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Category: Não é Xunga Não Senhor! (Page 2 of 11)

Scouts Guide to the Zombie Apocalypse (2015)

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Final de Outono de 1986, Quarta-feira, noite húmida e fria sem chuva. Fui o primeiro miúdo da minha rua a ter um videogravador e não tive que esperar muito para que um amigo seguisse o meu caminho. A partir daí criámos um poder avassalador, desconhecido nas redondezas até à data: copiar filmes do videoclube para os podermos manter até ao final dos tempos na nossa posse. E com isto começou a minha obsessão. Qual curador do MoMA, fui catalogando o produto daquela primitiva pirataria e comecei a fazer trailers dos que mais gostava. Ora, a minha ideia de trailer era meter as melhores partes em segmentos que podiam ir dos 2 aos 5 minutos. Normalmente de filmes hiperviolentos do pós-apocalipse e sempre com decapitações e intestinos expostos. Um dia chegaram à aldeia duas primas de Lisboa de um amigo que pensou que seria boa ideia, para as impressionar, irem a minha casa ver um filme do cinema. “O gajo tem lá filmes que podes escolher e ver o que te apetece. Até podes parar para ir fazer um xixizinho.” As sofisticadas jeitosas da metrópole sentaram-se e eu meti então a minha cassete de trailers para que pudessem escolher. Pensava eu, nos meus modestos inexperientes 14 anos, que os meus gostos eram os mesmos de toda a gente e se eu achava que era bom, todos achavam. Bem, erro fatal. Começaram a passar os clips de 2020 Gladiadores do Texas, Os Salteadores de Atlantis, Os Implacáveis Exterminadores e She A Raínha da Guerra e do Amor. E aquilo era tudo à base de freiras a ser violadas, motards decapitados, setas a atravessar crânios, pessoas trespassados por carros com espigões e muita gente a ser queimada com lança-chamas. Material do género deste post que publiquei há uns anos – The New Barbarians (1983) – Walkthrough. A cassete não chegou ao fim e a última frase que ouvi antes do bater violento e apavorado da porta da rua foi “Credo, que só cá tens cabeças!…”. Todos nos rimos nervosamente em tom jocoso com aquele desconhecimento que os rapazes adolescentes têm acerca das mulheres, e que continuam a ter até ao dia em que lhes ponham uma campa em cima.  E perdemos a oportunidade de uma bela tarde de marmelanço e apalpanço, porque elas não queriam realmente ver filmes, queriam um lenho túrgido da província para afagar por cima das calças enquanto ficavam com os queixas dormentes de tanto intenso linguar.

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The Revenant (2015)

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Chegou aquela altura do ano, aquela época festiva em que somos obrigados a engolir filme atrás de filme antes da cerimónia dos Oscars. Janeiro, um tímido e curto mês para enfardar biopics, “based on a true story”, aleijadinhos, entrevados, deficientes, o primeiro gajo a fazer não sei quê, a história cativante da primeira mulher a aventurar-se num submundo manhoso de homens, o regresso de um actor enterrado no entulho há vinte anos, a tentativa anual do Leonardo DiCaprio de ganhar um Oscar, as piadas à volta disso, aquele blockbuster caríssimo que é nomeado a três categorias técnicas e só ganha melhor som, uma criança que pode ou não ganhar e surpreende todos com um discurso inspirador, um blockbuster disfarçado de art-house que os parolos confundem e o filme do ano do Alejandro González Diñeiritu. E temos mesmo que os ver agora,  porque senão só daqui a dois anos na caixa do 0.99 do Jumbo.

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Capitão Falcão (2015)

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Ao trigésimo dia do mês de Novembro do ano do Senhor 2015, eis que me vejo incumbido de cumprir o honroso dever cívico e patriota de assistir ao documentário do Capitão Falcão e do excelso Presidente António. Um documentário que transforma jovens desmotivados em ferramentas da nação, explicando com seriedade e clareza o que é ser um verdadeiro português, inatingível por qualquer arma, seja de raios ou de ideias. É certo que me senti desconfortável ao ver-me rodeado por jovens barbudos, indumentária desportiva casual que não honra a pátria, um nauseabundo cheiro a sovaco e de semanas inteiras a usar os mesmos piúgos. Que estaria tão nefasto exército de comunas a fazer naquele sacro santo documentário? Seria um golpe em preparação? Havia até mulheres que se riam descontroladamente fazendo com que as seus bojudos seios  abanassem descontroladamente pela falta de decoro de não usar soutien. Como duas montanhas horizontais de robustez carnal. Mulheres de calças que se encontravam acompanhadas por outras mulheres, certamente tinham na boca ainda com o sabor ácido de quem passou o jantar a brincar aos ginecologistas manetas. Assustado não estava, porque o vigor lusitano que em mim corre trataria de desfazer qualquer rebelião com meia dúzia de chibatadas do meu cinto da serra da estrela, curado por pastores nacionais e feito de gado lusitano.

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Commando explicado às crianças

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Este fim de semana perguntei à minha filha de 5 anos se queria ver o Commando comigo. Ela, formatada pelas opiniões da mãe, parte do princípio que todos os filmes que o pai vê são horríveis pastas de terror, morte, cocó e xixi (mas com menos piada). Ora, tive que puxar por mim para a convencer e expliquei-lhe que o filme seguia a seguinte narrativa:

O rei Matrix e sua filha, a princesa Jenny, moram no mais belo castelo no alto da mais alta montanha. Passam o dia a passear pelas frondosas florestas de castanheiros a brincar com os animais e a comer gelados. Ocasionalmente o rei finge estar distraído e a princesa Jenny suja-lhe o nariz com gelado caseiro de mirtilhos. Um dia o bondoso rei deu folga a todos os soldados para que possam passar o feriado do reino, o Festivus, com a sua família. Nesse mesmo dia, aproveitando o rei e a princesa estarem a fazer cupcakes de morango, o invejoso feiticeiro Bené invade o castelo. O corajoso rei consegue bloquear a invasão e manda alguns ajudantes o maléfico feiticeiro para o céu dos maus. No entanto o feiticeiro consegue enganar o rei e rapta a princesa. O rei, furioso, promete apanhar o maléfico feiticeiro e dar-lhe uma valente tareia.

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Turbo Kid (2015)

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2015. Um homem dos tempos modernos, com infindáveis afazeres profissionais e domiciliários, precisa do ocasional relax. Não me refiro a desfolhar o jornal local e telefonar à Martinha Quarentona nova na cidade de peitinhos XXXXL e bumbum guloso. Refiro-me ao retiro ocasional num templo de meditação que é um cinema. Ora, numa dessas fugazes submersões no mundo alcatifado dos multiplexes encontrei um velho conhecido. O pai de um grande amigo que se reformara há meia década, um veterano da vida excitante das embaixadas e da intriga internacional. Apesar de ser uma pessoa com quem mantenho bastante contacto e até algum intercâmbio cultural, não o sabia cinéfilo. Faltava algum tempo para o filme e falámos um pouco acerca da cinefilia e das seus efeitos a médio e longo prazo. Familiarizado com mais de meio século de vagas cinematográficas, perguntei-lhe que filmes prefere ver. Os clássicos do existencialismo sueco de Ingmar Bergman? Os heróis da Nouvelle Vague que viu às escondidas no tempo de faculdade? A visão intemporal sobre a boémia decadência da civilização ocidental de Woody Allen? Os movie brats da Nova Hollywood? Fez-me uma cara feia, como quem chupa um limão, levanta as mãos e sorri com aquela cara de quem olha complacentemente para um atrasadinho. “Que horror, Pedro! Eu só vejo filmes de amor. Não preciso de mais nada nesta fase da minha vida, só romances e as conquistas do amor. Esse cenários exotéricos da ficção científica, o hiper realismo e essa violência toda são para os jovens que precisam de viver experiências para se desenvolverem. Eu estou mais perto da morte que da vida, só quero amor e finais felizes.” Arqueei as sobrancelhas e pensei “Caralho do velho tem razão e agora pareço um parolo do Toca Toca Béu Béu*…

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Ex Machina (2015)

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A tecnologia avança de modo vertiginoso, descontrolada, eufórica… Uma corrida desenfreada que já dura desde que DaVinci alinhou umas rodas dentadas debaixo de uma pele de cabra.  Vivemos num tempo de imprevisibilidade tecnológica, milhões de engenheiros e cientistas a trabalhar, coordenar esforços, em busca do santo graal tecnológico: um robot com entrefolhos correctamente anatómicos que se possa foder. Será a empresa que o criar que poderá controlar o planeta, mudar regimes, criar estratégias globais.  Quem entre nós não apreciaria ter um parceiro sexual topo de gama que tivesse um botão de off e esperasse o sono do amado para actualizar o firmware na pacatez da noite? Depois de engomar camisas e lavar as bancas da cozinha. E é por aqui que a nossa psique colectiva alinha o progresso da humanidade.

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It Follows (2014)

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O hype é a unidade que os cinéfilos usam para quantificar a expectativa que antecede um filme. Bem, na realidade hype pode ser traduzido directamente por expectativa, mas por vezes precisamos de reservar uma conjunto de buzzwords para dar um extra-flair aos textos. Que em parolês significa “embelezar”. O hype também não é claramente quantificável, uma vez que vem em apenas três versões: muito, pouco ou nenhum. Ao hype damos frequentemente carga negativa porque nos estraga sempre a experiência. “Porque diziam que era bom e afinal fica a ligeiros milímetros de ser uma bela merda“. Porque se não for excelente é mau em sob condições de forte hype. Há o hype criado apenas pelo marketing eficaz da máquina publicitária do próprio filme e do seu exército de lacaios disfarçados de especialistas de imprensa e powerusers das redes sociais e há o hype das críticas hiperbolarizadas daqueles que viram o filme antes de nós e precisam de se vangloriar. O hype é como o colesterol. Há hype bom e hype mau. Há que saber distinguir para conseguir prever com alguma exactidão o outcome (buzzword para dar flair) da experiência cinematográfica. O mood que irá definir o mindset aquando do screening. Um amigo com quem temos afinidade cinéfila e no qual confiamos nas críticas e que gostou do filme pode ser interpretado como hype bom. Um parágrafo patrocinado pelas pensos higiénicos Bedhum na revista “Ana mais Atrevida” é hype mau. Uma publicação online ou um blogger independente pode ser hype bom. A esposa do homem do talho que foi esteve a passar a ferro e ouviu dizer o Goucha que um filme seria bom, é hype mau. E assim sucessivamente. Vem esta pequena introdução justificar o facto deste filme ter chegado atrasado ao meu ecrã e se fez copiosamente anteceder por um fluxo de hype capaz de evocar as mais poderosas metáforas menstruais .

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My name is Max. My world is fire and blood.

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Coimbra, 1987. Tudo se resume sempre ao início, à génese das coisas. A um senhor a quem chamávamos “senhor”, de seu verdadeiro nome Dinis, que teve a visão de criar um videoclube e realizar as mais selvagens fantasias de adolescente dos anos 80: poder aceder livremente a pornografia e ver filmes sem sair de casa. Nesse templo de peregrinação semanal conhecemos Max, o louco, numa trilogia de luxo da qual idolatrávamos o segundo tomo como se de uma referência religiosa se tratasse. Lord Humongous era o nosso Satanás e o Road Warrior o Jesus redentor. Os santos e os mártires pereciam à fúria dos demónios das areias nas suas infernais bestas motorizadas. O discurso “There has been too much violence. Too much pain. (…) Just walk away.” rodava 3 ou 4 vezes ao fim de semana numa cópia que fazíamos de vídeo para vídeo, juntando esforços com um vizinho com o intuito de partilhar esta joia. Uma operação tão complexa como activar ogivas nuclear, com os dois responsáveis pelo equipamento a rodar a chave em simultâneo. As nossas bicicletas tinham espigões laterais e nos nossos corpos ostentavam-se as mazelas de acrobacias falhadas. A nossa religião era Max, o louco, e os clones italianos de baixo orçamento eram a nossa perdição. Todos consumidos, todos copiados, todos partilhados. Como representantes da religião de Max, a decepar, mutilar, incinerar e decapitar por esses wastelands fora. “Just walk away” é a voz que ainda oiço a meio da noite, ensopado em suores dos mais nefastos pesadelos. Como senti a falta do cinema do Max de Miller neste anos que passaram. A nossa relação não acabou bem, o último com a Tina Turner foi um embuste, uma colagem de interesses que não resultou como pretendido. Não é um filme desprezível. Também não chega aos calcanhares do Road Warrior.

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Whiplash (2014)

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Nos meus tempos de jovem descomprometido e de ir para onde o vento sopra fui baterista e tive algumas bandas, não necessariamente por esta ordem. Eram tempos de grande azáfama, nos anos 90 centenas de pequenos bares e clubes competiam entre si para ter bandas ao vivo que era isso que a malta gostava. Viver um centésimo do que se vivia na latejante noite de Seattle. Eu não era do tipo rockstar, pelo contrário. Era aquele baterista soturno e cabeludo que servia de técnico de som, transporta caixas e tratava de minimizar os estragos porque as condições nunca eram as prometidas. Isto enquanto o vocalista aproveitava a carrinha vazia para brincar ao esconde o martelo com duas noviças inebriadas facilmente impressionáveis. Entretanto abandonei por razões profissionais, mas o que vivi marcou-me para sempre. O músico que quer ter carreira é uma pessoa obcecada. Alguém que quer chegar ao topo da sua área. Mesmo o facto de saber de antemão que nunca o conseguirá não o irá demover de tentar. Os músicos mais empenhados tornam-se assim em ermitas num estado de quase permanente autismo. A música é a única coisa. É o caminho, a vida e o amor. Melhorar, ser melhor, ser o melhor, progresso diário. Anos depois de abandonar a arte percebi que podes largar a bateria mas a bateria nunca te larga a ti. Um baterista, ou um baixista e percussionista, vive em ritmo. Tudo tem um ritmo e é a ele que obedece. Procura padrões, está em estado de permanente batuque, seja com lápis, dedos, pés, seja em reuniões com a administração, funerais, em conversas que deviam estar a prestar atenção. É uma maldição.

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What We Do In The Shadows (2014)

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Tenho algumas (poucas) regras que sigo no que diz respeito a escrever posts no blog. Uma delas é tentar escrever textos que possam ser lidos sem ser necessário contextualizá-los temporalmente. No entanto hoje vou ter que quebrar essa regra. Hoje, dia 7 de Janeiro de 2015 aconteceram dois negros eventos relacionadas entre si que vou analisar separadamente. Um ataque a uma redação de um jornal humorístico francês provocou 12 mortes, a maior parte jornalistas e cartoonistas. Foram assassinados por pessoas que, zangadas com o mundo, julgaram ver nestes artistas a causa de todos os males da humanidade, interpretaram linearmente as suas subjectividades artísticas e as figuras de estilo caricaturais. Acharam ser o humor a pior das malevolências. Dentro das suas limitadas mentes de cepos unidimensionais terão pensado fazer o seu mundo melhor com a execução sumária destes artistas, jornalistas, cidadãos, pais de família, filhos de alguém… No seguimento desse ataque deu-se o segundo evento que marcará para sempre este dia. Um polícia imobilizado pelos disparos deste ataque jaz ferido e levanta as mãos a pedir clemência, claramente debilitado. Quase em directo, em milhares de canais de TV do mundo inteiro, um elemento das forças que ajudam a manter ordem neste mundo é chacinado com um tiro na cabeça. Sem drama, como se o atirador estivesse a fazer saltitar pedrinhas na superfície de um idílico lago nas montanhas dos Alpes Suíços, como se de uma entediante tarefa rotineira se tratasse. Ali, sob o olhar incrédulo dos cidadãos do mundo, uns a almoçar, outros a jantar, outros ainda na azáfama matinal de preparar as crianças para a escola, a mais fria crueldade colocou fim a uma vida humana. A maior violência que já vi. Não o acto em si, não a execução, não a barbárie associada a todo o conjunto. Todos nós vemos diariamente decapitações, centenas de pessoas alinhadas vivas em valas comuns para serem calmamente executadas por patifes imberbes que parecem aborrecidos por lhes terem interrompido o Grand Theft Auto V quase no último nível. O facto de ter sido apresentado naturalmente, sem grande alarido. “Imagens chocantes“, ouvimos todos os dias e estamos habituados a que seja um isco de audiência. “Ah, é verdade, agora aqui nesta cena um polícia apanha um tiro na cabeça. É melhor tapar os olhos às criancinhas.” A frieza dos média não ajudou a melhorar o dia. Senti o cérebro gelar e fiquei com aquele feedback surdo que costumamos trazer da discoteca às 7 da manhã ou dos concertos de Manowar. “Filhos da puta”, dizia um amigo no facebook. E com toda a razão.

A partir de agora os estados irão unir-se, fazer taskforces, thinktanks, jointventures, regras que irão prejudicar pessoas que não têm relacionamento com isto, uma mini-americanização da Europa, escutados todos os telefonemas, lidas todas as mensagens, escrutinado todo o tráfego internet das famílias que pouco mais que email e preencher o IRS fazem. Um investimento brutal no upgrade do já de si Big Brother. Eu nem me importo de abdicar de algumas liberdades para que os meus filhos, a minha família, os meus amigos, as pessoas que nem sequer conheço mas que decerto merecem tanto como os que amo, tenham segurança. Só que temo o pior. Certamente que um dia a poeira irá baixar e a máquina que tudo cheira nunca cessará de funcionar. Este ano procura terroristas, para o próximo escuta esposas infiéis e ministros corruptos e pouco faltará para que as multinacionais manipulem os poderes para multar e prender os miúdos de 16 anos que usam torrents ou que sacam discos dos Coldplay sem pagar o preço pornográfico que lhes pedem. Espero que não seja este o nosso futuro, que o medo não sirva para nos impor um regime Orwelliano ou o fundamentalismo moral das multinacionais disfarçadas de estado.

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Hell Comes to Frogtown (1988)

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 Com a actual globalização e monopólio de 2 ou 3 estúdios americanos há um deficit de cinema arrojado no mundo. Não nego a sua existência. Reforço, no entanto, a ideia de que a sua distribuição é bloqueada por aqueles que gerem o processo de ponta a ponta, atafulhando por completo os multiplexes de filmes plastificados genéricos de simplória qualidade cinéfila. Tempos houve em que os estúdios arriscavam os chamados “alienígenas escaganifobéticos” na esperança de que o gáudio de um nicho pudesse contagiar outros consumidores e , quiçá, futuros apoiantes deste tipo de produções. Eram generosamente lançados nos canais de distribuição disponíveis na altura. E havia escolha. Uma multiplicidade de opções que, mesmo o mais monodimensional cepo consumia. Ora, nesta excelsa classe do “alienígena escaganifobético” cai Hell Comes to Frogtown, cujo epíteto  encaixa que nem uma luva. Vamos falar um pouco da história do último homem fértil do planeta cujos lideres, sapientes como sempre, lhe ataram uma bomba na gaita para que não pudesse ter comportamentos imorais. A sua função seria copular até ficar com o salpicão em carne viva e não perder tempo a embebedar-se ou a fumar. Haja decoro.

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The Sorcerer (1977)

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Na segunda metade da década de 70 William Friedkin era um realizador com Hollywood no bolso. Estava numa posição de poder escolher qualquer projecto que os meios ser-lhe-iam servidos em bandejas douradas. Podia telefonar às 4 da manhã a pedir um cheeseburger com espectáculo de anãs lésbicas amputadas cuspidoras de fogo ou exigir um sacrifício infantil em massa por imolação em triturador de carne. Sem problemas, tudo na graça do senhor. Ora o projecto que optou por realizar foi Sorcerer, a adaptação do livro Le salaire de la peur de Georges Arnaud. Poderia neste momento encabeçar todas as listas de melhores filmes, ter um estatuto de The Godfather, Taxi Driver ou Clockwork Orange  mas uma improvável sucessão de infortúnios deu-lhe a extrema unção e posterior despejo nas areias movediças do esquecimento Hollywoodiano.

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Edge of Tomorrow (2014)

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Há algum tempo atrás estava num fórum de cinéfilos duros, malta insensível às formulas gastas do mainstream, e numa thread de  novidades perguntei que tal era o novo filme do Tom Cruise. penso que na altura era o Jack Reacher. Esperava eu um tom jocoso e brutalmente cruel para com a vida e obra deste excelso cientólogo quando um dos históricos me responde assim: “Há algum filme do Tom Cruise que seja mau?”. Ora isto meteu-me a pensar na vida, no universo e, na verdade, em toda a existência. Um movimento gasto, inconstante e empoeirado de velhas rodas dentadas deu-se na zona encefálica desta velha carcaça e começou um exercício de pesada ponderação que viria a durar dias.

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This is Spinal Tap (1984)

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Num episódio de Parker Lewis Can’t Loose no início dos anos 90, Mike (o roqueiro musculado de inteligência limitada) perguntava horrorizado a Parker Lewis “Documentário? O que raio é um documentário?”. Parker, com a sua paciência descontraída e a infinita amizade por Mike respondeu “Bem Mike, um documentário é um rockumentário, mas sem rock.” Mike, afável bonacheirão, encolhe os ombros e eleva ligeiramente as sobrancelhas num esgar de compreensão. É de rockumentários que vamos falar hoje, mais precisamente do rockumentário de todos os rockumentários, ainda que em versão mocumentário, o lendário “This is Spinal Tap”que retrata a dura realidade da maior banda ficcionada de todos os tempos.

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Nebraska (2013)

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Ontem foi dia do Pai e eu tive o privilégio de almoçar com o meu. Um almoço normal sem sentimentalismos sazonais. Não foi marcado pela solenidade do dia, foi fruto das tropelias do destino. Falámos de futebol (em termos leigos para eu perceber), de saúde, de cinema e das séries que ele agora vê. Falámos dos netos, da família, dos cães, dos gatos, do preço do frango ser exorbitantemente baixo ao ponto de se dever desconfiar da qualidade para consumo público, dos morangos que plantou só porque os netos gostam de os apanhar e comer “au naturel”. Já não moro com ele há quase 20 anos, não estou longe, mas é cada vez mais complicado apanhar assim um momento. Já não é o mesmo tipo de pai que era nos anos 80, é agora um orgulhoso avô. O meu pai nunca deixou a família para passar a noite com os amigos, nunca se negou a ler-me legendas de filmes completos antes de eu saber ler, contra a vontade da minha mãe atrasou-me várias vezes a hora de deitar para que pudesse ver o The Incredible Shrinking Man, o King Kong ou o Tarantula de 1955. O meu pai ofereceu-me uma metralhadora de aspecto realista que era a inveja dos putos todos da rua. Levava-me ao cinema itinerante lá do lugarejo todos os domingos, religiosamente. “Olha que ele é novo demais”, dizia a minha mãe. “Não lhe há-de fazer mal nenhum!”, respondia ele sem nenhum pedo-psicólogo a infernizar as ondas hertzianas para o contrariar. Acompanhava-me e aos meus amigos nas futeboladas e deixava-me marcar-lhe golos quando estava à baliza. Foi o meu primeiro grande amigo, o original Bro. Ainda o é, mesmo com as azáfama das nossas vidas. Não somos lamechas nem falamos de paneleirices. Só coisas de homem. Ferramentas, técnicas recentes que vieram revolucionar a tradicional matança do porco e da noite de natal em que nos baldámos à missa do galo para ver o Predator 2. Vê-lo a ser assim com os meus filhos faz-me parar o tempo mentalmente para apreciar aqueles momentos. Mesmo que tenha que disfarçar a emoção quando me perguntam porque estou parado a olhar para obtem. Tem as melhores ferramentas e aparece sempre que há alguma tarefa mais bricolática para fazer, mesmo sem eu pedir.

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Sightseers (2012)

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A dor da perda e a tardia percepção de se amar sem ser amado desencadeia uma série de mecanismos de auto-defesa compulsivos inconscientes e involuntários. Uns enfardam pastelaria sortida na tentativa de encher o colossal vazio de chocolate, creme de pasteleiro e massa folhada à base de gorduras hidrogenadas e cancerígenos em geral, outros consomem inutilidades na esperança de substituir a dor da alma pelo catálogo da Benetton, outros compram cães, gatos, coelhos e toda uma panóplia de fauna que por vezes atravessa a fronteira daquilo que é um animal de estimação para aquilo que poderá ser uma bela chanfana. Outros compram uma caçadeira de canos serrados, metem-se num ford escort de 1997 e atravessam 0 país a matar gente para depois relaxarem num belo banho de sais enquanto esfregam os sangue e as vísceras da cara. O importante é exteriorizar a dor e não enlouquecer com ela a fervilhar-nos o cérebro até à loucura

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Top 5 de flops que se tornaram no meu culto.

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O flop, esse chavão que dita o destino de um filme nas mãos de um estúdio e da contabilidade matreira de Hollywood . Só pode ser considerado flop um filme com aspirações a world domination, actualmente um filme que custe pelo menos 100 milhões de dólares a produzir, distribuir e publicitar. Ora, um filme independente  feito por amor à arte nunca é um flop, basta que apareça mais um ou duas pessoas do que mãe do realizador já é êxito transbordante. É um termo quase exclusivamente aplicável ao chamado blockbuster. No Verão de 2013 foi vê-los cair. Parecia a época de caça ás perdizes, nem tinham tempo de levantar voo, porque agora Hollywood define o flop em menos de 24 horas de exibição. Muitas são as vezes em que me meto a pensar de que alguns destes filmes podem ter êxito em circuitos diferentes daqui a 10, 20 ou 100 anos porque o tempo os ajuda a persistir. Os gostos mudam e, quiçá, uma inversão na evolução nos faça amar esta vasta parolice que Hollywood nos tenta enfiar pelas goelas abaixo todas as semanas. Isso aconteceu imensas vezes no passado e o que me traz aqui hoje é uma singela lista de 5 filmes que foram absolutamente humilhados na sua estreia e hoje em dia são filmes que considero obras superiores.

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Resolution (2012)

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Não costumo contextualizar temporalmente os meus posts para que sejam lidos em qualquer altura sem serem maculados pelas referências a eventos que o tempo entretanto fez esquecer. Seja amanhã, daqui a dois anos ou quando os arqueólogos extraterrestres, daqui a 1600 anos, encontrarem o servidor onde tenho o blog alojado. No entanto hoje vou abrir um excepção e dizer que estamos em pré-época de Oscars, aquela silly season cinéfila onde se enfolam pastelões à categoria de obras primas para que possam servir de veículos de fama a algumas pessoas e depois ser esquecidos em enormes cestos nos hipermercados a 1.49 e ninguém os comprar. Já passei por tantos anos disto que desisti de discutir a futilidade do evento. “És do contra!”, “Não admira que não gostes destes filmes, só vês merda.” e o clássico “A crítica é unânime em eleger (novamente)  este como o filme do século.” A minha opinião é que apenas uma pequena percentagem dos filmes têm o seu real valor espelhado nestas festas, que estes eventos são actos de puro marketing que servem apenas para concentrar toda a atenção do mundo nos filmes de meia dúzia de estúdios (como se outras cinematografias não existissem) e sem valor artístico e que os vencedores são manipulados de acordo com uma agenda pré-definida. E assim procuro por me afastar para que não me volte a rebentar a veia que tenho na testa que se irrita cada vez que um paneleiro para aqui vem recitar odes às mentiras que Hollywood lhe enfia no cu. Este ano decidi regressar ao cinema de terror, um gênero do qual me tenho afastado porque sofreu um duro golpe criativo nos anos 2000. Agora parece estar a aparecer uma nova onda de belo cinema de terror independente e é isso que vou investigar. Comecei com Resolution, uma obra de Justin Benson e  Aaron Moorhead, autores que anteriormente nos trouxeram obras como… nada. Nada que tenha cá chegado comercialmente, pelo menos.

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Humanoids from the Deep (1980)

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Quando as festas começam a morrer, a música desaparece, o chão se torna perigosamente escorregadio e o dia começa a nascer, dou comigo a defender de modo violento a minha teoria de que os filmes de terror dos anos 80 e inícios dos anos 90 que tivessem nudez ou uma cena de sexo compostinha no primeira acto, eram uma merda em termos de valores de produção e de satisfação reduzida para o fã inveterado de uma boa matança. E nestas alturas levanta-se sempre um bêbedo do fundo da sala e pergunta “Então e o Humanoids from the Deep ?”. Então paro para repensar e reflectir na minha vida, nas minhas escolhas e a questionar todas as decisões, resoluções e juízos que fiz até então. “Será a minha vida uma ilusão? Um engano? Quem sou eu?”. E depois respondo “Ah, Ya!” num ataque fulminante de adolescência compulsiva, mas sem a habitual ereção.

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A Boy and his Dog (1975)

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Surgia em 1975 um dos filmes mais mal compreendidos de  sempre. Um pós-apocalíptico que não era drama nem acção, um bocado aparolado nas escolhas estéticas, personagens moralmente desprezíveis e cujos protagonistas eram um cão telepata e um jovem violador. Foi arrasado pela crítica, desprezado pelo público e maltratado pela sua produtora, mas o tempo fez-lhe justiça. Por isso puxem uma cadeira e comam um pudinzão, vou contar-vos a história de um rapaz e do seu cão.

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