Por várias gamas de razões nunca entrei a bordo do comboio “The Room”. A comunidade parecia-me sólida e interessante, no entanto nunca se fez o clique. “Oh, vá lá!”, diziam-me, “Tu gostas de filmes maus, adoras obras trash. Anda connosco neste fartote desenfreado de masturbação circular.” E não consegui. Talvez por lhe faltar aquele nível ideal de guerreiros pós-apocalípticos de mota liderados por um mutante deformado ou decapitações a cada 15 minutos. Tinha seios e sexo, mas um sexo inqualificável que pode ser apreciado em família num contexto de sofá pós-almoço de Páscoa.
Tag: biopic
Existem alguns assuntos que são autênticas armadilhas. Há quem prefira despir-se e espancar um ninha de vespas a falar deles. São imensos, mas posso aqui realçar, por exemplo, o conflito israelo-palestiniano ou a vida e morte de Kurt Cobain. Em relação à primeira, não lhe toco nem com um pau de 5 metros, em relação à segunda posso opinar violentamente, uma vez que vivi a época e a situação e estou mais ou menos dentro do espírito da coisa. Ora, Cobain, como todos sabem, era o vocalista dos Nirvana. Musicalmente falando, os Nirvana eram uma banda fraca, desafinada, limitada em termos de técnica musical (ausência total) e que viviam daquilo a que se convencionou chamar de “atitude” ou mesmo “carisma”. Cobain passou de vocalista mediocre e fraquíssimo guitarrista a símbolo da raiva dos jovens pela sociedade e também simbolizava as dores do crescimento e incompreensão. Até aqui tudo bem. Graças a extensos golpes de marketing, a banda passou ao estatuto de porta voz da revolução (inadaptação) dos jovens adultos que desejavam intensamente voltar ao útero. Isso e droga… Muita droga!
Há muito que ando a ponderar ver este filme. Nunca o vi porque o meu preconceito sempre me impediu de o fazer. Um dia destes passou no MovHD e aproveitei para ver. Temos que aproveitar as poucas coisas em HD que existem. E com este filme aprendi uma lição importante: devemos sempre confiar no nosso preconceito. Falemos então deste “Manual de Iniciação para Bazofes”.
Porrada!… Esse submundo dos filmes xunga onde me recuso a aventurar. Uma zona obscura do cinema, onde o conceito narrativo implode e os momentos causados pelo vácuo de composição dramática são subtituídos por lutas de contornos irreais e patetice em geral. Há, aliás, rótulos de shampoo mais ricos em prosa do que alguns filmes do Steven Seagal. É desta lama primordial, composta por murros, pontapés, cabeças rachadas e heróis monocórdicos em estado avançado de mumificação que surge um campeão de karaté convertido em actor. O semi-deus da biqueirada.
Se me pedissem para fazer um biopic de “Dubya” Bush só me vinha à cabeça qualquer coisa com Leslie Nielsen numa sucessão interminável de gags slapstick que, apesar de parecerem exagerados, seriam apenas a retratação exacta das coisas que ele fez nestes anos todos. Mas se me dissessem “Ah, mas é para estrear quando ele ainda é presidente“. Aí ponderaria mais o meu guião e tirava grande parte do ridículo e a vertente anti-cristo que o parece envolver. Sim, porque eu (tal como Oliver Stone) prezo o meu lombo livre de bastonadas. Continue reading
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