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Por muito informados que estejamos por todas as fontes que nos ejaculam ao segundo infinitos jorros de informação, nada sabe melhor que ver um filme espectacular que nunca tínhamos ouvido falar. Filmes que saltitam espontaneamente de um ou outro feed maioritariamente monótono. Filmes que apanhamos acidentalmente da RTP2. Às vezes são pessoas com gostos diametralmente opostos ao nosso que dizem “Ai que horror! Que filme horrendo, uma ofensa ao bom gosto e um atentado aos valores familiares e da moralidade pública e social.” Desta feita venho-vos falar de Bad Milo, um filme tão surreal quanto simbólico, a história de um homem que materializa um demónio com toda a sua fúria reprimida. Um típico funcionário de classe média, abusado para manter o ganha pão da sua família em tempos incertos de empregabilidade frágil. Um dia tudo é canalizado para um pequeno e adorável, mas igualmente mortífero e cruel, demónio. Uma criatura que lhe sai do rabo a cada vez que precisa de matar todos os que se atravessem no caminho do nosso herói. Quem nunca evacuou um demónio intestinal capaz de aniquilar toda a vida numa raio de meio quilómetro que atire a primeira pedra.

Se fosse este um banal critter movie, nada haveria a dizer excepto bocejar molengamente a sua banalidade, antes que os pântanos do eterno esquecimento o levassem para todo o sempre ou até uma colecção obscura fosse lançada em Bluray directamente ao fracasso financeiro. Não parece ser este o caso. Bad Milo não se apresenta como um filme de terror. Tem as mortes bastante ensanguentadas e o demóniozinho de carnificina insaciável, mas apresenta-se como uma comédia psicodramática, de sofá de psicólogo. Um homem afectado pelas mesmas moléstias que nós, meros mortais de classe média, que catalisa as suas agruras num simpático e letal demónio que lhe sai pelo rabo para matar, e que no final da matança lhe volta a entrar pelo rabo. Uma maneira de descarregar os excessos nervosos como qualquer outra. Uns escrevem em blogs, outros têm um saco de boxe, jogam Carmaggedon, criam canários, fazem croché, raptam, violam, matam e enterram vizinhas no quintal. Outros têm um demónio que lhes sai do rabo. Toda a narrativa anda em volta da resolução dos problemas emocionais do nosso herói, em trazer este endiabrado rapaz para a normalidade em vez de se focar nas mortes e na vertente gore. Também a tem, claro, mas não é o centro de gravidade do filme.

É um nobre representante de um dos meus géneros preferidos de cinema, a comédia de terror, que se vê a definhar a cada ano que passa. Não exclusivo deste subgénero, é uma maleita que afecta o cinema de terror como um todo. Neste século têm-se visto pouco concorrentes a filmezinho que irá perdurar nos tempos na área do terror. Saws, Paranormal Activities e Found Footages estão a assassinar o género. Falta-lhe nobreza e seriedade.

Posto isto nada mais me resta do que deixar aquele quente abraço e beijo na nuca e que tenham uma bela semana. Vejam este filme para aprenderem a lidar com as vossas fúrias. A última coisa que deverão querer é um entumescido diabo a entrar e sair-vos do rabo constantemente. A menos que gostem. Quem sou eu para julgar. Aliás, muitas das minhas relações acabaram por ter feito surgir este assunto antes do tempo. As coisas devem surgir naturalmente, mas um gajo acaba por não ter paciência. É a nossa natureza masculina, queremos tudo e agora. Existem aquelas alturas em que devemos dizer “Querida, passa-me esse sumo de maçã, se fazes favor.” e dizemos acidentalmente “Olha, que achas de hoje se fazer a entrega do leite pela porta das traseiras?“. São tudo erros de principiante. Ai, as tropelias do sexo anal, ou como lhe chamava uma minha prima mais velha “Não contes nada disto aos teus pais” . E lá está, a obrigatória secção (sexão?) de porcalhice quando se fala de um filme que trata de coisas que entram e saem do recto.

Bad-Milo-Poster