Por muito amante do cinema que se seja, há sempre que ponderar o que se assoma perante nós. Quando um filme se insere num determinado template percebemos claramente o rumo que os acontecimentos vão tomar. Temos duas opções. O filme é bom e queremos ter o prazer de o ver todo ou dá para perceber que vai ser o mais degradante espectáculo que alguma vez vomitado por um ecran. Apesar do tempo perdido parecer relativamente inócuo à altura em que o gastámos estupidamente, um dia vamos estar a sobrevoar o Atlântico e o piloto avisa que o avião se vai despenhar em chamas numa zona infestada de tubarões e pensamos em tudo o que podíamos ter feito e não fizemos e no tempo de perdemos em idiotices. E esse filme que falei anteriormente vai martelar a nossa consciência até ao limite máximo da exaustão, até que a última tíbia seja deglutida pelo sistema digestivo de um jovem tubarão branco com ambições de liderança.
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Um homem montado num burro entra numa aldeia do sul de Espanha. Estamos em finais de Maio de 1765 e é de noite. Sobe ao palco na praça da povoação e começa a discursar. “No futuro as mulheres terão os mesmos direitos que os homens. Num casal haverá partilha das tarefas domésticas. E as mulheres terão mais poder dentro de casa que os seus maridos.” O silêncio abate-se sobre o povo incrédulo. De repente uma pessoa começa a rir-se lá atrás, depois outra, depois um pequeno grupo do lado direito e de repente toda a aldeia rebola num riso contagiante. O homem no palco, irado, abre uma mala brilhante e retira um estranho paralelepípedo que aponta para um lençol branco. Imagens de demónios saem projectadas no tecido e o silêncio volta a abater-se sobre a aldeia. Um cão ladra ao fundo e uma criança chora, desamparada por uma mãe hipnotizada pelas imagem que saem numa luz de dentro de uma caixa do Demónio. O homem no palco sorri orgulhoso enquanto rolam os créditos iniciais de Date Night, uma obra do futuro que haveria de estrear em 2010, caso não houvesse nenhuma anomalia no contínuo espaço-temporal. Passados 15 minutos o homem e o seu burro estavam amarrados a uma trave de castanheiro , em cima de uma pilha de lenha com o objecto projector de demónios enfiado no cu. Dois lenhadores com cheiro a javali fermentado aproximam um archote da pilha e um coro entoa em latim uma ladaínha monocórdica. Antes de perecer para sempre nas chamas purificadores o homem pergunta “Porquê? Isto é ciência, é óptica. Não ofende o Senhor!”. Um sacerdote aproxima-se dele e sussura-lhe ao ouvido”Já tínhamos visto. Em VHS!“
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