Ver o Escape From LA logo a seguir ao Escape From New York é como enfiar a cabeça dentro de uma máquina de lavar roupa cheia de pedras da calçada (em centrifugação) depois de beber duas garrafas de Whiskey espanhol e com uma ratoeira apertada em cada testículo, calçando apenas um par de galochas e com o torso barrado em Tulicreme Avelã. E tudo isto com a TV com o som no máximo a passar Buck Rogers dobrado em alemão com dificuldades de recepção enquanto uma criatura de luz chamada Chernobog da Anunciação me tenta impingir uma assinatura de dois anos da revista oficial da Associação Belga de Bombardino, Melofone e Tuba que ainda inclui como suplemento a livro “Tango, que futuro?”.
As fugas de Snake são separadas por um período de 15 anos. Como todos tão bem sabemos, o futuro no cinema é sempre uma projecção dos medos do presente. Em 1981 Nova Iorque vivia uma época difícil de violência provocada por gangs e tudo parecia não ter solução. Escape From New York é um espelho desses anseios, uma cidade isolado do planeta por falta de solução e entregue aos mais perversos gangs, ultra-violência imaginativa e a toda a lógica flamboyant associada ao pós-apocaliptico dos anos 80. Tudo isto com uns pozinhos de guerra fria para refrear os ânimos.
Passam 15 anos, tanto na vida real como no universo paralelo onde se desenrolam os filmes. O ano é 2013 e Los Angeles está separada dos resto do país devido a um tremor de terra, o Big One. E assim é aproveitada para exilar todos os cidadãos de uns EUA distópicos que não se coadunam com os seus códigos morais e, principalmente, religiosos. Mais uma vez a crítica é forte. Uma crítica ao Neo-liberalismo que assenta toda a sua estratégia de world domination em morais religiosos e também forte crítica ao star system de Hollywood e aos seus vicios. Nada é deixado ao acaso na velha LA, tudo tem segundas interpretações e tudo são piscadelas de olho aos ódios de estimação de Carpenter. Que são também nossos, por osmose.
Passar de um filme para o outro tem as suas vantagens. A piada final de NY é a piada inicial de LA, Snake aparece com a mesma fatiota de cabedal justo. Curiosamente, segundo a trivia da IMDB, trata-se do mesmo fato, o que nos leva a invejar fortemente Russel por ainda caber no mesmo fatinho justinho 15 anos depois e por não ser um barril como nós ao fim de 15 anos de abuso etílico, psicoactivo e adiposo. No entanto, Escape From LA não começa bem. A sequência inicial é praticamente fotocópia da primeiro filme, o que pode ser duplamente interpretado como preguiça ou homenagem no build-up. Os efeitos especiais (CGI primitivo) de Snake a entrar em LA são uma coisa verdadeiramente atroz e até aparecerem os primeiros habitantes da nova LA as coisas parecem correr mal para Snake.
Mas depois vem a ultra-violência, o exagero injustificado na matança, as hierarquias bizarras das novas tribos urbanas e toda uma parafernália de elementos tão desnecessários como deliciosos que nos fazem compreender que sim, era isto que queríamos da sequela. O filme não é perfeito, mas ninguém que o vê de modo voluntário procura um filme perfeito, apenas o pervertido sentido de humor de Carpenter a fazer vítimas. Ainda que as primeiras possamos ser nós e o nosso pobre cérebro que um dia, quando ceder à natural erosão do tempo, irá fazer de nós os freaks do lar da 3ª idade.
Um achego final para a banda sonora que só por si vale o preço do bilhete. White Zombie com música feita de propósito, Deftones, Tool… TOOL, amigos, Tool. E depois alguns grupos que não saltaram de barco quando o Nu-Metal foi ao fundo.
Oh pá, tu és o verdadeiro Tarantino da crítica cinematográfica! 😀
Epah, o mestre xunga ensinou-me uma coisa, o Escape From LA não é o mesmo filme que o Escape From New York
Eu estava convencido que era tudo a mesma coisa…
“Tool… TOOL, amigos, Tool”
O bom gosto não poderia apenas ser a nível cinematográfico.
Até me deu vontade de ouvir a Disposition.
Vi-o uma vez num dos 4 canais abertos, já lá vão uns aninhos valente. Agora fiquei com vontade de revê-lo.
O Escape From New York é o clássico, este é uma versão cómica que o Carpenter fez desse primeiro filme. E por isso mesmo, também o adoro.
Em vez de anunciar o apocalipse, satiriza o apocalipse. Onde o NY tinha uma atmosfera negra realista que nos faz pensar que um futuro como aquele se pode um dia tornar realidade, este tem uma caricatura do Che Guevara como vilão, que deixa o Snake a andar numa passadeira rolante no background do vídeo em que anuncia a conquista do mundo, e a forma mais genial de sempre de solucionar um mexican standoff. É o filme apocalíptico-cómico, e nem a cena de surf no tsunami faz com que me deixe de divertir imenso sempre que o vejo.
Escape from New York – Review
Estávamos em 1981 e John Carpenter ainda vivia no rescaldo do sucesso de Haloween, o que lhe permitiu fazer este filme que já tinha idealizado em meados da década de 70. O filme conta-nos a história de Snake Plissken um condenado a que é oferecida a hipótese de liberdade se conseguir resgatar o Presidente dos Estados Unidos em pessoa, da cidade de Nova York, que em 1997 não é mais que uma enorme prisão, rodeada por muros de 15 metros de altura. O filme foi um grande sucesso mundial e tornado um objecto de culto sendo uma referência óbvia para inúmeros filmes e até videojogos feitos posteriormente.
A personagem Snake Plissken interpretada por Kurt Russel também foi bastante idolatrada e iniciou uma vaga de anti-heróis.
John Carpenter escreveu, produziu, realizou e ainda foi o responsável pela banda sonora desta obra. O filme foi quase na totalidade filmado durante a noite e não usou um único cenário artificial.
Um dos maiores prazeres que retiro do visionamento destes filmes de ficåão cientifica mais antigos, e sem grandes oråamentos, é o enorme coraåão e criatividade que as pessoas envolvidas tinham, para poderem proporcionar uma experiência futurista ao espectador. Por exemplo, e para quem viu o filme, a cena em que Kurt Russel sobrevoa a cidade num planador e vê um gráfico em 3D da cidade nos visores do planador, esse gráfico 3D não, e repito o não, é feito em computador. Os técnicos de efeitos especiais usaram uma maquete da cidade de cartão, colocaram fita adesiva fluorescente nos contornos dos prédios da maquete e filmaram a mesma no escuro utilizando apenas uma luz negra. O efeito foi este:
Em 1981 era assim que se faziam os filmes de ficåão científica. Agora nesta era digital, talvez seja um pouco mais simples. Serão melhores os filmes? Tem um efeito bastante convincente não acham?
Tokyo Gore Police – Review
Todas as artes têm um extremo, por assim dizer. Um género que procura ir até ao limite. E o gore asiático está para o cinema, um pouco como o Death Metal para a música. E este Tokyo Gore Police, que foi um dos filmes concorrentes ao Fantasporto 2009, está incrivelmente perverso, ridiculo, grotesco e bizarro, até mesmo para o género em que se insere.
O filme passa-se no Japão, num futuro próximo, em que um cientista louco chamado Key Man cria um vírus que transforma seres humanos em monstruosas criaturas chamadas de “Engenheiros”. Os Engenheiros têm a incrível habilidade de tornar as suas feridas em armas.Por exemplo, corta-se um braåo a um Engenheiro e nasce da ferida uma motoserra (!).
Para combater estas criaturas a policia de Tóquio privatizou-se e criou uma unidade de elite especializada em caåar Engenheiros. Uma das suas melhores agentes é Ruka, que combate os Engenheiros da forma que vocês podem ver no poster: com espadas samurai, vestida de colegial (os japoneses não resistem a vestir as suas personagens de colegial) ! Nos intervalos entre os retalhamentos de Engenheiros, Ruka procura também encontrar o assassino do seu pai.
Pouco mais há a dizer sobre este filme, para além que eles devem ter usado tanto sangue artificial para o fazer, quanto a equipa que fez Titanic usou água.
Esta minha review do filme pode parecer negativista ou até irónica, mas eu atribui um 7 a este filme por algumas razões:
por nos apresentar uma perspectiva diferente sobre o futuro ao nível do décor e estratificaåões sociais, estando o filme intercalado por publicidade violenta e irónica ao bom estilo de Paul Verhoeven em filmes como Robocop, oferecendo-nos pedaåos de excelente sátira social; porque efectivamente acabei por me divertir a ver o filme; por o mesmo não ter mais ambiåões para além de chocar; e porque gosto de ver miúdas com espadas samurai, vestidas de colegial.
Tokyo Gore Police – 7
Re-Animator – Review
Poderão os mortos voltar á vida? Herbert West o novo aluno da Miskatonic University pensa que sim. Depois de chegar á universidade e confrontar o professor Carl Hill por ele plagiar a teoria do seu antigo mestre, West aluga um quarto a Dan Cain e monta um laboratório na cave. A partir dai como seria de esperar, um monte de mortos volta á vida.
Este filme de 1985 está na linha de filmes como Evil Dead de Sam Raimi, ou de Braindead de Peter Jackson. Sendo várias vezes referenciado como um filme de culto, decidi inclui-lo numa série de filmes de Gore Extremo que estou a ver actualmente.
E que agradável surpresa que este filme foi! Num registo fast-paced onde o espectador é imediatamente levado para o cerne da questão, este filme tem as doses de comédia negra e horror bastante bem balanåadas. Temos um zombie com a cabeåa cortada, cujo corpo transporta a mesma nas mãos e continua a receber ordens dela, um gato que é re-animado duas vezes, tripas assassinas, lobotomias, morgues, miolos e 25 galões de sangue artificial, segundo as contas da produåão.
Este filme teve como sequelas “The Bride of the Re-Animator” e “Beyond the Re-Animator” que também pretendo ver brevemente.
Se não for facilmente impressionável, assista a este filme e divirta-se. Não tenha medo.
Re-Animator – 7,5
f**k , foi a página toda…