Este não é um bom filme. Por nenhuma métrica. Em termos de produção apresenta meios reciclados de filmagens de novelas, e mesmo assim restos estragados de cenários, adereços ou mesmo guarda roupa. O estilo de representação de todos, excetuando os titulares Zé e Quim, cai na gama tão temível chamada “representação de revista à portuguesa”. O toque de modernidade, gamado de 300 filmes anteriores, com a presença de Deus, interpretada pelo defunto e mui saudoso Nicolau Breyner, também não ajuda. Digamos que o tom, os temas e o próprio motor narrativo, que serve para agregar um conjunto de sketches soltos, contribui para dar um look and feel que a internet teima em chamar de “Azeite”, esse tão nobre e precioso líquido, ouro mediterrânico. Mas que neste contexto traduz como piroso e sem gosto.
É, terrível. Mas no centro de tudo temos duas forças criativas muito interessantes, o Pedro Alves e o João não sei quê Rodrigues, que se viram colhidos pelo sucesso das TVs generalistas, obrigados a reduzir a agressividade do seu humor e o vernáculo característico dos meios que parodiam. E este meio é, de facto, uma grande fonte de inspiração que os Zé e o Quim sabem tão bem parodiar, com expressões informais, termos populares, rica em metáforas e expressões idiomáticas, refletindo a cultura popular e o contexto social que mimetiza.
Atirados para públicos urbanos, velhas de alfama que passam o dia à espera do Goucha e os mileniais sem sentido de humor das tostas de abacate e o brunch vegan, o seu humor passa sempre incompreendido, além de amputado do seu formato original, que pode ainda ser encontrado nos espetáculos ao vivo e numa gravação áudio de um standup que fizeram há mais de 20 anos, quando não havia uma média de 298 comediantes de standup por 1000 habitantes em Portugal.
Estes rapazes têm piada no seu habitat natural, toda a gente que conhece parolos de aldeia e as pequenas morais e politiquices da ruralidade se farta de rir com eles. Porque há pessoas assim, atenção. Na vida real. Aquilo é só um pouco de exagero.
A sua transição para as luzes da ribalta é que falhou e estão claramente apontados para públicos errados e com os seus dotes e talentos amordaçados.
Este filme é péssimo mas tem pontualmente bons sketches. Eu fartei-me de rir na cena da feira em que estavam a discutir assuntos estratégicos e atrás estava uma multidão a jogar ao “dar chapadas ao palhaço”. Mas eu sou o publico alvo desta piada, um parolo que viu demasiados bailaricos e ranchos folclóricos no seu tempo.7 Pecados Rurais.
Apanhei-o num canal do cabo e deixei ficar, meio hipnotizado por este tom rural pelo qual nutro sentimentos e que tão ignorado é pela modernidade ocidental. Não são as piadas de parolo que o estragam, nem os temas rurais da terrinha nem sequer o ambiente de “baixa escolaridade”. É a maneira que se arranjou de compatibilizar esta temática com um público mais urbano, que se acha acima destes ambientes, encarando este portugal real como uma espécie de jardim zoológico da pátria.
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