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Le code a changé (2009)

Hoje falamos de cinema francês. Não daqueles antigos filmes francófonos, das gajas de mamas pequenas em tronco nu, no Louvre de cigarro na mão, a recitar Baudelaire e a fazer mamadas. Hoje falamos num daqueles filmes franceses que são um misto de comédia de situação com drama existencial, que vive de uma aparente promiscuidade e no final parece acabar em lição de moral, mas uma cena extra transforma a mensagem na mais aterradora badalhoquice. Estão a perceber? Claro que não. Afinal quem é que lê críticas de filmes franceses?

O cinema francês tem dificuldade em penetrar no mercado nacional. Mais por culpa do preconceito, porque as pessoas acham “estranho” ver um filme que não seja falado em inglês. Ou melhor ainda, acham estranho um filme que não seja falado em inglês de sotaque americano. É comum alguém dizer que não vê filmes franceses porque não aguenta ouvir a língua. Mas filmes de sucesso como Amélie ou a afamada festa do cinema francês, que tem a sua 11ª edição à porta, vieram ajudar à reputação da cinematografia destes repelentes de ciganos. Mas isto não quer necessariamente dizer que haja mais gente a ver cinema francês, há apenas menos gente a dizer que detesta porque começa a parecer mal e inculto.

Le Code à Change é a história de um jantar no apartamento de um casal, com um grupo de pessoas que não se conhece entre si, apenas os anfitriões são amigos comuns. Escusado será dizer que todos os casais e pessoas sem par sofrem de uma ou outra perturbação emocional mascarada socialmente, como na vida real, diga-se em abono da verdade. A meio do filme temos um flashforward de um ano onde a realidade daquela gente parece ter sido radicalmente alterada pelos eventos daquele jantar. De volta ao jantar tudo será explicado. Nenhuma gaja mostra as mamas e mas mamadas são todas offscreen.

Ambiente tipicamente francês, que feitas as devidas traduções culturais acaba por ser mais ou menos como o nosso, tirando o excesso de queijo e as decorações à Luis XIV, é um filme leve sem grandes ambições culturais, mas que se vê bem como substituto de “comédia romântica” americana. O objectivo poderá ser o mesmo, mas aqui temos mais densidade, mais narrativas paralelas e artifícios narrativos não-lineares, o que a torna diferente dos comuns filmes de gaja.

Não é uma obra prima, mas também não me matou. Vi acompanhado com a minha esposa o que acaba por alterar a percepção da experiência de ver um filme. Se estivesse sozinho teria parado aos 3 minutos e teria colocado qualquer coisa com cabeças decepadas na cena inicial ou ficção científica dos anos 60. O mais provável seria mesmo porno…

1 Comment

  1. N.K.

    “isto não quer necessariamente dizer que haja mais gente a ver cinema francês, há apenas menos gente a dizer que detesta porque começa a parecer mal e inculto”

    um bem-haja a tanta lucidez junta.

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