São várias as ocasiões em que sou violentamente molestado por jovens cinéfilos de sangue quente que tendem a levar os pequenos prazeres da vida muito a peito. Normalmente porque falo mal de um filme em que pensaram ver a cura de todas as suas moléstias emocionais ou simplesmente gostaram do artista que mata o mau. Ora, quando o pessoal diz à boca cheia que sou um calhau com elevados sintomas de acefalose, incapaz de interpretar conceitos abstratos ou que “era vir um comboio em contra-mão e levar-te”, eu só tenho a dizer que provavelmente têm razão. No entanto, como aqueles que por aqui passam sem ser para ver os artigos que envolvem porno sabem, eu não sou um crítico de cinema. Sou apenas um gajo que aqui se senta ocasionalmente para escrever sobre filmes. Longe de mim almejar tão nobre ocupação. Um plebeu de gama de entrada não pode fazer parte da Schutzstaffel da cinefilia. O que define um crítico de cinema? Que capacidades terá esse guerreiro da luz de possuir para que as suas palavras não sejam meramente um escoar de verborreia indecifrável rumo ao esquecimento?
Tag: Ricky Gervais
Mentira, o conceito que sustenta os pilares das sociedades desde o nascer dos tempos, o conceito que permite que a frágil estrutura de moralidade e bons costumes não desabe sobre si mesma, engolindo para sempre o mundo na noite eterna da miséria humana. Quem não tem nada a esconder ou diz não saber mentir é, só por si, um mentiroso profissional. Mas como seria um mundo sem mentira, um mundo onde a honestidade é a standard cruel sob a qual as pessoas carregam o seu enfadonho quotidiano? Um mundo sem imaginação, sem ficção e sem a mais pálida centelha de engenho? Ricky Gervais disfarça a sua obra multidimensional de comédia romântica, tão querida pelo grande público, o mesmo tempo que enraba todos os valores morais, políticos e religiosos da civilização ocidental no mesmo processo.
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