Em 1994 tive um reencontro com 9 ou 10 amigos de liceu. Fomos jantar e a noite foi dura. A certa altura estávamos completamente queimados num estado de realidade fortemente alterada. Ninguém estranhava o pinguim que cortava fatias com um florete flamejante multicolor de um bolo que parecia teimar em subir as paredes para encontrar o amor de infância que entretanto se transmutara sob a forma de uma sólida bolha avermelhada que lia um artigo dos Dead Kennedys num exemplar do extinto jornal Se7e. No tecto. Era noite de confidências e um de nós confessou que uma vez uma colega nossa o teria presenteado com um bela sessão de sexo oral e pediu que ele não contasse a ninguém porque era a primeira vez que tinha feito tal coisa, a loucura do momento, envergonhada, etc. Criou-se um estranho ambiente e passados 3 milisegundos percebeu-se que esta história tinha acontecido a todos, à excepção do Sandro, que tinha levado apenas alivio manual. Só parámos de rir compulsivamente quando percebemos que foi tudo na mesmo tarde, numa festa de aniversário.
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Todos temos os nossos rituais, sejam satânicos ou convencionais, sejam obsessivos compulsivos, entrar sempre com o pé direito ou limpar a gaita aos lençóis depois do acto ignorando os pungentes apelos femininos de que há lenços na primeira gaveta. Eu não sou diferente de ninguém e tenho os meus que, vim a aprender com o tempo, são perfeitamente normais. Dormir com t-shirts publicitárias, começar sempre uma viagem com “Nothing Really Ends” dos dEUS, rapar o escroto e fazê-lo reluzir com azeite virgem antes de ir à pastelaria ao domingo de manhã comprar pão e ler o folhetim do sindicato dos talhantes de Serpins e, ritual cinéfilo, ver um filme diferente de zombies nazis uma vez por ano.
Uma rebelião de patinhos de borracha humanizados que dança freneticamente ao som dos Bloc Party é barbaramente reprimido por uma força policial que usa, claramente, meios demasiado violentos para a situação. O que os polícias não sabem é que ao serem tocados por um patinho de borracha humanizado tornam-se também eles em felpudos e amarelinhos patinhos que dançam freneticamente ao som dos Bloc Party. Algum tempo depois apenas um pequeno grupo de sobreviventes resiste à transformação em patinho de borracha. Barricados na estação de serviço de Antuã, com os últimos pastéis de bacalhau comidos e atormentados por violentas crises de refluxo ácido conversam acerca da exorbitância incompreensível dos valores dos produtos nas auto-estradas. Quando uma rapariga loura, ar inteligente e mamas de invejável robustez se prepara para elucidar estes corajosos sobreviventes acerca da necessidade inflacionária de preços especulativos face às rendas pornográficas que as concessionárias cobram a honestos comerciantes para manter uma estação de serviço a funcionar, começa a ouvir-se ao longe Bloc Party. E enquanto o sol se põe, uma enorme mancha amarela começa a aproximar-se para aquela que será a batalha final pela última réstia de humanidade. Homem Vs Pato de borracha humanizado que dança freneticamente ao som dos Bloc Party. Som ensurdecedor, baixos poderosos que tremer as estruturas de betão. Gritos. Tensão lésbica. FADE OUT
Chewbacca combate heroicamente nazis montando um esquilo gigante.
Os caminhos da descoberta que me levam aos lados mais negros da banda desenhada alternativa por vezes surpreendem-me com paisagens únicas. Descobri, entre outras coisas, que por vezes podemos encontrar séries de BD que dariam excelentes filmes para públicos constituídos por mim e mais… 16 ou 17 pessoas! Jesus Christ é uma BD que não vai certamente agradar aos mais religiosos, mas que é um deleite para quem tiver a mentalidade mais aberta a experiências visuais alternativas.
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