tarzan

E aqueles filmes que só queremos ver porque a actriz teu um rico par de mamas? Esse impulso hormonal não é exclusivo do sexo masculino, uma vez que as mulheres também têm esses guilty pleasures. A diferença, como em tudo, é que as mulheres os fazem de modo subtil enquanto os homens se sentam no cinema com as calças nos tornozelos e mãos a friccionar a gaita. Um efeito deste impulso feminino foi eu ter sido arrastado pela minha esposa para ver o Tarzan porque o gajo é, e passo a citar, “muita bom”.

Diminuído na minha masculinidade e inseguro com a minha barriguinha lá fui. Sob protesto, note-se! Já não seria a primeira vez que caía nesta esparrela, também com o Tarzan. Já nos anos 80 tive que gramar vezes sem conta o Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes porque a minha irmã tinha uma paixoneta de adolescente pelo Christopher Lambert. E eu lembro-me perfeitamente de ter ido à estreia desse filme, com uns 12 anos, à espera de ver um Tarzan como nos desenhos animados e ter apanhado com um seca para adultos que nunca mais acabava. E é certo que aqui os abdominais Skarsgård transformam também este Tarzan num clássico instantâneo das senhoras ou de homens que peguem em mais paus que os Pauliteiros de Miranda.

Este novo Tarzan é uma daquelas sequelas em que o primeiro filme (não existente) é colocado dentro deste sob a forma de 35% de flashbacks. Uma tendência recente que tem vindo a ganhar seguidores, especialmente útil para criar Universos Cinemáticos instantâneos. E nele encontramos Lord coiso (o nome dele inglês de Tarzan do qual não me lembro agora) depois de ser encontrado, retornado e assimilado pela cultura inglesa, onde tomou o lugar de Lord no parlamento. É agora um nobre completamente ocidentalizado e respeitado. Dá-se um evento que o obriga a voltar a África com a esposa. Começa assim o Tarzan Two, Electric Boogaloo.

De volta a África, Tarzan revisita todos os pontos chave da sua infância de modo a que esses flashbacks possam fluir livremente pelo ecrã. Questiono-me se haverá alguém que não conheça a origem do Tarzan. Além de ferirem mortalmente o ritmo do filme, estes flashbacks ainda o tornam mais longo. O que não seria mau, se esse tempo fosse equilibrado e bem utilizado. Como se gasta tanto em flashback o final é apressado e sem o requinte necessário para ser apreciado como satisfatório.

No seguimento do êxito de Jungle Book, também se quis enriquecer o ambiente da selva com CGI, que se provou ser um desastre total. Não há suavidade na fusão e nota-se o plastificado falso e irreal sempre que é forte em CGI. A interacção entre humanos e animais nunca consegue transmitir uma verdadeira sensação de ameaça, parece realidade aumentada saída do Pokemon Go (Ape Edition).

E com isto tudo Tarzan volta para o Congo, salva o continente africano do domínio do homem branco, todos ficam felizes, acaba o filme ao por do sol com amor e uma cabana, sorrisos exagerados com o novo algoritmo informático da Disney para manipular expressões faciais, créditos finais, a minha mulher toda contente porque viu o Alexander Skarsgård em cuecas todo musculado aos saltos como um macaco e eu ligeiramente enraivecido por ter pago para ver uma interpretação em typecast de Cristoph Waltz e Samuel L. Jackson a fazer o único papel que sabe, himself.

Como espectáculo de circo falta-lhe aquele arrojo extra que o torne único ou, pelo menos, diferente. Como filme falta-lhe a profundidade emocional e uma narrativa aprimorada e coerente que nos faça torcer pelos heróis, que nos ajude a identificar com as causas dos personagens. Tenho andado nos últimos dias a tentar convencer-me que é um filme inócuo, um filme boff, que não aquece nem arrefece, que serve para passar o tempo. A tentar enganar-me, porque o filme é abaixo disso, é mau. Assim como está, nem o deixo ver ao meu cão. Pode ferir-se emocionalmente e um psicólogo de cães anda pela hora da morte.

E com isto acaba esta fantasia molhada de justiça e equilibrio de poderes em África. Estivemos ali duas horas a torcer pelos povos de África, pelo fim do domínio violento e apocalíptico do homem branco, pela possibilidade de dar os povos de África uma qualidade de vida que lhes permita ter esperança num mundo melhor. Saímos do cinema com a nossa esposa, que usa diamantes africanos, vamos beber um chocolate quente de cacau vilipendiado a tribos a troco de quase nada, passeamos pelas avenidas feitas com mão de obra escrava e financiada com riqueza roubadas ao continente Africano, tentamos evitar os bairros dos imigrantes angolanos e cabo-verdianos e vamos para casa ter pena dos pretinhos, coitadinhos, que ninguém gosta deles e se todas as pessoas fossem como nós o mundo seria perfeito. “Talvez ofereça uma bengala com cabo de marfim ao meu avô”, penso antes de adormecer, “no filme tinham tão bom aspecto”.

Deixo o episódio de Nas Nalgas do Mandarim onde foi abordada a temática das adaptações live action saca-euros da Disney e uma previsão acertada de como seria este Tarzan.

Ciclo “Mete-se Agosto” Um homem tem que fazer ocasionais sacrifícios por amor. Não estou a falar em deixar a esposa pisar-nos escroto com sapatos de salto alto, manter o sorriso parvo ao levar com um strapon no cu ou ter acompanhá-la nas compras. Falo em pequenas cedências, as pequenas coisas nos fazem sair da bolha de conforto. Esta semana iniciei um pequeno ciclo com a esposa, numa altura mais descansada em que as crianças passam uns dias com os avós. Um ciclo de comédias românticas, vejam lá! Resolvi dar-lhe o nome “Mete-se Agosto”.