Aqueles que entraram no submundo da sétima arte no início dos anos 80, como este vosso estragado escriba, aprenderam a odiar com todo o seu ser os Westerns, ou “filmes de cóboys” como eram conhecidos na altura. A razão para tal é o facto de este género ser o preferido da geração anterior, e os teenagers rebeldes dos anos 80, queimados de tanto ouvir Sigue Sigue Sputnik e jogar Manic Miner no ZX Spectrum não queriam saber dos filmes que a velhada gostava. No desfecho dos anos 70 e da sua debochada espampanância alucinogénica, os filhos dos anos 80 só queriam saber de ficção científica, batalhas espaciais, universos alternativos, ultra-violência, pornografia e action heroes de forças sobrenatural (Tendo como templates Rambo e Commando). Os seus pais insistiam com Bonanza e Ben-Hur e os pirralhos mimados, mal educados como qualquer puto ranhoso que se preze, zombavam das boas intenções dos seus progenitores. E assim continuou esta imbecilidade, até aqueles que se mantiveram constantes na cinéfila cresceram até aos quase quarenta anos (que lhes assombram os pesadelos). Sim, somos agora os velhos e algumas ilações devemos tirar dos nossos erros passados.
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Para se perceber o dinâmica da cinematografia de Terrence Malick é preciso ver-lhe os filmes por ordem cronológica, pois faz tudo parte de um grande plano, um organismo, uma entidade fortemente enraizada em sentimentos fortes, contradições e a eterna dualidade entre as mais violentas dores da existência humana e a beleza e perfeição da natureza e do grande esquema das coisas. Um homem que coloca à frente a sua formação em filosofia e em segundo plano a técnica e lógica cinematográfica não pode nunca fazer o mesmo tipo de filmes de um Spielberg ou Nolan. Existirá um Deus? Para Malick há, mas não interfere no modo como humanos fodem as suas vidas, está demasiado ocupado a ser o grande arquitecto e a impedir que o sacudir das asas de uma borboleta na floresta do Butão crie um terramoto em Bonnetsville na Carolina do Norte.
Hoje vamos dar um salto ao cinema da extinta URSS para uma pérola de extravagancia soviética, uma misto de ficção cientifica com o mais puro slapstick, um dos exemplos mais famosos de blockbuster soviete. É praticamente impossível resistir a um filme cujo título internacional é “Ivan Vasilievich: Back to the Future”, que mesmo não tendo nada a ver com o homónimo de Michael J. Fox, partilha a sensação de afligimento de quem está involuntariamente entalado numa época que não é sua. No final do filme conseguimos responder à questão meta-física que mais atormenta a humanidade do século XXI: “Porque necessitamos nós de um carregador solar para o nosso smartphone? Para o caso de viajarmos acidentalmente para o passado…“
Se é verdade que o estilo “blockbuster charlatão e untuoso” vive da contemporaneidade e do cutting edge tecnológico fazendo parecer velho um filme com dois anos, o mesmo não se pode aplicar a um filme que vive de narrativa e engenho criativo. É que antigamente também se escrevia. Usavam-se uns artefactos oblongos chamados “canetas” que estampavam caracteres directamente no papel sem necessidade de impressora. E escrevia-se com muita qualidade, por estranho que possa parecer. E que o digam os produtores da Hollywood actual, que conseguem simular virtualmente a vida, o universo e tudo mais, mas quando precisam de uma história que não envolva tiroteio despropositado e aniquilação de meia Nova Iorque por entidades imaginárias têm que se virar para os argumentos de outrora, nem que seja para lhes fazer o downgrade de excelência para brainless action movie de tiroteio despropositado e aniquilação de meia Nova Iorque entidades imaginárias.
Corria o ano de 1987. Meados de Julho. Já havia passado mais de um mês de férias grandes e a euforia lentamente se transformava num quase imperceptível tédio. Suave, mas a ganhar força. Eram 4 da manhã e eu, o meu amigo Zé e o meu primo João regressávamos de um baile de uma aldeia vizinha, onde fomos na esperança de ver pelo menos uma cover de Judas Priest ou Ramones. Recusamos várias danças e o balanço da noite resumiu-se a dois apalpões e a promessa de um aquecimento de pescoço lá mais para o final da semana. Chegados a casa decidimos meter um VHS alugado no dia anterior. O exorcista… Duas horas depois três teenagers apavorados jaziam imóveis num sofá, sem pestanejar, quase sem respirar, a esperar pela luz do dia. Só com os primeiros raios de sol ganhámos força nas pernas e o sangue voltou a fluir com naturalidade. Até ao dia de hoje continua a ser uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida.
Sleeper é uma genial incursão de Woody Allen na ficção científica. Passado no ano 2173 recebeu o ignóbil título português de “O herói do ano 2000”, uma falha de aproximadamente 173 anos que se deve ao facto de nenhuma das pessoas envolvida na tradução do título ter visto o filme. É o filme que Woody Allen fez no ano em que eu nasci e tem as lendárias cenas do Orgasmatron, as Orbs (droga do futuro) e uma luta épica com uma banana e um espargo gigante, isto enquanto o mundo é governado por um nariz…
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