Quando tinha 10 anos fui ao circo. No intervalo saí para ir ao WC e quando voltava enganei-me na porta. Entrei no backstage. Aquilo que vi naquela imunda salinha fez-me repensar toda a minha perspectiva sobre a existência humana. O ambiente nebuloso com um misto de cheiros que ia desde o tabaco entranhado nos tecidos até ao forte suor de quem não se lava há meses, passando pelo odor a peido permanente misturado com chulé, encerrava uma imagem que ainda hoje tenho apegada bem no meio do pódio dos traumas de infância. O mesmo palhaço que tinha acabado de fazer um adorável número musical com um serrote estava agora a praguejar como um trolha bêbedo. As palavras de um grau impensável de asneiredo só não me chocaram mais porque o impacto visual de um palhaço sem calças, sentado num sofá gasto a fumar um fino cigarro com cheiro a incenso e a acariciar o peludo testículo que lhe saía dos truces foi manifestamente superior. Olhou para mim, teceu um esgar de compaixão e proferiu uma frase que nunca mais irei esquecer “Hey caralhito, e se te pusesses nas putas? É a porta ao lado que querias, ó paneleirote!”. Ora este incidente, por muito pérfido que possa ter sido, ensinou-me uma das mais importantes lições da minha vida. Desde esse dia compreendi finalmente o segredo da felicidade. Afinal tudo passa por não ter expectativas altas em relação a nada. Este ensinamento, por muito insignificante que possa parecer, ajuda-nos a encarar todos os acontecimentos do dia a dia com júbilo acrescido. Seja numa situação profissional que afinal não é tão horrível como à primeira vista poderia parecer ou num inesperado encontro de sexo em grupo. Manter as expectativas baixas é sempre o segredo da felicidade. Quanto muito da ausência de infelicidade, que nos dias que correm já é bem bom.
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As adaptações de comics da Marvel pela linhas de montagem de Hollywood dos últimos anos têm em comum um factor, um parâmetro de avaliação, um indicador de qualidade conhecido internacionalmente como “Merda”. É o coeficiente de horribilidade presente numa produção, que pode ser maior ou menor, mas quando presente em valor positivo não costuma augurar grande sucesso à demanda de passar um noite agradável. E lá está, Captain America não é diferente. Fora das pranchas dos comics e das fronteiras patriotas dos Estados Unidos, o resultado da missão deste jovem capitão é o amargo sabor da derrota e do falhanço total.
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