No final do Verão de 2012 fiz uns reparos infelizes acerca da falta de qualidade de Dredd 3D baseados apenas no meu preconceito cinéfilo, sem sequer ver o filme ou o trailer (imaginem a heresia). Tendo como amostra todos os remakes e reboots do último par de anos, parti do princípio lógico que seria mais um esgoto a céu aberto para perder tempo e provocar incontroláveis diarreias fulminantes. Devido a esta minha imprudente atitude e grosseira intempestividade não apoiei o filme que mais precisou da minha ajuda. Aliás, da nossa ajuda na sua hora mais negra. Porque não o fomos ver ao cinema, porque não alimentámos a blogosfera com a sua magnificência, porque não o adoramos como o salvador do cinema de acção de ultra-violência que tanto amamos, porque fomos fracos e deixámos que a cruel contabilidade do movie making americano lhe cortasse todas as perspectivas evolutivas enquanto potencial saga cinematográfica. Pelas minhas falhas e persistente imaturidade peço desculpas e rogo à vossa caridade enquanto pessoas de bem que só querem ver chacina sanguinária e violência sem limites na pacatês do vosso lar e na sala de cinema dos vossos dealers de cinefilia que saiam para a rua, gritem, espalhem a palavra de Dredd. Escrevam cartas ao vosso vereador, ao FMI, despeçam-se, deixem de se barbear (ou rapar os genitais) e corram o mundo usando sempre a mesma roupa interior a bater de porta em porta a perguntar “Sabe quem é a lei?”. Façam-no antes sequer de ler o resto deste artigo que deverá ser tão desinteressante como todos os outros. Voem, minhas pombas, espalhem a lei, promovam o juíz a ver se nos fazem uma continuação (sequela em portinglês).
Há uns anos atrás Stallone tentou fazer um Dredd mas a sua visão não era compatível com a carnificina pedida pelo tipo de narrativa, porque se encontrava na altura numa fase da sua carreira que abrangia públicos menos habituados a matanças sobre-humanas. Fez um Dredd light, um menino Dredd, um Dredd bexigoso com sentimentos que interferiam na sua principal característica, que é uma capacidade fria de matar. De esventrar.
O que faz de Dredd um filme de excepção no negro momento que assola a cinema de acção americano? Em 2012 Dredd, personagem dos comics, teve Dredd, personagem cinematográfica, que merecia. Um herói, que não é super, mas também não é nada menos que isso. Frio, duro, imune às emoções e imparcial na justiça. Um homem de poucas palavras, e mesmo essas são dedicadas à sua arma que parece apenas aceitar controlos de voz. O único pormenor menos bom desta lição de bem matar.
Sem “origins” desnecessariamente complicadas e pretenciosas, sem a missão de salvar o planeta da sua maior ameaça desde as calças descaídas no rabo, sem a pretensão moral de acabar com a fome em África (e no sul da Europa) ou trazer a paz ao mundo. Dredd sai para mais um dia de trabalho, orienta sabiamente uma estagiária sem exigências de sexo oral na sala dos consumíveis, mata, esfola e desfaz crânios a tiro, volta para casa ao fim do dia para uma noite de whisky, solidão e furiosa masturbação. Simples e eficaz.
Estamos perante aquilo que precisa de ser adaptado aos super-heróis de licra que, mês sim mês não, nos poluem os ecrans com a sua indumentária justa e sem uma única explicação de como aquelas pobres almas fazem quando precisam de urinar. Será que o capitão américa ou o homem-aranha precisam de despir o seu one-piece para cagar? O fato do superhomem, que é à prova de bala, também será à prova de manchas de urina e aquele cheiro nefasto que se forma no sovaco no final de um dia de Verão?
Não o vi em 3D, no entanto o visual é muito interessante, principalmente nas cenas de utilização do Slomo e aquelas mortes todas em ultra slow motion. É certo que há ali no guião um pouco (para não dizer muito) do The Raid, mas quem nunca copiou que atire a primeira pedra. Bela cinematografia, portanto, uso moderado de efeitos especiais e o ambiente ideal para um pouco da velhinha ultra-violência.
Agora toca a ir comprar o Bluray para ver se as vendas justificam uma continuação de melhor orçamento. Eu tenho saudades de quando se faziam assim filmes nos anos 80, Robocop e outros clássicos incontornáveis de Verhoeven, as carnificinas para adolescentes de Schwarzenegger e Stallone, os Mad Maxs, Lethal Weapons, Escape From New York e LA e todos clássicos de Carpenter ou todos aqueles filmes de terror onde nem as freiras mais idosas se livravam de ser atiradas em chamas de um edifício depois de violadas, esfaqueadas e alvejadas. Este é, quanto a mim, um digno merecedor dessa herança.
Fiquemos com uns gifs animados para animar. (se não estiverem animados, cliquem)
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