Existe uma fase das nossas vidas em que, definitivamente, High Fidelity é o filme preferido. Aquela fase em que jogamos as últimas cartadas no jogo da sedução, quando queremos acumular o record do mundo da poligamia ao mesmo tempo em que nos queixamos que não encontramos o verdadeiro amor. É um fase de depressão moderada, curada à custa de coito ininterrupto, drogas leves e o ocasional coma alcoólico. Não percebemos o que realmente queremos e estragamos tudo com o típico egoísmo pré-trintão. E é aqui que entra High Fidelity, o manual de instruções para o jovem e celibatário trintão, o caminho para a bonanza depois da tempestade. Um filme do tempo em que oferecer um CD gravado com capa a cores contava como prenda a sério.
High Fidelity é uma adaptação muito bem conseguida de Stephen Frears do fabuloso livro de Nick Hornby. São dois os universos que se cruzam nesta narrativa. O supracitado estado libidinoso de “queimar os últimos cartuchos no âmbito da poligamia” e o amor mais puro e dedicado à música, vertente indie e vinil. Aquele tipo de paixão que perdeu imensos seguidores na passagem para o novo milénio. John Cusack é fantástico no papel de Rob Gordon, o dono de uma loja de discos (à moda antiga) que caracteriza todos os eventos da sua vida sob a forma de top 5 relacionados com música. Todas as figuras de estilo rodam em volta de música e é esta homenagem que fica, muito depois de nos termos esquecido da trama central do filme, como é natural no processo de envelhecimento que o nosso cérebro vai sofrendo.
Como sidekick temos Jack Black, dos tempos em que tinha piada e era realmente gordo e não apenas anafado como hoje em dia. O verdadeiro geek musical em todo o seu esplendor, como todos aqueles que conhecemos no liceu e na faculdade.
É este universo musical que impulsiona o filme que lhe confere este estatuto de “filme de culto” ou “clássico”, como quiserem chamar. Como disse anteriormente, já o considerei um poderoso filme com o qual me identifiquei, mas hoje em dia as minhas preocupações são outras e uma visualização recente apenas me fez sentir nostalgia pelo vinil, pela melomania e pela energia que também eu despendia a amar e engrandecer a minha colecção de discos, primeiro vinil e depois CDs. Ainda assim continua um filme respeitável que merece o nosso apreço e devoção moderada. Porém nada de histerismos que somos todos respeitáveis membros da sociedade.
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Ao melhor estilo do Rob Gordon, este está definitivamente no meu “Top 5 de filmes que vão comigo no caixão”, sendo os outros, o Citizen Kane, Aliens, Cinema Paraíso e SuperVixens, do grande Russ Meyer. Caixão sem umas tetas jeitosa, não é caixão para mim!
Um dos filmes da minha vida… aquele final quando entra o Stevie Wonder a cantar o When I Fall In Love It Will Be Forever… é de comer e chorar por mais!
O twist com a banda do Jack Black a cantar algo completamente inesperado também está fantástico! Muito bom mesmo!
Confesso que nunca gostei tanto deste filme como acho que deveria, quer por ter o John Cusack, quer pelo argumento, quer por ter música porreira. Sempre houve alguma coisa que “ah pronto e tal, é giro mas não bate”. No género sem ser do género gostei mais do Grosse Point Blanck e o Hot tub time machine. O Grosse Point Blank, que vi num cinema deserto com mais outro marmanjo umas filas à frente (e eu já gosto de me sentar bem à frente para comer com a imagem) tem a melhor declaração de amor que já ouvi ao som de tiros. Magnifico 😀