Não sou apologista das reviews a curtas metragens porque é um exercício redundante a vários níveis; não é a minha especialidade, a curta é um submundo próprio que a plebe (onde me insiro) pode apreciar mas a cultura é profunda e muito bem caracterizada Ora, desta vez irei abrir uma honrosa excepção para uma película que vi no festival Caminhos do Cinema Português aquando da sua passagem por Coimbra. Uma curta entitulada de A Lei da Gravidade que deambula pelo forte filosofar que tantas vezes nos massaja as têmporas com as eternas dúvidas acerca do cinema português, da sua qualidade, do seu passado e futuro.
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Escrever sobre cinema é uma tarefa muito ingrata e muito perigosa nos dias que correm, acaso ocorra que o escriba sofra de susceptibilidades emocionais ou de alguma classe de bipolaridade que o possa fazer deslizar para o frio vazio da amargura sentimental. Quer-se malta rija, capaz de aguentar os rigores da paneleiragem que vê filmes de smartphone em riste e no final emitem um boçal “Caganda seca” ou o eterno clássico “achei o filme parado”. No entanto, atirar opiniões ao vento acerca de cinefilia não é exclusivo do auto-entitulado crítico de cinema. A paneleiragem com smartphone em riste a ler facebook e a ver filmes também tem direito a opinar. Arriscaria que é tão grave sub-avaliar um filme de smartphone em riste como sobre-avaliar o mesmo filme com camadas de simbologia inexistente e metafísica orwelliana. É uma era chata para o cinema. Os que agora chegaram à maturidade da vida adulta enfrentam esta coisa dos filmes de maneiras diametralmente opostas. Ou vêm pela porrada, os efeitos espectaculares, as cenas de carros, a foda e as explosões-“Ai ó méne ca fixe” ou querem ser aos 22 anos especialistas de todas as áreas da cinefilia em simultâneo, devorando camiões de sugestões de listas de clássicos e assimilando opiniões por simbiose. Serve este sintético parágrafo introdutório, sempre sucinto e conciso, para dizer que tem vindo a faltar à malta do cinema aquele descontraído cinéfilo que se diverte a ver o que gosta, que não se assusta com o que lhe falta ver e que vai involuntariamente criando uma especialização muito própria. Tem vindo a faltar também algum sentido de humor, mas aparentemente hoje em dia chama-se “palhaçada” a essa arte em desuso.
Não costumo contextualizar temporalmente os meus posts para que sejam lidos em qualquer altura sem serem maculados pelas referências a eventos que o tempo entretanto fez esquecer. Seja amanhã, daqui a dois anos ou quando os arqueólogos extraterrestres, daqui a 1600 anos, encontrarem o servidor onde tenho o blog alojado. No entanto hoje vou abrir um excepção e dizer que estamos em pré-época de Oscars, aquela silly season cinéfila onde se enfolam pastelões à categoria de obras primas para que possam servir de veículos de fama a algumas pessoas e depois ser esquecidos em enormes cestos nos hipermercados a 1.49 e ninguém os comprar. Já passei por tantos anos disto que desisti de discutir a futilidade do evento. “És do contra!”, “Não admira que não gostes destes filmes, só vês merda.” e o clássico “A crítica é unânime em eleger (novamente) este como o filme do século.” A minha opinião é que apenas uma pequena percentagem dos filmes têm o seu real valor espelhado nestas festas, que estes eventos são actos de puro marketing que servem apenas para concentrar toda a atenção do mundo nos filmes de meia dúzia de estúdios (como se outras cinematografias não existissem) e sem valor artístico e que os vencedores são manipulados de acordo com uma agenda pré-definida. E assim procuro por me afastar para que não me volte a rebentar a veia que tenho na testa que se irrita cada vez que um paneleiro para aqui vem recitar odes às mentiras que Hollywood lhe enfia no cu. Este ano decidi regressar ao cinema de terror, um gênero do qual me tenho afastado porque sofreu um duro golpe criativo nos anos 2000. Agora parece estar a aparecer uma nova onda de belo cinema de terror independente e é isso que vou investigar. Comecei com Resolution, uma obra de Justin Benson e Aaron Moorhead, autores que anteriormente nos trouxeram obras como… nada. Nada que tenha cá chegado comercialmente, pelo menos.
Faz no próximo dia 24 de Junho 10 anos que escrevi a minha primeira review de um filme sob o nome Cinemaxunga. A origem é simples e linear, sem subjectividades filosóficas ou dilemas existenciais. Estava na minha casinha de solteiro deitado a ver um filme às 4 da manhã quando me virei para os meus colegas de apartamento e disse duas coisas: “Tenho que me levantar às sete e meia para ir trabalhar e ainda aqui estou” e “Este filme é tão horrível, não acham? Estão a borrifar-se? Ai é? A Internet há-de saber disto, amanhã começo um blog e eles vão temer a minha ira, irão querer dar-me milhões para que me cale, irão ameaçar-me de morte com medo da minha voz revolucionária, irão… zzzzz” e voltei a adormecer. E, de facto, no dia seguinte criei mesmo um blog, o que vem provar que aquelas substâncias de que falam tão mal não são prejudiciais como os média mainstream, os governos neo-liberais ou os deuses do povo escaravelho que controla secretamente o planeta nos fazem acreditar. Não era o meu primeiro blog, era apenas mais uma tentativa de escrita numa interminável série de falhanços totais. Ignorei a imensa lista de afazeres que tinha pela frente no meu trabalho e comecei a escrever. Destilei um pouquinho de ódio e o efeito não foi tão poderoso como imaginei nas minhas fantasias de Spider Jerusalem. Publiquei e fui à minha vida.
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