Apesar de haver no cinema imensos hábeis artesãos, técnicos competentes, contadores de histórias natos e visionários subversivos, o certo é que génios há poucos. Na realidade eu só me lembro de um colectivo de génios que revolucionaram as imaginações mundiais há mais de 40 anos, fazendo algo que ainda hoje é desafiador e incompreendido. Monty Python, os criadores da cómédia que efectivamente tem piada, alteraram por completo o paradigma do humor. O efeito ainda hoje nos brinda com a ocasional obra de arte pelas mãos daquele que é considerado o Monty Python invisível: Terry Gilliam. Continue reading
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Megan Fox é um totem pós-moderno do culto da “sexualidade que está para vir”, tipicamente idolatrada por teenagers virgens que aquecem o pescoço em sua honra. É verdade que é bonita e sensual, mas para aqueles lados são todas bonitas e sensuais. Só que esta é sonsa, má actriz. O chamado monólito unidimensional. O que não se compreende é a frequência com que é usada como arma de arremesso a cada vez que se quer chamar às salas pubescentes no pináculo da crise hormonal cujo único medo é que a masturbação cause efectivamente cegueira.
Robocop é um clássico intemporal, um filme que é já uma instituição e um conceito que ultrapassa em muito as barreiras da sétima arte. Muito mais do que um dos melhores filmes dos anos 80, é também um dos melhores filmes de ficção científica da história do cinema. Mas há um segredo negro em Robocop, uma verdade escondida que todos conhecemos e temos muitas vezes vergonha de admitir em público. É que por muito viril e poderoso que seja o Murphy Robocop, há um personagem de tão infinito coolness que ao seu lado Murphy parece um pigmeu efeminado: o seu nome é ED-209…
Era uma manhã quente de Verão em meados dos anos 90. Não tinha ainda recuperado totalmente a consciência num bar nos arredores de Proença-a-Nova e já um senhor de meia idade estava a falar comigo. Ignorei-o, como faço a toda a gente, mas o seu matraquear era imparável e percebi que só depois de o ouvir me poderia ver livre da sua maçuda companhia. Chamava-se Alcides e dizia ser bastante conhecido em Portugal devido ao seu disco de música popular “Levar leitinho na bilha”. Anuí por compaixão. Estava acompanhado de um acordeão e uma rapariga jovem de ar muito usado que dizia não se poder sentar porque lhe doía o cu.
Mentira, o conceito que sustenta os pilares das sociedades desde o nascer dos tempos, o conceito que permite que a frágil estrutura de moralidade e bons costumes não desabe sobre si mesma, engolindo para sempre o mundo na noite eterna da miséria humana. Quem não tem nada a esconder ou diz não saber mentir é, só por si, um mentiroso profissional. Mas como seria um mundo sem mentira, um mundo onde a honestidade é a standard cruel sob a qual as pessoas carregam o seu enfadonho quotidiano? Um mundo sem imaginação, sem ficção e sem a mais pálida centelha de engenho? Ricky Gervais disfarça a sua obra multidimensional de comédia romântica, tão querida pelo grande público, o mesmo tempo que enraba todos os valores morais, políticos e religiosos da civilização ocidental no mesmo processo.
Corria o ano de 1987. Meados de Julho. Já havia passado mais de um mês de férias grandes e a euforia lentamente se transformava num quase imperceptível tédio. Suave, mas a ganhar força. Eram 4 da manhã e eu, o meu amigo Zé e o meu primo João regressávamos de um baile de uma aldeia vizinha, onde fomos na esperança de ver pelo menos uma cover de Judas Priest ou Ramones. Recusamos várias danças e o balanço da noite resumiu-se a dois apalpões e a promessa de um aquecimento de pescoço lá mais para o final da semana. Chegados a casa decidimos meter um VHS alugado no dia anterior. O exorcista… Duas horas depois três teenagers apavorados jaziam imóveis num sofá, sem pestanejar, quase sem respirar, a esperar pela luz do dia. Só com os primeiros raios de sol ganhámos força nas pernas e o sangue voltou a fluir com naturalidade. Até ao dia de hoje continua a ser uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida.
Há 10 anos que a NASA apenas faz voos espaciais com robots, desde que a Space Shuttle Venture desapareceu sem deixar rasto. Mas 10 anos depois a Venture aterra no Centro Espacial Kennedy, trazendo apenas a bordo um dos sete astronautas originais. Este astronauta, chefe de missão, fala uma língua estranha quando é abordado por militares. Além disso a nave vem protegida com uma sistema de pele biológico e um motor orgânico de uma tecnologia incompreendida pelos técnicos da NASA. Mas a trama adensa-se quando é descoberta areia de Marte nas rodas da Venture. Terá ido até Marte? Ou Marte foi apenas uma das múltipas paragens?
Se eu vos disser que vou falar novamente de um filme francês que gostei, o mais certo é que só veja a vossa forma em fumo no espaço antes ocupado pelo vosso corpo e um intenso cheiro a borracha queimada provocado por um arranque rápido em direcção a um destino menos enfadonho. Mas se vos disser que este é o novo filme de Jean-Pierre Jeunet? O mestre por detrás de Delicatessen e La cité des enfants perdus que conheceu a fama e glória com Le fabuleux destin d’Amélie Poulain e o famigerado Alien: Resurrection?
O thriller, enquanto policial obscuro quase a roçar a ténue fronteira com o filme de terror ou paranormal, está a definhar. Uma tendência popularizada por Hitchcock e eleita ocasionalmente por realizadores competentes para exercícios de estilo, saudosismos ou para contar uma história com mais densidade do que é previsível num filme mainstream. E se é certo que na maior parte das vezes o resultado acaba por se vaporizar para o eterno vazio da memória cinematográfica mundial, também é certo que por vezes aparecem obras excepcionais, histórias que nos amarram como octopodes viscosos e só largam depois do climax narrativo.
Os filmes da minha adolescência foram maioritariamente slasher movies de extrema violência. Ainda assim já vou com 36 anos e ainda não matei ninguém. Não havia necessidade de proteger as criancinhas das influências satânicas da violência televisiva. A malta sabia que eram apenas filmes. Nos dias de hoje protegemos as nossas crias da nefasta influência da violência mostrando-lhes filmes de vampiros que brilham ao sol, mortos-vivos deprimidos crónicos com paralisia facial e cuja única carne humana que comem é pénis, normalmente de empurrão…
Hoje não falo de filmes nem de deboche. Para quem não sabe, o product placement é a buzz word que define “colocar descaradamente publicidade em filmes, séries, jogos ou outros produtos de multimédia e entretenimento”. Outra coisa que eu quero dizer, e já que estou numa fase da vida de desabafo, é “Odeio a Apple”. E o mais curioso é que nunca fui cliente nem usei nada da Apple. Eu sei que tenho amigos e leitores completamente Apple-dependentes que mais depressa afagavam o testículo do Steve Jobs do que davam sangue à própria mãe. Mas não já estou num ponto de não suportar a ideia criada por Hollywood de que o único telemóvel do mundo é o iPhone, o único leitor de MP3 é o Ipod, os únicos portáteis são os Mac e agora esta insuportável pasta de merda seca que é o Ipad.
Sexta-Feira chuvosa. Estava eu num bar de alterne na Zouparria a olhar para cinco prostitutas deprimidas. Entre todas partilhavam 12 dentes e 382 era o total das suas idades somadas. Fingi beber a minha água campilho e saí pela janela da casa de banho, sem pagar. Estava a precisar de um bom filme para lavar a alma. Apanhei o início do Spirit num canal Premium do cabo. Passados 30 minutos estava a ponderar se não seria menos doloroso arriscar gonorreia com a Jandira, uma brasileira que se orgulhava de ter feito duas mamadas a Goebbles na altura em que ele ainda era presidente da junta de uma pequena freguesia nos arredores de Frankfurt.
Uma ilustração de uma testemunha de uma sexta-feira santa na vida de Chewbacca no lado negro. Devassar o rego da princesa Leia antes do pequeno-almoço, arrancar novamente a cabeça àquele insuportável android gay, pedir de volta os 500 paus que emprestou ao Hitler num bar em Malkinia (Polónia) em 1939 e devassar o rego da esposa do seu primo Fred antes do almoço.
Imaginação, essa característica da mente humana tão em desuso. Para que se possa contar com a previsibilidade de um mundo uniformemente cinzentão é preciso que todas as pessoas sejam desde cedo refreadas de qualquer centelha de pensamento abstracto ou sentido de humor. Actualmente as nossas crianças mais imaginativas são brindadas com o título de “hiperactivos” e uma visita ao psicólogo. Spike Jonze, esse mestre do subconsciente, faz-nos um retrato fiel do que é ser criança, do que é encontrar conforto fora da realidade, do que é compreender o incompreensível.
Ideia para filme arraçado de BD: Um arqueólogo encontra um túmulo perto do Vale dos Reis, Egipto. Ao entrar na câmara proibida encontra duas maldições: a do Escaravelho de Mármore preto e outra que não consegue decifrar. Anos mais tarde começa a aperceber-se que está a ficar com poderes. Transforma-se no Homem-Escaravelho, capaz de criar e enviar quantidades incríveis de excrementos acomodada sob a forma de bolas. De dia é o mais notável arqueólogo do planeta, de noite combate o crime atirando gigantescas bolas de merda paralisantes ou explosivas. O seu esconderijo é na pirâmide de Gizé, onde tem um exército de 200.000 hamsters a produzir energia eléctrica e toneladas de fezes para os seus gadgets…
Já antes ouvira falar de Spongebob, mas confesso que nunca vi nada desta famosa série de TV. Tive a oportunidade de pegar no DVD da versão “big screen movie” e li o argumento. Mas quem consegue resistir a um filme onde o vilão maléfico é um pedaço de plancton que quer conquistar o mundo (à laia de mr. Ernst Stavro Blofeld)? E onde se promete surrealismo que faria Dali enrolar os bigodes de vergonha? E que ainda por cima tem David Hasselhoff a dar uma perninha que faz lembrar aquele reclame do Ice Tea com o José Cid? Eu concerteza que não… Alguma vez viram alguém conduzir uma sandwich? Eu já…
Apesar do teu lugar garantido na imortalidade dos tempos, apesar de continuares junto de nós pela tua obra, a tua falta será sentida. Mas se por acaso voltares, trás 2 kilos de laranjas, meia dúzia de ovos e 250 gramas de chourição Ibérico da mercearia do senhor Amilcar. O chourição é Gran Doblon, sem picante e pede à senhora para tirar a gordura.
Apesar desta crise artística e criativa que afecta o cinema português desde 1895, é errado dizer que tudo o que cá se faz não passa de um nefasto agoiro, capaz de meter medo ao susto. Há obras ocasionais que fazem levantar o sobrolho. Vi este Odete sem esperança, sem um único pingo de expectativa, preparado para a mais abominável obra alguma vez concebida por um ser humano, capaz de provocar farto vómito a alguém que esteja há duas semanas em greve de fome. E em parte até acertei. É retorcido e disforme. Bizarro e animalesco. Doentinho. Mas no bom sentido.
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