Desde 24 de Junho de 2003

Top 10 Cinema Low-Budget e Ultra Low-Budget

Inspirado que fui por um email do Dermot, trago-vos a minha lista de filmes de baixo orçamento. Incompleta, como todas as listas que se prezem, mas honesta. São 10 filmes que souberam gerir a ausência de capital para ainda assim criarem obras de relevo.  Alguns nem de limões precisam para fazer limonada. Às vezes tão simples como ser astuto na escrita ou manusear a câmara de maneira pouco ortodoxa, outras vezes usar a cozinha da mamã para criar efeitos especiais de qualidade surpreendente. E sem mais demoras, vamos para o número 10.

10 – Eraserhead (1976) – David Lynch

Filmado a preto e branco, minimalista e sob uma desconfortável e constante banda sonora industrial, é uma verdadeira orgia de surrealismo. David Lynch fez a festa com meia dúzia de tostões e os cinéfilos mundiais à procura de novas sensações e conceitos adoraram. Vi este filme em Coimbra, no tempo das salas de cinema majestosas acompanhado por 7 pessoas que no final do filme eram só 3. Foi a primeira vez que vi um homem assumir a paternidade de um frango assado. E talvez tenha sido também a última.

09 – Mad Max (1979) – George Miller

Um filme australiano intemporal e super-clássico, com um Mel Gibson diferente daquele que nos viola as TVs todas as tardes de sábado e domingo com filmes de humedecer vaginas a cinquentonas. Antes de Mel Gibson andar por aí bêbedo a distribuir bofetada a tudo o que é judeu. Antes de Mel Gibson ter sequer barba. Com um sotaque tão denso que teve que ser dobrado para estrear nos States. Baixo orçamento, grande força de vontade. Delicioso.

08 – El Mariachi (1992) – Robert Rodriguez

Pistolas de água pintadas, personagens criados na hora por transeuntes colaboradores e a cabeça fervilhante de Robert Rodriguez serviram para criar o primeiro blockbuster feito com menos de 10.000 dólares da História do cinema, usados na sua quase totalidade em filme 16mm. Semi-blockbuster, vá! O certo é que El Mariachi é um filme de acção de referência, que vem reforçar a teoria de que muito fogo de artifício só vem adicionar distracção e ruído num bom filme.

07 – Ninja das Caldas (2002) – Hugo Guerra

O sucesso de um filme só pode ser medido de uma maneira: a relação entre aquilo que se pretende e aquilo que se alcança. Sendo assim, Ninja das Caldas é um absoluto vencedor. Divertimento  contagiante de amigos que se distraem a fazer umas filmagens com uma câmara VHS (ou similar), uma versão (talvez pirata) do Adobe Premiere e uma cópia do Rave Ejay. Mais do que low budget, este é um filme “No Budget”. A arte está na maneira como os criadores do imortal Ninja das Caldas conseguiram transformar a orientação do filme com um imenso sentido de humor. Uma solução airosa e divertida para cada contrariedade de produção. Um marco do cinema das Caldas da Raínha, que a partir de 2002 se tornou a terra dos caralhos de barro e dos ninjas.

06 – Los cronocrímenes (2007) – Nacho Vigalondo

Parafraseando-me a mim próprio: “Os cenários são simples, uma casa de campo e umas instalações secundárias, luz natural. Paisagens naturais, um argumento genial e a capacidade de criar um colosso a partir do quase zero absoluto.”

05 – PI (1998) – Darren Aronofsky

Darren Aronofsky cria uma inquietante viagem à mente de um cientista que acredita ter descoberto uma formula que lhe permite decifrar padrões da realidade e antever o futuro, a ténue diferença entre o génio e o louco (e um berbequim). Preto e branco fortemente granulado. Mais uma vez com o orçamento a ir direitinho na sua quase totalidade para filme e revelação. A alimentação da equipa foi fornecida pela Sra. Aronofsky, mamã galinha do realizador.

04 – Last of the Living (2008) – Logan McMillan

Parafraseando-me novamente a mim próprio: “21 anos depois de Bad Taste de Peter Jackson, eis que nos chega mais uma pérola do cinema de terror neozelandês ultra-low budget. Com um orçamento de 5 dígitos apenas, Last of the Living compensa em sentido de humor e frescura o que lhe falta em meios. E voilá, estamos perante uma nova estirpe de filme de zombies, o filme “quase sem zombies”.”

03 – The Evil Dead (1981) – Sam Raimi

Um fim de semana na floresta acaba em horrenda carnificina sob a batuta de Sam Raimi. Bruce Campbell é apresentado ao mundo na pele do mais improvável herói da história do celulóide: Ash! Um engenhoso trabalho de câmara e um uso cuidado da estética fez deste filme um clássico intemporal que muitas vezes revejo em ataques de nostalgia. E quem diz Evil Dead 1 diz Evil Dead 2 que é um misto de remake com sequela mantendo-se bastante contido no orçamento.

02 – Bad Taste (1987)  – Peter Jackson

A primeira webpage que fiz foi para um projecto de curso. Do tempo em que fazer uma webpage era como construir um motor de propulsão capaz de escapar à gravidade da Terra. Entre outras coisas, essa webpage prestava homenagem a três filmes de Peter Jackson que ainda hoje venero quase religiosamente: Bad Taste, Meet the Feebles e Braindead. A indústria viu mérito neste genial artesão do celulóide, um mago a gerir orçamentos, e passou-lhe para as mãos a responsabilidade do maior projecto alguma vez feito até à altura, Lord Of The Rings. (que é uma granda seca, diga-se de passagem…)

01 – Clerks. (1994) – Kevin Smith

Clerks não é apenas o meu filme low budget preferido, é também um dos meus filmes preferidos. Kevin Smith inicia assim a sua carreira com aquele que é o seu melhor filme. Clerks fala-nos de dois jovens enfiados em McEmpregos que divagam todo o santo dia de uma parafernália de assuntos filosóficos, desde a cultura pop (Star Wars com fartura), vida e morte até ao sexo oral e definição de infidelidade conjugal. Filmado quase inteiramente num quiosque de um amigo, Clerks é um filme fortemente baseado em diálogos. Pela primeira vez temos o orgulho de conhecer Jay and Silent Bob, esses mestres da pop culture stoner. O argumento deste filme é também leitura obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze. Voltarei a ele um dia destes.

NOTA: Este texto foi escrito originalmente por mim para o blog Royale With Cheese do Dermot.

3 Comments

  1. ArmPauloFerreira

    Ena pá!

    Afinal não sou só eu que idolatro o Ninja das Caldas… que estreou… na SIC radical, quando ainda era um bom canal!
    O Ninja das caldas e o Bals e Bolinhos (1 e 2) são mesmo do melhor. Tão maus, tão maus, tão maus… que são mesmo bons!

  2. bruno

    Sou fã de praticamente todos os filmes dessa lista… mas o Ninja das Caldas acho que é xunga demais =\
    Tem piada ver mas levaram aquilo muito na brincadeira

  3. andreia mandim

    Genial.E o facto de os ter visto a quase todos ainda me faz “gostar” mais.

    cumprimentos,
    cinemaschallenge.blogspot.com

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