Jaime era uma rapaz de 23 que tinha acabado de arranjar um emprego como engenheiro mecânico numa marca automóvel famosa, com ordenado mínimo e contrato a 3 meses. Conheceu Alice, uma adorável garota de 25 anos no café onde tomava o pequeno almoço. Palavra puxa palavra e Jaime convida Alice para uma ida ao cinema. “OK!” diz ela enrubescida enquanto acaba de tomar o seu Capuccino. Nessa noite encontraram-se frente ao cinema e quando Alice se dirigia à bilheteira, Jaime sussurrou-lhe ao ouvido “Onde vais tontinha? Já aqui tenho os bilhetes!” e piscou-lhe o olho com uma malícia perfeitamente aceitável para a ocasião. Duas horas depois saem do cinema e dirigem-se para casa de Alice para ver uns posters que ela encomendou da Amazon. Os dois perceberam a razão dessa visita, mas nenhum quis admitir. Antes de entrar em casa, a rapariga pede-lhe que se descalce, pois não quer sujar a sala que tinha sido aspirada durante a tarde. Jaime entrou descalço. “3 gatos?”, perguntou. “Na realidade são 12, mas alguns marotos andam na rua. São os meus filhinhos”. Alice pediu desculpa e ausentou-se para vestir algo mais confortável. Jaime sorriu de modo maroto e sentiu uma ligeira erecção a imaginar a noite de deboche que tinha pela frente. Ouviu um ligeiro barulho atrás do sofá onde estava sentado e ao tentar virar-se sentiu um dor aguda na base do crânio. A sala pareceu-lhe rodar 90 graus mas podia ser apenas um efeito óptico por estar a cair meio inconsciente em direcção à alcatifa. A última coisa que sentiu antes da visão se ter enegrecido e depois enchido de estática, foi um gatinho que se apressou a lamber-lhe o sangue que lhe descia pela testa.
Os sons eram imperceptíveis, mas parecia alguém a falar com uma criança. Tentou abrir os olhos, mas só um reagiu porque o outro parecia não querer obedecer. Pela dor percebeu que estava inchado. Olhou para baixo. Não tinha calças. Não se conseguia mexer bem. As mãos estavam amarradas atrás das costas e parecia ter algo alojado profundamente no ânus. Não era tanto o facto de ter algo no ânus que o incomodava, aliás, era prática comum a ex-namorada enfiar quantos vibradores lá havia em casa. O que o incomodava era não saber bem a origem do objecto que parecia até estar a mexer-se sozinho. Mas podia ser impressão sua. “E se for sujo e infectar?”, pensou. Levantou a cara e viu a Alice vestida com um facto de treino cinzento bastante ensanguentado. Tinha uma faca na mão. “Olhem meninos, olhem quem acordou! Olá papá!”, disse de olhos ligeiramente esbugalhados. Parecia estar a falar com os gatos.
“Sabes ‘mor, esta faca custou-me 1.25 euros. Comprei numa promoção da TV Guia. Corta bem, mas tem que ser afiada todas as semanas. Queria comprar as outras, mas a vaca do quiosque não me guardou nenhuma. Ficaram com elas todas. Elas e as amigas. Putas, todas putas…” Aproximou-se. Encostou a ponta da faca nos testículos de Jaime. O bico aguçado fez flectir a pele do escroto, mas não perfurou. Jaime tentou pedir-lhe para parar mas inicialmente só conseguiu cuspir sangue. Bastante sangue. Ao passar a língua pela boca percebeu que lhe faltavam alguns dentes. “Pára! O que foi? O que é que tu queres? Se for dinheiro vieste ao sítio errado.” Gritava. Tentou pontapear a faca, mas as pernas também se recusavam a obedecer. Sangrava de um joelho que parecia ligeiramente desalinhado. Tinhas as rótulas partidas.
“Dinheiro? Achas que quero o teu dinheiro? Eu só te queria a ti. O teu amor, o teu carinho. Envelhecer contigo. Ter uma casa à beira mar para envelhecer com os nossos filhos.” Disse apontando a faca ensanguentada aos gatos. “Foda-se, só nos conhecemos a semana passada. Estás doida? Eu …” Foi interrompido quando a faca foi um pouco mais à frente arranhando ligeiramente o escroto. “Um filme de explosões e guerra baseado na batalha naval?” disse “Foi esse o filme que quiseste que recordássemos como nossa primeira saída?” Virou-se para a janela. “Pensas que eu sou uma das tuas putas? Aquelas que levas a ver os Transformers e depois fodes no carro? Não ‘mor, não sou dessas. Sou uma menina decente, educada na fé católica numa escola privada e de boas famílias. O meu tio avó foi governador civil.” Voltou-se novamente para ele, teatralmente.
“Duas horas de agonia. Explosões, heróis em câmara lenta. A Rihanna… Foda-se, tinha a Rihanna. Tu sabes bem o que sinto pelo Chris Brown e levas-me a filme da Rihanna? E tu sempre a olhar-lhe para as mamas, para a aquele cú gordo… Porque é que me fizeste isto?” e desatou a chorar. Lágrimas grossas caem-lhe das faces. “Mamas? Ela estava vestida de soldado o tempo todo… O filme nem foi assim tão mau, os efeitos especiais…” tentou desculpar-se mas foi interrompido. “Porque me fazes isto? Porquê?! A culpa é tua, eu só queria dar-te amor, queria cozinhar para ti todos os dias, engomar a tua roupa, escolher as tuas gravatas…”.
Ele ainda tentou responder, mas é difícil falar quando nos enfiam um esponja de cozinha na boca. Suja, cheia de espuma negra e staphylococcus suficientes para neutralizar um cavalo. Os gritos rapidamente são substituídos por sons abafados de agonia. As pupilas dilatam-se à medida que a faca é empurrada, sentiu o gume frio da navalha até ao osso, sentiu o cão da morte a bafejar no seu pescoço.
KONIEK
Melhor crítica que alguma vez li! e tenho dito…
Foda-se, isto é lindo!
Ok. Estou convencido a não mais ver a película.
A importância de estudar as mulheres antes de com elas se envolver. E o filme nem é assim tão bera.
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Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://destilo-odio.tumblr.com/
Não digo que o filme é bera. A Alice é que não gostou.
Nota mental: não levar nehuma “Alice” ao cinema.
Não desgostei do filme.
P.S. – alguém prémio tem que ser entregue a este filme. se não houver nenhum com a categoria Melhor Post, faz-se já um Prémio para entregar…
Correcção:
P.S. – alguém prémio tem que ser entregue a este texto. se não houver nenhum com a categoria Melhor Post, faz-se já um Prémio para entregar…
clap clap clap
Isto sim, tem os meus parabéns! Um dos melhores textos do tio xunga… Excelente, excelente
A crítica apresenta maior talento criativo que o filme lol
belíssimo texto já suspeitava que o filme devia suscitar este tipo de reacções, é que parece mesmo muito mau e tem a rihanna lol.
O final do texto termina com a cereja no topo do bolo, não se cita Mão Morta todos os dias, afinal de contas 😉
Que mais se pode dizer de um mágnifico texto como este sem ser:
“All hail to the king of xunga!!!”
Os meus mais sinceros Parabéns!
Alice, my darling, eu nunca te faria tal coisa…
(João Lopes, cuida-te! There’s a new critic in town…)
LOL! Nota 10 à review!