Com o aparecimento da Internet e dos multiplexes nos anos 90, os rituais quase espirituais de uma ida ao cinema começaram a desaparecer. Ir ao cinema deixa de ser um acontecimento especial, a representação de um estilo de vida, deixa de ter magia e de doses de ansiedade por antecipação capazes de anestesiar um cavalo. Até os rituais de acasalamento da adolescência / juventude sofreram um severo retrocesso com a banalização da sétima arte. Antigamente um jovem tinha que convidar a miúda para um filme assustador para ela se agarrar durante o filme e sentir necessidade de protecção no final para que se pudesse proceder à posterior afundamento do salpicão. Hoje em dia levam as gajas para as discotecas, já semi-nuas (contaminadas de devassidão e predispostas ao mais vil gangbang), dão-lhe pastilhas de ecstasy e rebentam-lhes o cabaço sem grande entusiasmo nos seus quartinhos luxuosos de estudante. Por vezes inconscientes e outras vezes em coito interrompido devido a um “Olha, uma mensagem no Facebook da gaja que eu gosto mesmo”.
Nos saudosos anos 80 uma ida ao cinema era planeada e tínhamos que comparecer com mais de uma hora de antecedência. Não porque as filas fossem longas e demoradas. Eram longas, é verdade, mas as senhoras dos bilhetes despachavam 300 bilhetes em 10 minutos. Hoje estão 5 pessoas na fila e demoram 15 minutos por causa dos suminhos, das pipocas e das gajas indecisas 5 minutos entre o Twix e o Mars. A razão da antecedência era para ver com atenção todos os cartazes, lobby cards, teaser posters e a memorabilia de tempos idos. Os cinemas eram como museus, tinham sempre esses espacinhos para que um jovem cinéfilo com imenso tempo livre tivesse razão para se baldar ao estudo e, quantas vezes, às aulas. O deslumbre era de tal modo ofuscante que eu era capaz de matar por um daqueles pedaço de papel ou por uma recordação de grandes clássicos que eles expunham. E não estou a exagerar, eu asfixiava uma família durante o sono por um conjunto de lobby cards originais do Commando ou por um poster do teaser de segundo Indiana Jones.
Os lobby cards, o que aqui me traz hoje, eram uns cartões iguais onde depois se colocava uma foto do filme numa das partes. Penso que até seriam revelações dos positivos da película. Alguns com a foto a ocupar quase todo o espaço (como a que ilustra este post), outros com informação várias do filme, como elenco, dados técnicos, taglines, logotipos, mini-cartaz, copyrights e a foto num dos cantos. Estes eram os mais usuais, pelo menos na época em que frequentei estes espaços.
Estes Lobby Cards existiram desde os primórdios da sétima arte, com a prática de colorir as imagens no tempo dos filmes para os tornar mais apelativos. Eram parte muito importante do processo de marketing do filme. Numa altura em que era preciso espalhar literalmente a palavra pelas cidades, os lobby cards eram colocados em pontos estratégicos nas cidades, em pontos de informação cinematográfica, juntamente com o horário das sessões, preços dos bilhetes e classificação etária.
Hoje não há espaço este tipo de cartões. Os cinemas mudaram as estratégias e estes itens são agora de coleccionador. Foram substituidos pelas galerias nos sites oficiais do filme ou em sites de cinema. Se procurarem pelos sites de leilões internacionais encontram grandes tesouros a preços proibitivos. Já tentei comprar alguns, mas os valores de venda sobem sempre para muito além daquilo que estou disposto a pagar. É muito complicado explicar uma compra destas no contexto de um orçamento familiar, acreditem. As vezes que eu já passei por esse interrogatório, sempre que não consigo interceptar o carteiro antes de meter os meus impulsos consumistas na caixa de correio.
Deixo-vos com uma galeriazinha de lobby cards que encontrei online. Falta-lhe o cheiro bafiento de lobby de sala de cinema antiga, mas certamente aqueles que partilham a minha faixa etária irão largar um ou outro suspiro de nostalgia.
Resta-me acrescentar que este artigo foi potenciado por um post no meu perfil do Facebook, onde um grupo de trintões (no mínimo) se reuniram para carpir as suas lamurias num grupo de apoio, onde os sorrisos iluminam a noite e as lágrimas (de homem) rolaram livremente.
Lobby Cards, a galeria
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