Estava todo electrificado por dentro para escrever de cinema, das maravilhas e das desgraças de um qualquer filme que tenha visto ultimamente, mas o certo é que não tenho visto nada. Quer dizer, tenho dezenas de filmes em lista de espera na minha lista de rascunhos, mas nenhum deles iluminou sinapses no meu cérebro, todos eles me pareceram uma linha directa para aquela bola de assuntos disconexos e desinteressante bastante conhecido na blogosfera como “o post de merda”. Mas não ter nada para falar nunca me impediu de falar impiedosamente até as flores murcharem. Por isso hoje falamos do nada.
O nada, esse assunto tão prolifero que já deu origem ao melhor sitcom de toda a história da televisão. Certamente nunca mais ninguém rirá incontrolavelmente de escárnio acerca de se fazer entretenimento acerca do “nada”, desde que George Contanza passou 9 anos a fazer malabarismos tão complexos com o nada que impressionariam o próprios Shakespeare e os seus dramas medievais multitwist. O nada fluia daquelas 4 pessoas como a fonte da juventude eterna, como uma cataratas multidimensionais em gravidade zero, em padrões fractais technicolor. Sim, era uma boa série, uma boa comédia. Um bom sitcom. Não, era O Sitcom,. Desde 1999 que apenas se tenta criar um novo Seinfeld a cada sitcom vomitado pelas majors americanas, mas o politicamente correcto é porreiro para quando um deficiente quer estacionar num centro comercial, mas é fodido para a criatividade na área do humor.
O nada também aparece no filme de 2003 de Vincenzo Natali chamado… Exacto, chamado “Nothing”. Na altura falei dele no blog original e foi um filme que me impressionou. São dois amigos que acordam um dia e todo o espaço em volta da sua casa é ausência de espaço, um infinito branco onde as leis da física parecem colapsar num conceito que os cientistas detestam: o vazio. Porque o vazio tem sempre de ter qualquer coisa, ou quando pensamos em nada estamos a pensar em qualquer coisa nem que seja no conceito de nada. Mas aqui Natali, esse mestre do Cube, consegue construir qualquer coisa de palpável, faz muito do nada. E também fez as delicias dos tripeiros e dos seus convidados no Fantasporto desse ano.
E com esta vos deixo, que já deviam estar a dormir, seus bandalhos. Ao menos vistam um pijaminha de flanela que as noites começam a arrefecer, a não ser que sejam gajas boas que morem aqui perto, ao alcance dos meus binóculos. Ou daqueles tipos que têm pelos nas costas.
Uma noite tive uma tertúlia sobre o nada com um amigo meu. Entre várias cervejas e por entre a neblina do fumo de cigarros esquadrinhámos por longas horas uma desconstrução do Universo, procurando descolar da concepção humana do “nada”, questionando as teorias de cada um sempre desembocando num paradigma mais abstracto. A determinada altura, o meu amigo fixou um ponto no infinito e com um gesto vago concluiu que o “nada” só podia ser UM PATINHO DE BORRACHA AMARELO… Em silêncio, fitei-o por momentos. Sim, tudo aquilo fazia sentido. Era oficial… estávamos bêbados!
Por acaso gostei muito do “Nothing” de Vincenzo Natali. Gradualmente o filme transforma-se em nada… literalmente. Ver o vazio e as duas personagens ali perdidas foi um experiência, ou melhor um “tour de force” impressionante.
Falta-me ver desse realizador o “Splice” (que já anda à minha espera na pen…)
Eu já tinha falado do Nothing aqui: http://cinemaxunga.net/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=69&Itemid=6
Mas pareceu-me fora de contexto fazer um copy paste…
I think we’ve got something 🙂