de largas dezenas por noite e agora só fazem trabalho administrativo pois o corpo revela bem as marcas do tempo e do excesso de cutucação uterina. Este diabo propõe soltar novamente El Gato para a sociedade na condição de que lhe mate e viole 7 mulheres. El Gato exclama “Ok” e passados 20 segundos já se está a preparar para passar a ferro uma cabeleireira especializada em caracóis e madeixas. E assim se repete o ritual de sexo e morte até à sétima pobre senhora.

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Perfect Days (2023)

Um homem simples e humilde. Ligado a uma rotina espartana, rigorosa. Austera…  O tempo pinga vagarosamente enquanto aprecia os prazeres que o mundo abandonou. Contempla os efeitos da natureza nas obras do homem. Ou a obra de Deus, se formos religiosos. Limpa diariamente as belas retretes de Toquio, sempre atento e completista. Wim Wenders leva-nos pela mão a uma visita de estudo da simplicidade, do abandono dos modos vertiginosos da atualidade em prol de paz de espírito, a bem da saúde mental, enfiado mesmo no centro do furacão dessa mesma vida caótica e consumidora. Um estilo de viver minimalista e analógico. Cassetes áudio e livros de bolso em segunda mão. Um colchão fraquinho que me fez doer as costas mesmo sem me deitar, madrugadas fotocopiadas, uma cópia de uma cópia de uma cópia, curiosamente dos antípodas do Fight Club. 

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7 Pecados Rurais (2013)

Este não é um bom filme. Por nenhuma métrica. Em termos de produção apresenta meios reciclados de filmagens de novelas, e mesmo assim restos estragados de cenários, adereços ou mesmo guarda roupa. O estilo de representação de todos, excetuando os titulares Zé e Quim, cai na gama tão temível chamada “representação de revista à portuguesa”. O toque de modernidade, gamado de 300 filmes anteriores, com a presença de Deus, interpretada pelo defunto e mui saudoso Nicolau Breyner, também não ajuda. Digamos que o tom, os temas e o próprio motor narrativo, que serve para agregar um conjunto de sketches soltos, contribui para dar um look and feel que a internet teima em chamar de “Azeite”, esse tão nobre e precioso líquido, ouro mediterrânico. Mas que neste contexto traduz como piroso e sem gosto.

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Alien, O Orangotango Depilado

Quando nos lembramos de Alien, filme de 1979 de Ridley Scott, muitas coisas interessantes nos vêm à cabeça. Não é só facto de ser um absoluto assombro da cinematografia, um misto de terror e ficção científica que continua tão atual hoje com há quase 50 anos, de ser um filme de orçamento modesto que usa a habilidade criativa e a imaginação para o transformar numa peça superior que ecoará nos tempos enquanto houver tempos, que é ainda uma masterclass de cinema. Quer seja em termos narrativos, técnicos ou artísticos, tudo neste filme emana nobreza da sétima arte. 

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Commando (1985) no NFF 2023

1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs

Do mais profundo breu abre-se uma fresta de luz quente e acolhedora. Um homem carrega um tronco ao ombro. Não era um tronco normal, não era um homem normal. Era o super tronco carregado pelo seu equivalente humano. Ornamentado por steel drums de Trinidad e Tobago, esta poderosa criatura, capaz de arrancar cabines telefónicas, bancos de carros e derrubar paredes de hotel, transforma-se no pai do ano, mimando a sua filha com gelado e um veado bebé que acabou por trazer para refugar ao jantar, num cena cortada. A música transforma-se e eu deixei nesse momento de sentir peso e fiquei leve como uma pena.

Num profundo estado de contemplação espiritual, encontrei-me imerso numa meditação singular. À medida que a intensidade da minha devoção aumentava, uma sensação de leveza tomou conta de mim. Aos poucos, percebi que estava a desvincular-me do seu corpo físico, como se a minha consciência estivesse a flutuar livremente.

Enquanto pairava por cima daquela plateia, observava o ambiente ao meu redor com uma perspetiva renovada. As barreiras físicas pareciam desaparecer, e senti uma conexão profunda com algo para além do tangível. Uma luz suave envolvia tudo, sentia harmonia e compreensão cósmica.

Neste estado, tive a percepção de que a minha essência transcendia os limites do corpo, conectando-me a algo divino e universal. Esta experiência extra sensorial tornou-se um momento sagrado, onde a fronteira entre o eu individual e o todo cósmico se dissolveu, deixando uma impressão eterna de unidade espiritual. Ouço uma efusiva ovação depois da frase “Let off some steam, Bennet” que me faz iniciar uma espiral descendente. Ao regressar ao meu corpo, carreguei comigo uma compreensão renovada da espiritualidade e uma sensação de paz interior.

Tentei sentar-me novamente no lugar, mas a minha pinhal rectal foi entretanto ocupada por alguém que se auto intitulava “Kanzana Ben”

A magia do Commando em sala, 07 de dezembro de 2023

Reportagem fotográfico pelo André Henriques
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1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs
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1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs
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1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs
2º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.08© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs
1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs
1º dia da 2ª edição do Nalgas Film Fest @ Cinema Passos Manuel, Porto, Portugal 2023.12.07© André Henriques 2023 www.ahphoto.pt ig @ahphoto_gigs

Nalgas Film Festival – Parte 3

Pedimos a todos os realizadores para nos mandarem um videozinho para servir de introdução ao respetivo bloco. Concordaram e fizemos uns separadores bem catitas com os nossos amigos a debitar conhecimento antes da sua hora. Ricardo Machado, Luis Alves e Francisco Lacerda contribuíram assim para o aconchego especial deste momento. Bigas Luna, infelizmente, não respondeu ao repto deixando-nos pendurados. Falta de respeito daquele espanhol que, certamente, estará a vender caramelos no além.

Por fim veio a resposta do Filipe Melo. “Não gosto de me ver em video. Nem falar. Pode ser um texto?”. Ora essa, aquele jeitosão que toda a genta adora? Como não gosta? “Vá lá Filipe, não custa nada!”. “Népia!”, respondeu. Sem usar a palavra Népia, claro, que é um homem de cultura. E ainda sugeriu “Mando um textinho, pode ser?”. Senti um *gulp* a aparecer-me na garganta na medida em que sabia a resposta à pergunta que ia fazer “E quem vai ler esse texto?”. Filipe finaliza com uma Fatality “Tu!”. “Jesus H. Cristo!”, pensei. “Já me fodeu!”. Acabei por ficar descansado, porque estava quase a chegar o dia e o texto estava esquecido. “Já me safei. Esqueceu-se de mandar o texto. Yey”. Mas no dia 3, na azáfama do festival, vem a Carla Rodrigues encostar-se ao ouvido e diz “Falei agora ao telefone com o Filipe Melo e ele diz que te vai mandar um texto para leres, ok?”. Fiquei um bocado ansioso, estava ali tanta gente, meu deus. Ainda pensei que provavelmente não haveria tempo, havia que seguir com a sessão. *gulp*. Não queremos interferir na cirúrgica calendarização, o Carlos falecia com tanto atraso. Mas a Carla pega no megafone e diz a toda a gente “Hey pessoal, *som de feedback*, o Pedro vai ler o texto do Filipe Melo, Ok?” Ok?”. E ficou assim definido que eu, Pedro, o amigo imaginário de meia internet que tanto preza ficar nas sombras, teria que enfrentar aquela centena e meia de pessoas e ler o texto do Filipe Melo. Colocarei o texto mais abaixo.

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Nalgas Film Festival – Parte 2

A grande novidade do Nalgas Film Festival 2022 foi a inclusão de um grande convidado. Depois de meses de negociação, trocas avultadas de géneros, gado caprino e dinheiro vivo enrolado em elásticos, logística complexa para evitar que a sua multinacional encerrasse ao sábado, o Sr. Joaquim anuiu em comparecer como convidado de honra. À porta, alto e espadaúdo, pimpão, calças vestidas, fazia a recepção cerimonial dizendo aos convidados “bem vindos a casa”. Esta imagem de tamanho real foi criado pela Carla Rodrigues, a mãe do Sr. Joaquim, com as suas maravilhosas mãos de ouro que enaltecem o património das Nalgas. Também ela, a Carlucha, esteve presente no evento com estatuto de Nalga Dourada. Acabou por levar o Sr. Joaquim para casa ao final da noite, deixando o seu namorado, o Pedro, a dormir no sofá. Ninguém pode julgar porque todos nós faríamos o mesmo perante o apelo animal e a atração selvagem que emana hormonalmente pelos poros do Sr. Joaquim.

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Nalgas Film Festival – Parte 1

Eis que a ampulheta Nalgas esgotou a sua areia e o NFF finalmente chegou. Dia de aprumo, botões de punho, sessão de barbeiro, o melhor sebo para aquele especial brilho nas botas, esporas novas. Roupa interior castanha. Ansiedade ao máximo, tick tack motherfuckers, “é hoje caralho é hoje. Solene silêncio no carro a caminho do evento da década. Eu, o Miguel e o Pedro Nora da Rádio Universidade de Coimbra, o Quentin Tarantino Português. Chegada, almoço, uma inundação de calor humano, as caras acolhedoras que me habituei a ver nos últimos anos. Sorrisos sinceros, abraços apertados, matam-se saudades por altura do Natal. O Rui, estrela máxima da rádio pública nacional, o Sérgio e a Susana da Sala Azul, dupla que ilumina qualquer sala, o enciclopédico e eloquente António Araújo, aquele amigo de infância que só encontramos tardiamente na vida, o Carlos, irmão, parceiro de vida em união de facto, a Mónica com o seu sorriso contagiante, qual ninfa de Homero, o Miguel, outro irmão, e o entusiasmo permanente do Nora.

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Kimi (2022)

Continua a grande dificuldade dos argumentistas do cinema moderno se adaptarem a novas tecnologias. A necessidade de manter os conceitos do cinema tradicional, para não alienar a clientela, e associar-lhe toda a parafernália de tecnologias atuais nas suas tramas é a tarefa mais dolorosa para argumentistas. É muito comum estarmos a ver um filme em que se ignoram completamente facetas tecnológicas da vida atual. A escrita foca-se numa linha de fuga muito concreta para evitar distrações. A malta de humanidades, que escreve os filmes, não sabe usar as tecnologias que tem, quanto mais compreender a complexidade mastodôntica que lhes dá forma dentro das paredes, na atmosfera, no espaço, debaixo das cidades, em centros de dados e dos seus domadores que operam nas sombras. Mas isso não os impede de tentar, com resultados mistos. Se o casual utilizador de telemóvel para ver fotos da ex-namorada em bikini no whatsapp consegue engolir as instruções narrativas, o geek de gama média rebola os olhos para cima e sai imediatamente do transe da suspensão da descrença.

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Deadstream (2022)

Há dois artifícios narrativos de que não sou grande fã, o found footage e os esquemas manhosos que agora se vêem em todos os filmes de terror para retirar o telemóvel do filme. Da primeira apenas não gosto do formato, que após alguns filmes se torna repetitivo e os 90 minutos de duração parecem 180. Mesmo com todo o contorcionismo e mortais empranchados que se injetam nesse molde, é uma agonia para chegar ao fim, parece que as almofadas do sofá se vão transformando lentamente em xisto pontiagudo. Em relação ao artefato de remover o telefone da narrativa, é uma incapacidade dos argumentistas de se adaptarem aos tempos. Claro que é muito mais difícil resolver os aborrecimentos de ser perseguido por uma família de mortos vivos abusadores sexuais canibais mutantes quando não temos telemóvel. Mas ainda mais difícil seria se não tivéssemos energia elétrica, automóveis, antibióticos, capacidade de locomoção bípede ou utilização do córtex cerebral primário. Ou que ainda não tivéssemos saído da água e fossemos amibas perseguidas por Mosasauros. Falei sobre isso aqui (Artigo: Telemóvel, o terror dos filmes de terror.).

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The Black Phone (2022)

Andava aí um filme de terror, que apareceu a voar baixinho por debaixo dos radares, a fazer furor nas salas. Sou daquelas pessoas que dá logo dinheiro a um gajo de aspecto drogado para apanhar o autocarro porque perdeu a carteira ou compra toneladas de produtos em esquemas de pirâmide, mas nisto dos filmes fico muito apreensivo. “Quem são estes agora para me convencerem que o filme é bom? Na volta é malta que acha que Inception é uma matrioska de conceitos, ideias ou situações em vez da criação de algo.” E quando finalmente decidi ir vê-lo ao cinema, depois deste processamento todo,  já tinha saído de sala. Há 4 meses. 

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