Nunca fui apreciador de Oscars ou eventos de atribuição de prémios em geral, porque não gosto que decidam coisas para mim. Mas como não vivo numa caverna do Azerbeijão acabo sempre por levar com as avalanches de notícias relacionadas com estes eventos nos dias seguintes. É complicado tentar perceber factos concretos, porque parece ser mais importante o estilista de determinada actriz, informação de box office perfeitamente inútil ou rumores que envolvam invariavelmente Angelina Jolie e a sua atarefada vagina. Mas estranhei o OVNI vencedor deste ano, com aquela sensação que todos conhecemos, que é ver um cavalo sentado num sofá a beber chá numa reunião da Tupperware.
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A honestidade é algo de se louvar nos dias que correm. E neste filme devemos honrar essa mesma qualidade, quando aos 7 minutos um dos protagonistas diz “Estamos aqui hoje para um banho de sangue!” seguido de uns créditos iniciais minimalistas ao estilo grindhouse. E é isso mesmo que temos, um banho de sangue à francesa. E quem tem seguido o cinema de terror francês nos últimos 5 anos sabe perfeitamente que não é nenhuma pêra doce, porque no que diz respeito a carnificina estes gauleses são loucos.
Este filme não o apanhei no cinema, com 9 anos não teria permissão. Mas assim que me foi oferecido o meu primeiro VHS subornei o funcionário do clube de vídeo com uma caixa de meia dúzia de pastéis de Tentúgal. A outra meia dúzia seria entregue quando me guardasse o Terminator. Alugado a uma sexta, foi visto uma dezena de vezes durante o fim de semana por exércitos de putos que entravam e saiam de minha casa. Uns eram amigos outros pagavam vinte escudos e não podiam falar durante o filme sob ameaça de tempestade de calduços. Antes de ser entregue foi copiado 3 vezes e as suas cópias de cópias vendidas a 200 escudos mais o preço da cassete. Fotocópia da capa era mais 15 escudos. O lucro deu para comprar dois discos de Megadeth, três Ginas e um alicate de cortar ferro.
Foi agora encerrado um capítulo que teve início numa preguiçosa tarde de 1995, quando um jovem estudante de engenharia informática se dirigiu sozinho a uma sala de cinema para ver o primeiro volume de Toy Story. Na altura esse jovem indolente de longos cabelos desgrenhados ponderava trocar um futuro promissor como baterista de uma modesta banda de Rock’n Roll por uma carreira nas tecnologias de informação, abandonar a farta gadelha que parecia fazer parte do seu ADN e juntar-se a um exército de engravatados que estava prestes a controlar o mundo. Mas aquilo que seria um retiro espiritual numa sala de cinema rapidamente se transformou num fascínio de tal magnitude que a decisão do rumo de vida ficou adiada. Toy Story era o início de um admirável mundo novo.
Cada vez mais o mundo se leva a sério. Demasiado a sério! É um sinal dos tempos. Ninguém gosta de ser menosprezado, existe uma tendência de dar valor demais coisas que realmente não o têm. Olhem o cinema actual, por exemplo! Mais do que filmes que se levam demasiado a sério (e logo aí perderem toda a piada), temos exércitos de pessoas que os levam a sério só porque o marketing ditou que assim tinha que ser, e depois têm medo de parecer menos inteligentes, eloquentes ou enciclopédicos que os seus compinchas. Mas felizmente que essa tendência não é globalizante. Filmes como Piranha, Machete ou este muy british Severance vêm demonstrar que o cinema divertido, descomprometido e de qualidade não está morto, ao contrário dos seus personagens que aparentam alguma dificuldade em manter a sua integridade física, seja por perigo de degolação, mutilação, perfuração severa ou traumatismos múltiplos provocados por objecto contundente, condição normalmente conhecido por “facada no lombo”.
Olhando para trás apenas podemos dizer da saga “Nightmare on Elm Street” que se tratou de um série directa, honesta e trabalhadora. Não fosse a criação de um personagem icónico, e Elm Street seria mais uma rua onde um slasher movie esventrou meia dúzia de pirralhos mimamos que no auge uma fervilhante tempestade hormonal nem percebiam muito bem o que lhes tinha ceifado a vida. Filme após filme, matança após matança, foi ganhando omnipresença na cultura pop e hoje Freddy Krueger é imortal, a par da cantilena que o imortaliza. E eis que uma Freddy ressuscita como um homem diferente para mais uma série de promissores banhos de sangue. Mais taciturno e pouco dado a oneliners humorísticas, este Freddy esforça-se imenso, mas nunca será um Robert Englund, um tipo que mesmo sem maquilhagem faz borrar as calças a um forcado amador.
Perdi o rasto a Guy Ritchie depois daquele filme em que a Madonna fica presa numa ilha deserta com um empregado italiano que passou a amar depois de um mau começo. E com “amar” quero na realidade dizer “Malhar chouriço até ficar com as bordas em carne viva”. Era mau demais para ser verdade. Depois de Lock, Stock and Two Smoking Barrels e Snatch, é o poder de uma esposa irritante que lhe derruba a superior capacidade de fazer filmes, qual Sansão do celulóide. Fiquei triste e podia ter chorado se ainda me tivessem sobrado lágrimas depois do Phantom Menace. Um dia destes apanhei Revolver no MOV (HD) e pude comprovar que o velho Guy voltou a entrar nos eixos, com um filmezinho bem decente, apesar de vir atrasado para o salvar da infâmia.
Para terem uma ideia do que vou falar neste post, imaginem a cena inicial de “Saving Private Ryan”, mas em vez de nazis a receberem os aliados teríamos piranhas mutantes assassinas sedentas de carne, esfomeadas, capazes de desfazer um ser humano em 23 segundos. Aliás, em vez de soldados aliados imaginem gajas em bikini. Bikini não, de maminhas ao léu e algumas com as reluzentes vaginas a receber directamente luz do sol. Metam umas pitadinhas de sexo, teenagers no cio, Elizabeth Shue (a MILF de serviço) rija como o aço… Mas a melhor razão para amar este filme é porque o James Cameron desaprovou. O dele (Piranha 2 de 1981) foi bem pior. Tem medo que dê mau nome ao 3D. Meus senhores, se o 3D tiver alguma utilidade, que duvido, é para ver gajas em pelota. Oscar, já!
Nós, cinéfilos com experiência, já percebemos por várias ocasiões que ver um filme que gostamos nem sempre é sinónimo de entretenimento e tempo bem passado. Há filmes que se tornam inesquecíveis, que crescem dentro de nós pelo seu hiperealismo ou desconforto de determinada temática. “Idiotern” de LarsVon Trier ou “Martyrs” de Pascal Laugier são exemplos disso mesmo que falei por aqui recentemente. Mas abordar miséria humana, terrorismo, toxicodependência, abusos infantis, pedofilia, necrofilia e crueldade num tom de esperança e optimismo, só mesmo Terry Gilliam.
Hoje falamos de cinema francês. Não daqueles antigos filmes francófonos, das gajas de mamas pequenas em tronco nu, no Louvre de cigarro na mão, a recitar Baudelaire e a fazer mamadas. Hoje falamos num daqueles filmes franceses que são um misto de comédia de situação com drama existencial, que vive de uma aparente promiscuidade e no final parece acabar em lição de moral, mas uma cena extra transforma a mensagem na mais aterradora badalhoquice. Estão a perceber? Claro que não. Afinal quem é que lê críticas de filmes franceses?
Porto, Rua de Cedofeita. 8:47 da manhã. Segunda-feira. Enquanto tento esquecer o sabor a café torrado cheio de borras que acaba de me ser servido numa esplanada surpreendentemente bem frequentada, leio no JN a notícia de uma esposa que matou o marido à machadada e martelada para depois partilhar o leito conjugal com o cadáver durante 3 dias. Ah, as loucuras da juventude! Não pude evitar alguns pensamentos relacionados com a ausencia do efeito da gravidade nos seios de uma catraia que lia um exemplar envelhecido de “Deus tem Caspa” de Júlio Henriques na mesa em frente e em como a descrição gráfica e dolorosamente lenta da prazenteira homicida me fez lembrar Sympathy for Mr Vengeance, de Chan-wook Park, essa entidade superior incapaz de produzir mau cinema.
“Matar” é o novo “amar”. E nada diz amor como alguém a ser cortado em dois por um lança granadas antes do créditos iniciais. São estes gestos de carinho para com um público sedente dos seus heróis de infância que fazem de Expendables o guilty pleasure deste verão. Tudo bem que às vezes parece demasiado digital, mas sempre é melhor do que gramar semana após semana de homossexualidade reprimida de heróis Marvel em collants, maquilhagem e vigorosa mariquice .
Já dizia Freud “Ama a tua mãe como a ti mesmo”, ao criar a associação entre os sonhos e a masturbação. Os sonhos, esse mistério da mente humana, tão banais quanto complexos. Todos os temos e, convenhamos, todos os analisamos. Desde as fantasias eróticas às premonições apocalípticas, os sonhos são o terreno mais fértil da mente. Nem é preciso nenhuma aptidão intelectual nem esforço, pelo contrário, basta adormecer. Inception é uma visita guiada a este maravilhoso mundo, aos seus níveis e sub-niveis, à negação das leis da física e do vale tudo. Christopher Nolan, o ilusionista de Hollywood, é o homem indicado para nos demonstrar a dinâmica dos devaneios da mente humana e como piratear as nossas memórias mais preciosas. Spoilers em barda, ficam já avisados.
Filmes fabulosos espezinhados pelo passar dos tempos, porque o timing da estreia foi errado, porque algum elemento do próprio filme ofuscou tudo o resto. Todos nós temos uma lista de filmes que achamos ser menosprezados pela comunidade cinéfila mundial, filmes que mereciam um lugar nas estrelas e por vezes não chegam a ser um rodapé fugaz de um livro obscuro. Apresento-vos a lista de filmes que penso serem injustamente desconsiderados pela comunidade. Não os vou numerar. Esta é a minha primeira lista de 5 pérolas esquecidas.
The Adventures of Baron Munchausen (1988)
No fim de semana passado, meio adormecido, fiz um zapping preguiçoso pelos canais de cinema. Meu Deus, estariam os meus olhos a pregar-me partidas? Estava a começar a Fantástica Aventura do Barão. Esta obra prima de Terry Gilliam marcou a minha juventude e é um daqueles filmes que idolatro, mas que raramente encontro alma gémea cinéfila com quem possa trocar referências. Um inebriante cheirinho a Monty Python, como que a fazer ecoar a sua memória até aos dias de hoje. Terry Gilliam é, no mínimo, semi-deus. (Tirando os Irmãos Grimm, filme pelo qual merece ser torturado com uma pêra rectal*)
O mundo está cheio de incertezas, dualidades e falácias, mas existe um conjunto de verdades absolutas que nos prendem à realidade e nos ajudam a manter uma ancora de consciência. São os chamados alicerces existenciais, conceitos de tal exactidão que não podem nunca ser negados ou duvidados. Alguns exemplos são as leis da termodinâmica, a velocidade da luz ou o facto de todas as gajas que possuem gatos serem psicóticas. Outras verdades menos conhecidas, mas igualmente autênticas, são a constatação de que os tomos 3 e 4 do Super-Homem são filmes horrendos. Por isso mesmo alguém teve que meter mãos à obra e devolver alguma dignidade ao Super-Homem de Christopher Reeve, rasgando para sempre o tecido da própria realidade tal como a conhecemos. Ou algo do género…
No final dos anos 80 esperava-se ardentemente o tomo 3 da saga Rambo. Era uma ideia que nos dissolvia o cérebro por dentro, não nos deixava raciocinar para além da expectativa da matança anunciada que se aproximava, qual profecia divina. O Escolhido iria mais uma vez salvar os oprimidos naquele que seria, indubitavelmente, o maior banho de sangue da História. Eu e o Zé fizemos uma jura de sangue que iríamos ver o filme juntos, mal estreasse. Para nós não havia muita coisa sagrada. Trocávamos os livros do Patinhas, os discos de vinil (excepto o Master of Puppets e o Number of the Beast) e até as namoradas podiam ser emprestadas se tal fosse necessário. Mas as promessas de sangue eram para cumprir e se envolvessem o Rambo pior ainda. Mas nesse malfadado Verão, consumido por uma desejo incontrolável, fui ver o filme na primeira oportunidade que tive, sozinho, sem o Zé. A sombra da traição ainda hoje me persegue, como um nuvem do Apocalipse que ainda hoje me provoca um ligeiro desconforto a cada vez que vejo o Rambo 3.
Quando um cinéfilo inexperiente cataloga uma obra como sendo um “filme marado” é porque não conseguiu encontrar no seu saco de clichés americanos algo com que o comparar. “Marado” é adjectivo que realça a não convencionalidade da obra, sendo que esta característica poderá ser uma coisa boa ou má. Há o “marado” saudável e imaginativo de Terry Gilliam, o “marado” deliciosamente pérfido, herege e debochado de John Waters e Cronenberg, o “marado” que escreve nonsense surreal e depois diz que há um significado que só ele conhece de David Lynch. Temos ainda os japoneses encabeçados pelo sociopata Takashi Miike ou mesmo o centenário alucinogénico supertuga Manoel de Oliveira. E depois há Idiotern de Lars Von Trier, um filme que desafia qualquer catalogação, o marado dos marados, uma delicia de filme que amamos odiar.
Se para muitos ela é apenas uma actriz de semblante equídeo com a elegância de uma vaca trucidada três vezes no mesmo dia por comboios diferentes, para outros ela é a musa dos vampiros de Twilight. Feia, escancarada e com o carisma de uma pá de valar, é certo, mas capaz de atrair público com dificuldade de compreender enredos com complexidade superior aos Irmãos Koala. Esta galdéria drogada fortemente viciada em pílulas do dia seguinte e relaxantes musculares também faz outros filmes que não sejam da saga Twilight. Ironia das ironias, acabamos por ter em Adventureland um filme não muito mau, o típico indie teen existencialista, que não sendo original também não provoca o vómito compulsivo.
Todos nós temos uma listinha de falhas cinematográficas graves, filmes que ficaram para trás. São perfeitamente normais, o tempo não é um recurso infinito de que possamos desfrutar. V for Vendetta é um filme que vejo com cinco anos de atraso por puro preconceito. Na altura em que estreou não estava ainda refeito do pastelão que foram as sequelas de Matrix e não conhecia ainda a Graphic Novel do adorável lunático Alan Moore. É sempre um prazer ver Natalie Portman toda rapadinha…
Existe um tema tão poderoso em controvérsia que não são raras as vezes que divida famílias, aldeias, cidades ou mesmo países. Num milisegundo podemos passar do amor fraternal ao ódio supremo. Uma troca de palavras mal calculada ou um item esquecido e uma densa onda de raiva instala-se em permanência. Sim, a troca de tupperwares entre donas de casa é um assunto bastante sensível, mas com pouco potencial dramático além da óbvia tensão lésbica. Por isso mesmo Alejandro Amenábar decidiu pegar no segundo assunto mais sensível para nos brindar com uma nova obra prima. Esse assunto é a religião e as suas atrocidades e o filme é Ágora, uma das sete maravilhas do cinema moderno.
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