Desde 24 de Junho de 2003

O inferno do “Product Placement”

Hoje não falo de filmes nem de deboche. Para quem não sabe, o product placement é a buzz word que define “colocar descaradamente publicidade em filmes, séries, jogos ou outros produtos de multimédia e entretenimento”. Outra coisa que eu quero dizer, e já que estou numa fase da vida de desabafo, é “Odeio a Apple”. E o mais curioso é que nunca fui cliente nem usei nada da Apple. Eu sei que tenho amigos e leitores completamente Apple-dependentes que mais depressa afagavam o testículo do Steve Jobs do que davam sangue à própria mãe. Mas não já estou num ponto de não suportar a ideia criada por Hollywood de que o único telemóvel do mundo é o iPhone, o único leitor de MP3 é o Ipod, os únicos portáteis são os Mac e agora esta insuportável pasta de merda seca que é o Ipad.

O catalisador deste meu ódio foi o episódio do sitcom Modern Family da semana passada. O argumento rodava, apenas e só, à volta do chefe de família que fazia anos e queria um Ipad. Depois são 22 minutos de tropelias que envolvem a Apple Store, o site da empresa, ipod e iphones e uma parafernália de paneleirices similares. E é a este triste ponto que chegámos, em que as empresas deixam simplesmente de fazer publicidade para gerir a própria trama.

A minha teoria em relação a esta questão é a de que o ser humano está a ficar tão estúpido que já não assimila mensagens subliminares. Chegámos a um ponto da evolução humana em que é preciso dizer em palavras simples, desenhos ou histórias com sons engraçados qualquer mensagem para que seja correctamente assimilada. E a Apple é o porta bandeiras desta máquina de criar idiotas que é o entretenimento mainstream do século XXI. Aliás, porquê sequer incluir um teclado se as pessoas já nem sabem escrever?

Mas não se pense que a Apple está só nesta globalização da estupidez humana. Já começam a irritar também a presença quase obrigatória da Wii como entretenimento familiar de eleição nos programas de TV, os monitores omnipresentes Dell a cada vez que um computador não é um portátil Apple ou a Coca-Cola que já cá anda desde Judas perdeu as botas. Deixo aqui um clip de Wayne’s World, onde Wayne e Garth abordam esta situação da melhor maneira alguma vez feita num filme desde que o os irmãos Lumiere filmaram a criadagem a sair da sua fábrica em 1895.

PS: E sim, eu estou consciente de que falar mal também é publicidade. Mas não seja por isso que vou aguentar esta merda amordaçado.

14 Comments

  1. Nekas

    Primeiro, em relação ao texto, não podia deixar de concordar mais. Hoje em dia o ser humana está tão “burro” que a publicidade é do tipo “É preciso um desenho?” e é mesmo preciso um desenho, algo simples, algo claro, nada de subtilezas mas um pouco exagerado atribuir essa culpa só para a Apple!

    Em relação ao vídeo, muito bem a crítica de que os programas vendem os produtos, um desses casos é os Morangos com Açucar cá em Portugal que insistem em fazer publicidade a tudo!

    Abraço
    Cinema as my World

  2. ArmPauloFerreira

    Xunga mesmo… e esse ódio pela Apple (xiça!)… olha que as maçãs fazem bem à saúde e até ajudam à digestão. Tens de conseguir digerir o sucesso da Apple, que tem o hype que tem (agora mas há uma década atrás estava moribunda) pela razão principal (e a mais valiosa de todas): eles são os melhores de usar e mais bem desenvolvidos para as tarefas que se destinam tratar.
    Mas sim também acho que se anda a exagerar no product placement…

  3. T.

    Ui que dor de cotovelo…

  4. jay_toso

    é verdade, a apple está lentamente a substituir satanás na influência subliminar na humanidade. porra até o símbolo da tentação demoníaca continua uma maçã!.
    quando dei por mim vi na tv, há poucos anos, imagens de gente a fazer filas de dias (daqueles com tendas e gajos vestidos, neste caso, de maçã) para comprar um produto que já existe aos anos, só que…tocas no ecrã em vez de tocares no teclado. o cancro não tem cura, mas a tecnologia é desenvolvida para substituir teclados. (quanto ao vídeo, há um exemplo melhor que esse, que é o burger king na série arrested development)

  5. xiribi

    Caguei na apple. Mas bom texto e bom vídeo.

    Eu também acho que andamos a estupidificar-nos a um ritmo tremendo. Antes as pessoas eram ignorantes porque havia pouco acesso à informação. Agora parece que há demasiado acesso. Não se processa. A publicidade não é o diabo absoluto nestas coisas (sejamos honestos, muita coisa de que gostamos sobrevive à conta da publicidade). Mas deve haver cuidados. Ainda me lembro do médico de família ter caixas de cereais escarrapachadas. Na altura pensei que era a habitual mediocridade da produção televisiva nacional. Não. As coisas caminham para aí: a plena mediocridade. Já agora, o modern family vale a pena? vi um episódio e não parecia mau de todo.

  6. pedro

    O Modern Family é engraçado. Não é o próximo Seinfeld, mas é um sitcom agradável, sem riso enlatado, ao estilo documentário que tem uma morenaça chamada Sofia Vergara que é a doideira total. Procura no google images e percebes o que quero dizer. Não é só aquele corpo todo, também tem talento.

  7. cine31

    Texto excelente! Há alguns anos fiz um trabalho para a univ. sobre este tema do product placement , e desde essa altura fiquei enjoado O_o É um excesso!

  8. joemorales

    Mas, mas, mas essa maã roida não é sinónimo de porno hardcore??

  9. Leinad

    Esse episodio de Modern Family realmente foi assim qualquer coisa de…temática vá. Nao fosse eu tao grande fã da serie e poderia ter sido tambem um deal breaker pra mim.
    Quanto á Apple…é-me indiferente. Se me oferecerem um produto da marca, aceitarei com todo o prazer, mas nunca na vida me passaria pela cabeça pagar o preço exorbitante por um mini disco externo com “meia duzia” de gigas, que é aquilo que sao os ipods, basicamente (as pessoas parece que ainda nao perceberam que podem comprar cartoes Mini-SDs – entre outros – com grandes capacidades e a relativamente baixo custo pra utilizar os telemoveis como leitores de mp3). Nao percebo a logica de alguem andar com os bolsos carregados com um ipod e com um telemovel quando hoje em dia os telemoveis, literalmente, fazem tudo aquilo que um ipod faz. E a menor preço. É algo que escapa á minha compreensao.
    Btw, falas da Wii, mas olha que a xbox360 tambem lá muito perto. Normalmente está sempre uma na estante de tv de quase todas as series.
    Mas bon…conversa de geeks lol.

    Mas sim, o product placement é algo que tambem me atormenta ha muito tempo. Pelo menos quando é feito de foorma descarada, pois por vezes, se bem utilizado e no contexto correcto (e de forma subtil), até pode ajudar a aumentar o realismo e imersao de determinada cena e/ou filme em geral.

  10. pedro

    O que me irrita nalguns cromos dos macs é saírem logo na defensiva com “Tu tens é dor de cotovelo”. Esta merda de ter produtos Apple não é como ser escolhido pelo Espírito Santo para salvar o mundo ou nascer com um dom para encontrar água com um galho. Se eu tivesse dor de cotovelo, levantava agora daqui o cu e ia à Fnac (é lá que eles se encontram) e comprava um ipod, um iphone e um macbook. E amanhã era um bacano macfriendly. Acontece que eu não gosto do iphone porque a bateria dura menos de um dia, as aplicações são quase todas pagas e obrigam-te a usar um software de merda para gerir os aparelhos. É um inferno meter lá um mp3, ao contrário dos chineses. Detesto MacBooks porque são incompativeis com toda a minha vida profissional. Ao que parece o Ipad para carregar bem a bateria precisa de estar ligado a um mac recente e as actualizações dentro do mesmo sistema operativo são PAGAS.

    E depois temos o quicktime. Para se poderem ver os trailers lá do site deles é preciso um gajo esquivar-se a um exercito de publicidade, escolher a opção de download que não nos sodomize e esperar que os 928 MB de software faça o download e instale. E depois é só actualizar uma vez por semana com mais 928 MB que nos tentam sempre impingir o itunes… Puta que os pariu.

    Não é que as coisas que eu uso sejam perfeitas, apenas não são tão más.

  11. Pedro Pereira

    Para mim são todos uma cambada de maricons defensores de não sei bem o quê. Tenho uma teoria sobre as azevias (doce típico da época natalícia) que se extrapola também para estes: Se fosse bom comia-se todo o ano!

  12. Leinad

    O fanboyismo está em todo o lado. Isto é muito simples…muito do pessoal que compra um Mac fa-lo a credito (em Portugal até ha quem compre telemoveis a credito, haja juizo oh meus Budas!) e aquilo custa-lhe bue e fica a pesar na carteira durante bastante tempo. Logo, sente-se uma necessidade muito forte de defender aquele produto que tanto nos custou. É perfeitamente natural e compreensivel, embora, quanto a mim, nada aceitavel, e totalmente condenavel. O mesmo acontece com as consolas de jogos, tvs, leitores de mps (Ipod ou Zune?! lol), etc. É estupido really, e a unica maneira de um gajo nao andar metido nisso é comprar cenas de varias marcas (e termos bom senso e juizo, lá está). por exemplo, comprem uma tv da Samsung, um telemovel da LG, uma aparelhagem da Sony, um portatil da Toshiba, um leitor mp3 da Apple, um sofá da Conforama…e iraõ andar muito mais descontraidos. O problema é que há aquele pessoal que pensa que, por actos de magia tecnologicos que ninguem compreendo ou realmente conhece, uma PS3 irá funcionar melhor se tambem tiver uma tv da Sony…de preferencia muito mais cara que uma da Samsung que tenha exactamente o mesmo nivel de contraste, resoluçao e todos esses pormenores. “Ah nao mas a da Sony tem uma saida a mais de hdmi!”. Pois isso justifica perfeitamente os 300 euros a mais tambem…

  13. ArmPauloFerreira

    Os exageros dos Apple-haters também acabam no ridículo. Principalmente essa dos 928 Mb de update ao QuickTime e de não conseguir meter uma canção mp3 com facilidade no iPhone, eh, eh, eh! (Pedro: o teu melhor momento nesta situação toda).

    É preciso relativizar e ser diplomático também. Além de fan-boys pela Apple, também há fundamentalismo nos Linux-users, nos Windows users, etc. Não vai ser assim que isto se vai modificar… só dizendo mal.

    Agora o product placement… vivemos numa era comercial. Entende-se esta situação. Aliás, se não forem as marcas por vezes a participar (com fundos) não existiria metade do que há hoje… o que tem de haver é um equilibrio, facto que por vezes pesa mais para um lado que outro.
    Dai-vos todos como irmãos!

  14. João Carvalhinho

    Não sei até que ponto o product placement acaba por ser também refém do que é hip. por exemplo em tempos apareceram umas novelas da TVI onde a secretáriade um administrador tinha um imac de 24 polegadas… WTF… Imac? 24? como se o mac tivesse uma porra de um software de gestão de agenda simpático bem como dos aplicativos mais usados no desempenho desta função (minesweeper e solitaire)

    Dois episódios depois, o símbolo da maçã estava tapado por um post-it amarelo.
    Não tinham tido autorização para usar a marca da maçã, e foram obrigados a “esconder” o dito. Continuaram a usar o Imac pois era hip na altura…
    Podes confirmar isso também na maioria da publicidade onde aparece uma família com um computador portátil… são em 99% das situações macbooks pro ou não pro….mas a maçã está sempre apagada.

    Quanto a PPlacement de outras empresas, assim de repente Heroes e flashforward são Verizon/palm Pre, Que nem existe nos países desenvolvidos como Portugal.

    Quanto ao uso de macs… o teu problema é usares software mac num pc… se aderires ao mac way of life… vais ver que não é assim tão difícil… a PALM que é a PALM cometeu o sacrilégio de oficialmente hackar o seu identificador USB para que quando se ligasse um dos seus palm pre a um computador com itunes… este fosse identificado como um ipod… só para que os seus utilizadores pudessem usar um software que entitulas… ermmm… inferior…
    Nem se deu ao trabalho de desenvolver um software seu… Porra… seus idiotas… usem esta bosta!

    Agora… fala-me dos morangos… ou do pp dos produtos nacionais… tipo margarina… quando uma das pitas vai para a cozinha fritar batatas…

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