Aqui estamos nós, amigos, reunidos em volta da fogueira noturna na praia dos filmes Marvel. A assar chouriças, marshmallows tugas, e a degustar uma quantidade anormal de aguardente aquecida. Daquela que não se sente o álcool, e que mamamos sempre um garrafão preventivo antes de entrar na sala. Desta vez, é a quarta encarnação live action do Quarteto Fantástico, que só por este facto responde à habitual pergunta: “Mas quem é que quer saber disto?”. Aparentemente, toda a gente. Lá estou com os meus filhos, o escudo protetor de crítica que uso nestas ocasiões.
A Marvel tem bem presente a lista de críticas que vêm sendo feitas, acumuladas desde o Avengers: Endgame. Não se percebe porquê; os filmes são igualmente pirosos antes e depois desse momento. Existe a ideia de que, antes desse marco, as pessoas alojavam no seu recto a narsa Marvel até ao duodeno sem reclamar, mas a partir daí parecem um bando de cães vadios a ver passar a caravana da Volta a Portugal.
E as críticas são: falta de coesão e linhas orientadoras murchas, necessidade de fazer centenas de horas de TPC para perceber o essencial, guiões genéricos, efeitos especiais reciclados de aspeto barato, nostalgiodependência e a omnipresente nuvem negra do Wokismo, que não sei bem o que significa, mas que lhes é sempre atirada como facas num espetáculo de malabarismo. E o Wokismo, o conceito woke, é a coisa mais elástica desde o canal fibromuscular vaginóide da Cicciolina, cabe lá tudo

Foi destas que a Marvel se quis livrar neste filme, com os seus visuais avassaladores, meio retrofuturistas, meio etéreos. Também se tentou fazer, e bem, um guião mais contido, que não nos obriga a ver 34 vídeos resumo do YouTube a 2.0x de velocidade. Resultou bem, podem levar a vossa avó, cuja última novela que viu foi o Roque Santeiro. E por falar em gostos de avó, o filme apresenta um esquema familiar muito tradicional, com os papéis atribuídos parecidos com o que se fazia “no tempo da outra senhora”, reduzindo o cliché das personagens, que apresentam mais multidimensionalidade do que o costume. Para os geeks de sempre, aparece o Galactus a sério, ao contrário da nuvem de gases da versão dos anos 2000. Tal como a malta queria: com voz gutural de semideus e os cornitos no capacete que reconhecemos, mesmo não sendo fãs.
Nota-se que houve este esforço muito significativo. Aliado a este pacote de melhorias, também se arranjou um elenco competente, apesar da tendência habitual do “Pedro Pascal em tudo”. Ainda assim, sofre do problema crónico da super simplificação, das multidões ao estilo Simpsons; os vilões não são aproveitados, nem explorados, e apresentam-se até bastante simplórios. O ritmo é super bizarro, todas as situações se resolvem de modo básico e é mais um filme do “amor tudo conquista”, e eu vomito-me todo por mim abaixo ali no meio da sala. Um filme muito seguro, que não arrisca, quer agradar a todos e com ainda menos ousadia do que o habitual. Esta nova vertente do multiverso, de filmes passados noutra realidade que não a nossa, retira toda a sensação de perigo ao filme. Ninguém se sente identificado com os perigos e com as vitórias.

A história do filme? Ah, yah… Então, os Fantastic Four existem, com um powerpointzito a substituir o aborrecimento infernal da história de origem. Há um planeta subterrâneo paralelo que dá um jeitão lá para o final. De repente, o arauto do Galactus (Surfista Prateado) aparece e os nossos amigos vão lá ter com ele dizer-lhe: “Anda lá, não nos mates, somos bué de fixes e temos emoções.” O Galactus diz-lhes “ponham-se num porco” e os nossos amigos, que são as únicas pessoas do planeta a olhar para este drama planetário apocalíptico, arranjam um plano de Professor Pardal que, através do poder da coincidência, do muito querer e da força do amor, lol, resulta. FIM.
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