É um facto bem sabido que os produtores da infindável saga X-Men mandaram às urtigas as definições das BDs em prol de uma contínua festarola de explosões, efeitos especiais e cenas aleatórias de palermice. Mas por muito idiota e fútil que seja este filme, temos que lhe louvar uma proeza: finalmente alguém percebeu que os fatos de latex e borracha negra das BDs não ficam bem no grande ecran. Aquilo que nos livros transforma um homem num super-herói, no grande ecran transforma um homem num escravo sexual especializado em sado-masoquismo, que de dia trabalha nas finanças de Évora e à noite gosta de apanhar umas chibatadas nos tomates com um dildo African King alojado no pacote.
Certamente que ninguém com experiência em cinema de Verão esperava grande coisa deste filme. Depois da fasquia ter sido elevada com Watchmen, estes filmes começam a parecer umas deslavadas desculpas para mostrar efeitos especiais e inovações tecnológicas ao nível do CGI cinematográfico. Mas tudo isto sacrificando a lógica e coerência de uma boa história.
Eu não conheço a fundo todos estes heróis da Marvel nem os atribulados enlaços que há mais de 40 anos têm vindo a encher chouriços. Morre, vive, ressuscita, é bom, é mau, muda de fato, agora são dois (um bom e um mau), realidades paralelas, etc. Não tenho paciência. Mas do que leio da Marvel nada me prepara para a unidimensionalidade dos personagens das adaptações cinematográficas.
X-Men Origins: Wolverine é uma simples história de traição e vingança como existem milhares. Simples, linear, sem níveis de cinzento. Bons e maus, preto e branco. Antes que se possa construir um personagem ou uma situação, uma explosão, porrada ou algum artifício digitech interrompe tudo. Não há um momento que nos crie a necessária empatia com os personagens para que tenhamos qualquer tipo de emoção no que diz respeito aos seus destinos. Falta-lhe sangue, suor e tripas…
É uma absoluta perda de tempo e recursos. Se bem que melhor que os anteriores, continua a ser daqueles filmes em que o guião foi escrito numa caixa de fósforos ou num quadradinho de papel higiénico. Salvam-se os créditos iniciais que, não passando de um exercício de típico design MTV, têm algum interesse.
Os x-men estavam no limiar do suportável e eu até pensei que poderiam fazer qualquer coisa de jeito com isto. Não foi esse o caso e quem as pagou (o bilhete) fui eu. Com tanto cliché retalhado dei por mim a ter pena do hugh jackman e do liev schreiber, que aceitaram entrar no filme.