No apogeu do VHS, todos tínhamos que nos inscrever nos clubes de vídeo para ver qualquer coisa nos nossos magnetoscópios novinhos em folha. Era preciso pagar jóia e não era barata. Vivia-se o tempo dos clubes de vídeo de cassete pirata (que funcionavam às claras), o tempo da secção Beta (tribo que degenerou no clã dos Macintosh) e do tempo em que houve regozijo nacional quando a RTP passou o primeiro Rambo. As cassetes de vídeo tinham um cheiro especial e eram caras. BASF e TDK eram marcas apenas acessíveis a bolsas mais abonadas. Tempos mágicos. Todos tínhamos um mapa mental da disposição das prateleiras. Um dos títulos que se alugavam primeiro era Mad Max 1 (porque havia o 2, que era para alugar no próximo fim de semana). O tempo de filmes de ultra-violência pós apocalíptica, em que a fraca qualidade passava incólume. Que diabos, se alugávamos Gente Gira e Deuses Devem Estar Loucos, porque não alugar Salteadores de Atlantis ou A Batalha do Bronx? E já agora, levar mais uma vez uma cópia de She, A Raínha da Guerra e do Amor e Desaparecido em Combate 2.
Mad Max era a jóia da coroa. Na altura todos preferiam o 2 porque era mais carnificina. No entanto havia algo que ninguém reparava, Mad Max falava inglês americano e não o castiço inglês australiano. Na altura a malta nem sabia ver (ouvir?) a diferença. Mas recentemente tive oportunidade de rever Mad Max em todo o seu explendor: DVD, directors cut e com a versão audio original. Desta vez vi com prazer redobrado. Ao contrário daquelas banhadas que revemos agora e nos deixam um amargo na boca de desilusão (Buck Rogers, V, Galactica, A-Team), Mad Max revela-se um pérola incompreendida na altura. Grande fotografia, acção que aguenta o passar dos anos, uma boa dose de loucura, humor apropriado e cinematografia bem acima do normal do género e da época.
Mad Max foi realizado por George Miller, que mais tarde nos traria mais duas sequelas (e em 2012 outra) e outros filmes como o incompreendido Bruxas de Eastwick ou o irreverente Babe. Quem o rever irá ter uma surpresa, garanto. É um bom filme. Na minha memória distorcida, tinha Mad Max como um nonstop de porrada e explosões. Na revisão que fiz, pude comprovar que nada disso se aplica, sendo que a carnificina só tem lugar para o fim. É cruel sem ser politicamente correcto, não poupa cães nem criancinhas. Foi um bom momento de nostalgia.
Mas nem tudo são rosas. Em primeiro lugar não curto motards, é uma onda um bocado maricas, mas pronto, cada um sabe de si. Os vilões de Mad Max poderiam ser pior. São um pouco como Zed, da academia de polícia. Dotados de uma insanidade irreal e patética. Vale tudo para parecer louco, mesmo o ridículo. Aqui, quanto a mim está o pior do filme.
Bela fotografia aproveitando os wastelands australianos, bom uso de câmaras para capturar o movimento, não cai em lamechices, duro… Podemos ver Mel Gibson antes de se tornar num fundamentalista Mormone (ou lá o que ele é agora) e sem barba.
As k7 BASF eram realmente um luxo, mas tinham uma qualidade puta madre. Lembro-me perfeitamente de gravar em SP no meu philips e de ficar maravilhado com a imagem que ficava gravada na fita. Bons tempos mesmo.
sempre usei K7’s da loja dos marroquinos… os 2vídeos que tinha na altura eram uma porcaria e já os filmes que gravava do clube de vídeo também era do mais rasco que podia haver, a imagem cheia de chuva e som abafado…
Posso já ter chegado no final dessa época, mas realmente foram bons tempos
hoje em dia já mal se encontram clubes de vídeo como antigamente
Deus abençoe o Full HD!
Também prefiro a sequela, mas este é sem dúvida o grande “crássico”! Tenho de rever outro a que te referes no texto, “A Batalha do Bronx”.
E quando iamos ao Clube de Vídeo alugar um filme de porrada a sério e outro de porrada na cona? isso é que era bem jogado…
Grande filme! Tal como toda a gente este era uma das minhas primeiras escolhas quando tocava em ir ao videoclube. Que saudades dos filmes de Mel Gibson deste tempo e também um pouco posteriores a este.
Então e o Missing in Action? Não me digas que não viste o Chuck Norris centenas de vezes? No auge do VHS, o que eu gostava mesmo era dos filmes pós-holocausto nuclear, tipo “The Day After”. Uma vez vi um chamava-se “nível zero” (titulo português) que eram uns gajos na lua ou lá que merda era, enquanto a Terra estava a ser devastada pelo Inverno atómico. Ainda tenho pesadelos com isso….