Há medida que me sinto mais desiludido com o cinema que nos chega às salas e ao subsequente monopólio de uma única empresa de distribuição que nos impõe a sua estratégia de marketing (ao invés de bom cinema), vou deixando de ver cinema mainstream contemporâneo. Mas de tempos a tempos, como qualquer outro humanóide, apanho o autocarro das sugestões das revistas e dos blogs populistas e vejo um filme destes. O problema é que cada vez que vemos um filme mau um gatinho morre ao ser sodomizado por um cavalo e se não for tomada uma decisão de acabar com este flagelo do cinema mercenário, o único sítio onde vamos ter gatinhos será nos powerpoints que nos mandam as nossas tias e aquelas amigas que ainda não descobriram a satisfação do African King (pilhas incluídas).
Deste vez foi Flight. Realizado pelo realizador mais inócuo de toda a eternidade. Robert Zemeckis, não é o preferido de ninguém mas também ninguém odeia. Cada vez que sai um filme dele dizemos “Ah, olha. Robert Zemeckis. Já me tinha esquecido dele.” Sim, é verdade que realizou Back to the Future, Romancing the Stone ou Roger Rabbit e mais uns quantos blockbusters, mas nunca se desenvolveu muito, nunca atingiu aquilo que se esperava dele. Recordo-vos que em tempos foi apelidado de jovem Lucas ou Spielberg. Depois lembro-me desta capa de uma Newsweek do início do século e farto-me de rir sozinho, como um daqueles senhores que vai dar milho aos pombos, nas estações subterrâneas do metro de Coimbra.
Denzel Washington é, também, um ódio pessoal. Apesar de todo o circo mediático que lhe massaja constantemente o ego elevando farsolas artísticas a “catalisador emocional altamente versátil”, a verdade é que este pulha só fez um personagem em toda a sua vida. Personagem esse que usa em todos os filmes. Questões raciais de lado, Denzel assume-se sempre como um negro ligeiramente descontextualizado, como se tivesse vergonha da sua herança afro-americana e quisesse ser um branco cujos ancestrais tivessem longos pastos de cabras nos férteis planaltos anglo-saxónicos na Europa central do século XVIII. Dá ideia que o seu pincel da censura tenta apagar todo e quaisquer vestígio de herança cultural negra. Não digo que o metam a comer frango frito com sumo de uva e melancia à sobremesa, mas tal como eu nunca irei conseguir tirar as raízes labregas do meu código genético, nem que chegue a presidente do planeta, também uma homenagem àqueles que sofreram os horrores da perseguição, xenofobia e injustiça seria apreciada. Ele parece racista contra os negros nas suas opções artísticas, só isso.
E em que ponto é que Flight é um filme horrível? Devemos começar pela sua estratégia de marketing, que é aquilo que nos ajuda a decidir que filmes ver. Flight é apresentado ao seu público potencial como um mistério, um thriller. Um voo que corre muito mal e o avião despenha-se. No trailer ficamos com a ideia de que algum mistério, sobrenatural ou conspiratório, é responsável pela queda daquele avião e somos levados a acreditar que vamos ver um filme acerca de uma investigação de um acidente que nos reserva surpresas a cada curva. Infelizmente a única surpresa que nos reserva é o amargo sabor da desilusão.
Não me queixo de ver Nadine Velazquez nua, até porque desde My Name is Earl me pergunto como será aquele corpaço por debaixo da indumentária minimalista que vestia. O certo é que Nadine Velazquez nua e o efeitos especiais do acidente foram os pontas de lança para arrastarem a malta às salas, numa táctica desonesta conhecida como “saca-euros”.
A verdadeira cara de Flight é uma tentativa de veículo de Oscar para Denzel Washington, retratando a descida aos infernos de um piloto alcoólico/drogado apanhado com a boca na botija. Quiseram fazer um típico “desgraçadinho dos Oscars”, que a academia tanto gosta. Um homem que cai num pesadelo sem fim, decadente, sem amor próprio, sempre com o lábio superior ligeiramente flectido como se estivesse constantemente prestes a chorar. Daí terem usado os subterfúgios desleais, na esperança de que as pessoas dissessem que não era bem aquilo que estava à espera, mas se emocionaram com a odisseia das trevas em que o confiante Denzel se enfiou, e não estou a falar da genitália de Nadine Velazquez.
Não sei qual era o objectivo do filme, mas aquilo que senti foi uma completa falta de empatia com o personagem e a sua situação. Há falta de direcção, não há objectivos bem definidos. Só queria que acabasse rápido e o mais doloroso possível. Queria que Denzel fosse atropelado numa passadeira antes dos 60 minutos. Que fosse electrocutado no banho, que ficasse com a gaita entalada numa torradeira. Qualquer coisa que acelerasse o processo. Robert Zemeckis mostra-nos um trajecto biográfico de um homem caído em desgraça sem nunca se perceber muito bem o que se pretende, quais as motivações dos personagens, qual a moral da história. O final é igualmente ridículo e inverosímil, mesmo se se tratasse de um filme da Sininho ou do Cinderela 7.
Pelo lado positivo resta-me elogiar publicamente os belos pares de mamas que o casting escolheu. Ao contrário de Denzel e todo o seu entourage macho man, os personagens femininos estiveram em alta, se bem que a elevada taxa de mortalidadee violência doméstica neste target demográfico é alarmante.
Moral da história: se querem ver o filme apenas pelos 10 segundos de mamas de alguma das vossas actrizes preferidas, procurem o gif animado no Tumblr e ganha duas horas de vida que podem gastar noutra inutilidade à vossa escolha.
Como não gosto de desiludir ninguém (excepto as pessoas que amo), deixo aqui as imagens da Nadine em pelota. É clicar para ampliar. Clicar nas fotos. Ampliar a pichota. (estas últimas frases devem ser lidas em estilo hip hop).
Não percebi aquele primeiro parágrafo sobre o Denzel… Essa dissertação sobre a suposta falta de “negritude” dele parece-me completamente descabida. Então mas o homem não fez de Malcolm X? Os filmes que o tornaram conhecido aos olhos do público não foram o Cry Freedom e o Glory? Devil in a Blue Dress, He Got Game, The Hurricane, Remember the Titans, The Great Debaters; todos estes filmes “bebem” claramente dessa herança cultural negra.
Quanto ao filme, concordo que acaba por ser basicamente um veículo para uma nomeação para o Óscar de melhor actor, mas não deixa de ser refrescante ter um filme com um personagem tão… merdas! Que continua a ser um merdas bêbado e drogado ao longo do filme e não se torna um iluminado no final e uma inspiração para as criancinhas. Ele lá faz um discurso cliché no final para dar a entender que era um homem mudado, mas cá para mim aquilo era o crack a falar .
O Denzel não é um actor que se transforme por completo, mas acho que também posso dizer isso de actores como o Pacino, De Niro ou Nicholson. São gajos que têm carisma natural e sabem retirar bem do guião as emoções das personagens.
Já agora, a personagem do John Goodman merecia uma menção, apesar de cair lá de pára-quedas.
Por acaso… Adormeci pouco depois da cena do avião, acordei a 1/3 do final e tive a sensação do filme estar precisamente na mesma cena…
Ainda deu para dormir pelo meio, já não foi mau
eu também partilho o ódio pelo denzel. acho que ele faz sempre a mesma personagem: o tipo que procura justiça, depois de ter acontecido alguma desgraça, e sempre com uma lição de moral no fim. ele que vá lamber sabão. recuso-me a ver filmes dele.