mama

Para os aficionados de longa data do cinema de terror é mais que óbvio que o género está morto. Não no sentido de morto, enterrado e esquecido. Diria que está em coma induzido e mantido no limbo da ausência de criatividade, a canibalizar-se, sofre de doenças de consanguinidade. Arriscar sai caro e usar as mesmas técnicas para assustar teenagers de 14 anos funciona sempre, porque todos os anos há um lote novo de teenagers que nunca foi impressionado antes. Para nós, os que seguem o género desde o início dos tempos (videoclubes, vá!), pouco material novo existe. É mais rentável para mim apostar em clássicos que escaparam do que investir o meu precioso tempo a ver templates açaimados e letárgicos. A culpa, na minha humilde opinião, é do Saw,  do gore CGI e da banalização do jump scare.

E é por causa desta moléstia que assola o cinema de terror que vivemos sempre na esperança que venha um ou outro filmezinho quebrar esta boçal onda de filmes aguados. Ainda nesta linha de raciocínio surge Mama, habilmente publicitado segundo as leis do marketing moderno, como o estandarte “Guillermo del Toro” bem içado no alto. Bom orçamento e boa vontade, a única coisa que um realizador sem experiência pode fornecer.

Com grande foder vem grande resfonsabilidade e era de um bom filme que estávamos à espera. E o filme começa bem. A introdução é negra, violenta e absolutamente tenebrosa. Mexe connosco porque se tratam de crianças muito pequenas que podiam ser nossas filhas, sobrinhas, vizinhas ou irmãs. O buildup é exemplar ao ponto de nos cortar o coração ver aquela situação. A partir daí estamos conquistados, estamos a bordo do filme preparados para sofrer com a viagem que os nossos heróis têm pela frente.

É nesta altura que o filme deita tudo a perder. A começar pelos protagonistas. Se aceitamos plenamente que Jaime Lannister seja um family man de grande coração, já custa um bocado a engolir a gaja do Zero Dark Thirty e do Tree of Life a ser uma mimada baixista de uma banda punk, com traumas emocionais e problemas de primeiro mundo. Claramente um erro de casting que até poderia ter escapado não fosse ela ter sido catapultada entretanto para o sucesso das A-Lists de Hollywood. É muito provavelmente um “acidente” de percurso involuntário, ainda assim irritante e omnipresente. Não nos conseguimos abstrair. Pior que isso é que as calças lhe ficam mal e todas as cenas que envolvem a banda punk são de cortar os pulsos rentes.

O outro erro em que o filme cai é no excesso de grafismo para o final. Todos sabemos que o terror vem do desconhecido. O que nos assusta é o que não conseguimos ver, o que está no escuro, o que não se pode controlar, a incerteza da natureza do oponente. Talvez pressionado pelo estúdio e pelo facilitismo dos efeitos especiais, o filme acaba com um CGI fest que além de não assustar ainda dá para umas risadas onde não deveriam existir. Jump scares a mais, com o tradicional gatinho a aparecer ou o fantasma no espelho não ajudam.

Ainda assim é um filme de terror muito acima da média do que actualmente nos polui as salas, os video on demands, as prateleiras dos supermercados e até os sites de pirataria. Devo ainda acrescentar que os making ofs e extras do filme são muito interessantes, talvez até mais do que o próprio filme nalgumas partes.