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Videodrome (1983)

Não há dia que passe sem um iluminado nas ciências do comportamento vá a um noticiário da TV dizer que a Internet nos está a roubar o cérebro. Que a quantidade de entretenimento e tecnologia que nos obriga a constante multitasking nos está roubar a imaginação e capacidade de raciocínio. Se isso é verdade não sei, porque costumo estar a enviar um sms, a ler o rodapé do telejornal, a colocar “likes” nas fotos dos meus amigos, a tirar fotografias pela janela da minha vizinha em cuecas e a aprender uma língua estrangeira na PSP enquanto esses senhores falam.  Normalmente saco depois o podcast para armazenar no disco e nunca mais ouvir. Videodrome avisou-me que isto ia acontecer mas eu não quis acreditar. Hoje em dia quanto mais CGI porn vejo nos blockbusters actuais, mais idolatro Videodrome. Mais do que um filme visionário acerca dos malefícios da multimédia para o nosso livre arbítrio, Videodrome é uma obra prima que marca o início do reinado da “nova carne” de Cronenberg.

Videodrome é um marco importante na carreira de Cronenberg. Até este ponto era um realizador vulgar de filmes de terror. Filmes que tinham alguns pozinhos de identidade, mas nada de excepcional. Ainda assim Scanners é um bom filme e a cena da cabeça a explodir será para sempre um icon (animado) da sétima arte. Videodrome é o início da nova carne, onde Cronenberg começa a experimentar na área da fusão homem, máquina, coisa indescritível, que teve o seu pináculo em The Fly.

James Woods é o gerente de um canal obscuro de TV Cabo especializado em video choque. Sexo bizarro, morte, destruição, esse tipo de coisas associadas ao lado obscuro do entretenimento.  Certo dia um dos seus técnicos descobre uma emissão pirata de satélite de um programa chamado Videodrome, que consiste em tortura e morte sempre na mesma sala. Ao tentar saber mais sobre Videodrome, Woods é aconselhado por todos a largar esta obsessão sob o risco de ver a vida a andar para trás. Mas Woods insiste e a certa altura é impossível distinguir o que é verdade do que é imaginário. Ou será que é o inverso? Ou será que é tudo verdade?

Passados quase 30 anos Videodrome continua com o mesmo efeito de murro no estômago que teve na sua estreia e, curiosamente, faz mais sentido nos dias que correm do que na altura em que foi lançado, no pico dos canais experimentalistas e multiplicação exponencial dos canais do cabo. Com a Internet e os sites de video, as tendências, os memes, as tribos virtuais, tudo faz mais sentido, tudo encaixa. E isto, meus amigos, é genialidade, é a marca de um visionário. Death to Videodrome! Long live The New flesh!

5 Comments

  1. Dezito (André Sousa)

    Que filme este ! É o meu Cronenberg favorito.

  2. João Lameira

    O “Scanners”, mesmo não sendo ainda da “nova carne”, não deixa de ser fabuloso. Mas, sim, o “Videodrome” é outra coisa.

  3. Loot

    É isso mesmo Grande Cronemberg.

    Adoro o Videodrome que é, independentemente das qualidades, superior ao Scanners, apesar de este ter talvez a cena mais clássica da sua filmografia, a já mencionada cabeça a explodir.

    Sem dúvida um um dos melhores do realizador.

  4. jay toso

    há uns 4 ou 5 anos foi o dvd desse, do shaun of the dead e do the thing do carpenter por 5€ cada um na fnac.
    desde esse dia, tem sido sempre a descarrilar.

  5. joão d.

    filme do caralho. também o comprei a 5 euros na fnac, mas a primeira vez que o vi até foi em aula. cena bruta.

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