Se eu vos disser que vou falar novamente de um filme francês que gostei, o mais certo é que só veja a vossa forma em fumo no espaço antes ocupado pelo vosso corpo e um intenso cheiro a borracha queimada provocado por um arranque rápido em direcção a um destino menos enfadonho. Mas se vos disser que este é o novo filme de Jean-Pierre Jeunet? O mestre por detrás de Delicatessen e La cité des enfants perdus que conheceu a fama e glória com Le fabuleux destin d’Amélie Poulain e o famigerado Alien: Resurrection?
Um grupo de sem-abrigo sui generis a viver numa comunidade (ainda mais sui generis) empreende uma batalha de contornos homéricos contra duas companhias multinacionais de armas. Usando tácticas de guerrilha e os habituais artefactos imaginativos do universo Jeunet, o grupo acaba por ter algum sucesso no empreendimento. A fazer lembrar um Oceans 11 steampunk, onde cada pessoa tem a sua especialidade e função.
O título Micmacs à tire-larigot é, provavelmente, o calcanhar de Aquiles da nova produção do mestre Jeunet. Eu estou a escrever e fiz copy -paste, mas era incapaz de dizer tal título em voz alta sob o risco de soar a “Um conjunto de alicates que o meu primo cagou”. Mas tirando este impronunciável título com um significado ainda mais críptico, esta é uma obra com a habitual qualidade Jeunet. Um impressionante detalhe em que todos os elementos do ecran contam uma história, uma infinidade de referências a obras anteriores, uma galeria de personagens com uma especificidade muito particular, uma fotografia de tons sépia com o uso e abuso de planos de oblíquos em grande angular. É um filme bastante estilizado, tanto na construção de cenários, cenas e planos, como na própria componente cénica e representação.
Fiquei completamente estupefacto por ter tido acesso a um DVD do novo filme de Jeunet de um filme que estreou em Outubro, e que entre nós nem a uma notícia de rodapé teve direito. Corrijam-me se estiver enganado, mas não se prevê nenhum tipo de lançamento em território nacional. Mas eu tenho uma ideia que pode facilmente implantar este filme em território nacional. Dar-lhe o título tuga de “A Quadrilha do Amor – Um assalto do caraças…” com o subtítulo “Do realizador de Fabuloso Destino de Amelie Poulain, agora com mais acção. É sempre a abrir…“.
Fiquei curioso para ver isto! Procurando o trailer no Youtube…
Editei e meti o trailer. Esqueço-me sempre deste pequeno extra que dá um jeitão. Já agora, uma pequena adenda: eu vi o filme em DVD normal, mas isto merece um glorioso FullHD, seja em Bluray seja no incontornável container MKV. 😉
Fico realmente estupefato com os comentários de alguns pseudo cinéfilos que criticam este filme pela negativa, dizendo que o realizador fez uma tentativa frustrada de criar um filme com o mesmo registo de Amelie e que o mesmo não tem qualquer sentido de humor, eu penso exatamente o contrário, só um grande mestre do cinema europeu é que conseguiria criar um filme desta qualidade e sinceramente não vejo qualquer semelhança com Amelie, pois a fotografia e o tipo fábulas que Jeunet realiza são uma caraceteristica dele, tal como por ex: O Tim Burton, tenho a certeza que qualquer pessoa que assista um filme deste realizador, consegue indentifica-lo mesmo não sabendo quem realizou.
Fiquei satisfeito com a sua critica, partilho da mesma opinião e só lamento este filme não ter a divulgação que merecia ter, sei que estreou no passado dia 15 ás 22h no cinema são jorge em Lisboa, mas agora eu pergunto, porquê não estrear em mais salas? Enfim, existem certas coisas que não consigo compreender, já em relação ao filme “Ink” do Jamin Winams aconteceu o mesmo e este para mim tornou-se um filme de culto, um filme belissimo a todos os niveis.
Quanto ao Micmacs, só tenho a dizer uma coisa, gostei, vi e voltarei a vêr, só tenho pena de não ter existido uma banda sonora tão boa como sucedeu com “Amelie”, provavelmente poderia criar ainda mais envolvencia com a historia e seus personagens.