Fui apanhado de surpresa pela dinâmica de V/H/S. Julgava tratar-se de um filme normal, com uma estrutura narrativa principal, um ou dois arcos secundários, etc. Na realidade V/H/S tem como conceito o encapsulamento de várias curtas metragens num contexto que evoca o mítico formato VHS. O fio condutor é um grupo de jovens que invade uma casa em busca de uma fita rara que lhes irá valer uma valente massa. Quando entram descobrem um cadáver num sofá a olhar para várias TVs que estão a transmitir estática. Por deficiência na descrição da sua missão, começam a ver as cassetes que lá estão até descobrirem se alguma encaixa na descrição “fita rara de incalculável valor de mercado”. Inicialmente ainda pensei que se tratasse do original Tomás Taveira (a cores), mas aquilo com que somos brindados é um dos maiores espectáculos de gore dos últimos tempos.
No entanto um espectáculo de gore está longe de ser sinónimo de excelso filme de qualidade inquestionável. Até porque não se pode avaliar de modo leviano com estrelas ou “thumbs up” um filme que na realidade são 5 filmes completamente dispares no seu núcleo narrativo e gráfico.
Como já devem ter adivinhado tudo é filmado ao estilo “found footage”, algo de que não sou grande fã até porque mesmo imerso num oceano de boa vontade, o meu cérebro chega a um ponto e começa a sentir-se enjoado. Aquela sensação de apanhar o ferry boat para Ayamonte, mas sem a perspectiva de caramelos e sucedâneos de chocolate. Ainda assim vou vendo filmes neste estilo mesmo jurando que será o último.
Das 5 curtas metragens presentes, e não contando com o fio condutor que falei anteriormente e que é perfeitamente patético, uma delas eleva-se em potencial terrorífico acima das outras. Quer dizer, quem já vê filme de terror há praticamente 30 anos dificilmente é surpreendido com novas tendências na área do horror movie. Aqui o subterfúgio da filmagem amadora e found footage serve para dar realismo a situações tipicamente ficcionadas em longas metragens fortemente estereotipadas. Temos uma que nos fala de um demónio sedutor e de uma noite de sexo em grupo que corre horrivelmente mal, uma que retrata as agruras das infestações por demónios detectadas via skype (estilo paranormal activity – filme que nunca vi, mas deduzo o seu argumento pelo poster), um interessante exercício de slasher movie na floresta com um assassino que não aparece nas filmagens e com cenas de gore que ficarão para a posteridade, o típico exorcismo gone wrong e a cereja no topo do bolo que é Second Honeymoon.
Second Honeymoon é a história de uma roadtrip de um casal que parece estar a reatar a sua relação de algumas turbulências. Tudo aparenta normalidade até ao ponto em que alguém os filma durante o sono. A partir desse ponto é como se os nossos personagens andassem sempre com um enorme piano em cima da cabeça prestes a desabar. O assustador de Second Honeymoon é o facto de não envolver fenómenos paranormais. É uma cruel história de amor com uma das mais realistas cenas de assassinato que já vi.
O ponto que une as curtas metragens é o facto de haver algum ponto na narrativa em que alguém é traído por alguém/algo em quem confiava. Aparte disso, que poderá ser apenas coincidências, é um agregador de curtas, como aquele DVD que a FNAC edita todos os anos.
É bom, é brutalmente violento e não cede a pressões politicamente correctas nem é aguado para agradar às massas nem aos comités de rating. Assusta aos que são de fácil susto e agrada a quem gosta da tradicional matança. Eu aconselho com as ressalvas supracitadas.
Por acaso, vi na semana passada e fiquei surpreendido… Gostei de todos, mas achei a curta “slasher” a mais fraquinha