Sofia Coppola, songa-monga. Com a simpatia de um bloco de basalto e um semblante equídeo cuja estrutura rinoplástica permite pendurar confortavelmente duas gabardines e uma samarra alentejana, Sofia é a filha mimada de Francis Ford Coppola que tenta sacar gabarito à conta de créditos hereditários e que desde finais do século passado tenta fazer passar os seus filmes por clássicos intemporais com a ajuda da máquina publicitária do papá. Mas como até um relógio parado pode estar certo duas vezes por dia, havia de chegar o filme que fosse decente. Somewhere, uma bela crónica voyeristica do mundo do showbusiness visto por dentro.
Nunca simpatizei com Sofia Copolla. No final dos anos 90 criou-se um gigantesco hype em volta de uma primeira obra supostamente genial da enfant terrible do enfant terrible Francis Ford Copolla. Foram seis meses de pressão mediática muito devido à banda sonora entretanto lançada, a genial OST dos Air para Virgin Suicides. O falhanço em achar esta obra interessante deveu-se à elevada expectativa. Fosse visto por acaso sem nenhum precedente mercantil e até o poderia achar interessante. Mas não, a tragédia das irmãs Lisbon não me tocou minimamente e a única exclamação que proferi foi quando me apercebi de quão gorda e envelhecida estava Kathleen Turner.
2003 trouxe a aclamação do público com Lost in Translation, mas voltei a não achar piada nenhuma. Demasiado hypster para o meu gosto. Amores perdidos, ilusões destruídas, daddy issues e uma infindável melancolia afastou-me do núcleo emocional do filme. E o mesmo aconteceu com Maria Antoinette. Não consegui sentir a empatia necessária para poder acompanhar sem dor o filme até ao fim.
Mas Somewhere é um excelente filme, digamos que é um remake de Marie Antoinette com referências suficientes para que nos fazer identificar. A vida de uma estrela em ascenção vista na primeira pessoa. Imensos períodos de tédio e vazio. Uma busca constante pelo prazer, seja por sexo, drogas, álcool, velocidade ou outros produtores de endorfinas. Para perceber no final onde está a verdadeira felicidade e compreender como se pode perder tão facilmente. É uma visão fascinante, cheia de episódios curiosos e filmada de um modo bem característico que consegue fazer passar todas estas sensações sem necessidade de diálogo. Uma tarefa apenas possível para quem conhece tão bem este mundo por dentro e tem a capacidade para criar uma camada de abstração suficiente para o documentar sobriamente em película. Uma bela performance dos actores, que assentaram grande parte dos seus diálogos em exercícios de improviso, que vem dar aquele colorido extra.
Só espero não ter que agoniar por mais 3 filmes agoniantes para ter outro bom filme de Sofia Coppola. De notar que apesar de todo o hyper que precedeu este filme, prémios e polémicas incluídas, o filme acabou por passar bem despercebido no nosso país.
Até estava com medo do que irias dizer deste Somewhere, que eu tanto gostei.
Ao contrário de ti, eu adoro tanto o Virgens Suicidas como o Lost in Translation (este ultimo é um dos meus filmes favoritos, de sempre!) e acho que sao realmente obras geniais e que merecem todo o hype e aclamação que tiveram ou poderiam ter tido. Já o Marie Antoinette é que foi um completo falhanço. Nao um filme horrivel, mas nao é praticamente “nada” quando comparado aos restantes filmes da realizadora. Na minha opiniao.
ah e claro, a minha opiniao já agora:
http://shinetolife.blogspot.com/2011/03/somewhere.html
*prostituiçao intelectual*
Não podia discordar mais. Somewhere é um filme de 10 milhões de dólares que pretende retratar a angústia/solidão ou até se quiserem o drama de alguém que parece ter tudo. O filme explora o espectador na medida em que sabe perfeitamente que o espectador (homem) queria ser aquela pessoa, em ideia: jovem, bonito, rico, célebre, bastando-lhe estalar dois dedos para ter 3 vaginas do melhor gabarito diante do seu nariz. E, no entanto… sofre.
A ideia em si é redundante e perversa. Perversa porque a empatia que suscita vem de um desejo estúpido (ter a vida daquele gajo) e sobretudo perversa porque durante 2 horas (ou lá o que foi) estive a ver os drama de merda que 0.0003% da população mundial sofre. Quão imbecil é isso?
Detestei o filme porque cultiva a celebridade. Pretende mostá-la negra, mas sempre cheia de glamour. Uma espécie de glamour disfarçado. C’a nojo.
eu achei este filme um pedaço de merda seco. se calhar ainda não evoluí o suficiente em termos cinematográficos para gostar disto…
Não tem nada a ver com evolução. Ou se gosta ou não se gosta e ninguém tem nada a ver com isso. Aliás, depende de tantos factores. Há filmes que odiei e depois revi e gostei, há filmes que adorei e depois percebi que tinha sido enganado.
O que fizeste ao Pedro? Quem és tu?
:'( Isto é muito mau, pá
Nao me parece de facto que seja uma questão de “evolução de gosto cinematografico” que leve alguem a gostar ou nao de um filme como Somewhere. Acho sinceramente que se trata mais de uma questão de sensibilidade. Isso sim, é crucial, a meu ver.
Aquela sensibilidade (ou falta dela) que impede certas pessoas de distinguirem um filme que é tao mau ao ponto de se tornar bom, de um filme que é simplesmente mau. Da mesma forma que muitas pessoas nao conseguem diferenciar um filme que é mau por ser uma seca, de um filme que consegue ser muito cativante apesar do seu ritmo/apresentaçao lento.
No caso da falta de sensibilidade (que tambem se cultiva), nao vale de maneira nenhuma tentar debater ou explicar o porquê de algo ser bom a alguem que acha que é mau. É um constante bater na parede argumentativo.
É o que eu acho, apesar de poder parecer arrogante =/
Também não a considero tão brilhante como a querem fazer crer mas gostei muito do filme “Virgens Suícidas”. O restante curriculo é um borefest, tirando Marie Antoinette vá, esse é mesmo mau.
Se escreveste mal da Sofia, não sei, ignorei o que li.
Somewhere – é deliciosamente precioso.
Gosto muito de Somewhere. Concordo plenamente sobre essas observações. Virgens Suicidas me pedou de surpresa e, na verdade, acho que não dei a devida atenção. Gosto de Lost in Translation e, na verdade, acho que a diretora já cultiva um certo cinema de autor. Todos os seus filmes, sem exceção circulam sobre o mesmo tema, com o mesmo “sentimento”. Somewhere talvez atinja mais a todos por ser mais “pop” num contexto hollywoodiano. Concordo um pouco com o que falam sobre Marie Antoniette, mas se formos espremer todos os filmes, a essência se mantém a mesma. Gostei daqui. 🙂