Depois de uma trip megalómana de proporções quase bíblicas que foi a trilogia Lord of the Rings, é óbvio para todos (incluindo para o próprio) que o caminho a seguir só poderá ser o da sobriedade e da simplificação. Mas num filme que poderia ter estas características, encontramos um Peter Jackson completamente viciado em efeitos especiais e na sua querida Weta Software, ofuscando por completo uma história que poderia ser bem poderosa, não fosse o onanismo visual de Jackson. Não é que eu me importe com a masturbação estética e tecnológica dele, eu só não gosto é que me ejaculem nos olhos.
Peter Jackson é realizador de dois dos meus filmes preferidos: Braindead e Bad Taste. Carnificina à parte, é de um sentido de humor bem requintado, diria mesmo único. Meet The Feebles é também uma obra superior e The Frighteners é bem esgalhado com um Michael J. Fox em plena forma, numa fase em que ultrapassou claramente o typecast de teenager eterno deixado pela saga Back To The Future. Para mim bastava isto e nada mais para ser um realizador que admire. Mas um homem não vive de ar e a trilogia Lord Of The Rings transportou-o para a camada superior da estratosfera hollywoodiana que lhe permite ter, entre outras coisas, felácios diários à conta de jovens debutantes com o sonho de estrelar uma película de sucesso.
The Lovely Bones é um filme original no meio cinematográfico, apesar deste tipo de narrativas ser algo comum na literatura, lembro-me assim de repente de Hey Nostradamus! de Douglas Coupland. Uma miúda é assassinada e o narrativa é contada do seu ponto de vista, algures numa dimensão intermédia entre a existência terrena e aquilo a que se convencionou chamar de Céu. A história é muito boa, poderosa e emocional. Capaz de nos sacar simpatia e todas as aquelas emoções de validade bastante limitada que os bons filmes nos costumam trazer. A fotografia é exemplar, muito saturada e seventies, sobre exposta quando se filma ingenuidade e jovialidade e aterradoramente negra quando se lida com o Mal.
Mas eis que Jackson consegue estragar tudo com uma densidade tal de efeitos especiais e CGI desnecessário que nos distrai completamente do essencial. Paisagens wallpaper, cenários megalómanos e sequências fortemente digitais. Tão digital que podemos facilmente imaginar o Frodo a mandar uma cagada atrás de um daqueles arbustos ou Gandalf a afagar o cavalo numa planície technicolor de farta verdura.
Teria preferido uma aproximação mais simples ao tema e um outro filme fortemente digital de brainless fun ao estilo de guilty pleasure. Mas não é isso que temos, é o que descrevi em cima. Sendo assim só há um caminho a seguir: atirar com ele para o imenso saco dos filmes xunga, para aquela secção do eterno esquecimento, daquele tipo de filmes que daqui a um ano só nos lembramos do título e mesmo assim mal.
Fiquei exactamente com a impressao que tu expressas só de ver os trailers.
E sim, Braindead ftw. Ainda hoje é dificil comer uma sopa sem me lembrar desse filme (excepto se for caldo verde).