Cronenberg, esse icon bizarro do cinema pós-moderno! Ao lado de Lynch, Takashi Miike ou mesmo Darren Aronofsky, sempre foi inovando ao mesmo tempo que manteve o estilo. Os seus filmes aparentemente diferentes uns dos outros incorporam temáticas e elementos que lhe dão o carimbo (vermelho) de Cronenberg. O sexo bizarro, a violência e carnificina, a carne humana e a sua metamorfose, o desejo tresloucado. Todas estas coisas são as delicias dos amantes do seu cinema, onde me incluo, não fazendo disso um facto muito público.
A minha primeira experiência (no cinema) de Cronenberg foi Naked Lunch. Sairam mais de metade das pessoas. Novamente em Crash (versão não censurada) sairam uns bons 80% da plateia, entre os quais a minha namorada da altura. As coisas azedaram a partir desse . “Gostaste daquela merda, seu tarado sexual”. Como vêm já passei muitas agruras à custa deste senhor.
Desta feita, Cronenberg brinda-nos com um filme aparentemente simples que nos surpreende recorrentemente a cada… diria a cada 15 minutos… Se alguém começar a ver apenas a partir dos 5 minutos de filme poderá pensar que Cronenberg decidiu dar uma de “Straight Story” à laia de Lynch, mas o problema é que essa cena inicial diz-nos logo o que nos espera, um história de ultra-violência nos dominios do real ao estilo de “podia acontecer-te a ti“. O filme tem uma característica particular, que é o facto de ter uma narrativa pouco comum, que nos coloca permanentemente um ponto de interrogação na cabeça acerca do rumo que tudo irá levar.
E meus amigos, quando eu uso o termo “violencia”, não o faço de ânimo leve, uma vez que é dureza extrema naquilo que se convencionou chamar “cinema comercial”. Cronenberg mostra-nos todos os sádicos e gráficos pormenores da acção, recorrendo para isso a bastande sangue, tripas, pedaços de osso e carne arrancada à força de balázio de grande calibre. O sexo, como sempre, é duríssimo…
Os actores estão todos ao nível máximo daquilo que se pode exigir de um bom actor. Performances exemplares de Viggo Mortensen, Maria Bello, William Hurt e Ed Harris. Nenhum desilude e todos incorporam aquelas características tipicamente humanas do dia-a-dia que nos faz acreditar. A identificação é também um factor importante, uma vez que sendo tão real, tendemos a imaginar o que faríamos nessa situação e descartando por todos os protocolos sociais e de boas maneiras, optamos sempre por violência. Claro que isso nos induz num estado ligeiro de culpa, uma vez que não é bom matar assim pessoas em barda como se fossemos um membro da extinta guarda republicana de Saddam.
Publicada originalmente em 2005. Original aqui.
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