A honestidade é algo de se louvar nos dias que correm. E neste filme devemos honrar essa mesma qualidade, quando aos 7 minutos um dos protagonistas diz “Estamos aqui hoje para um banho de sangue!” seguido de uns créditos iniciais minimalistas ao estilo grindhouse. E é isso mesmo que temos, um banho de sangue à francesa. E quem tem seguido o cinema de terror francês nos últimos 5 anos sabe perfeitamente que não é nenhuma pêra doce, porque no que diz respeito a carnificina estes gauleses são loucos.
Muito se tem filosofado acerca do subgénero do filme zombie. Ora, o filme zombie assenta em duas bases, a crítica social e a estrutura narrativa. A crítica aponta sempre uma injustiça que pode ser representada sob a forma de metáfora nos próprios mortos vivos ou nalguma desequilíbrio social que é acentuado pela pandemia de mortos-vivos, neste caso os bairros sociais franceses e toda a polémica que daí adveio nos últimos anos com os queimadores de carros e paulada policial sortida em jovem lombo árabe. A estrutura narrativa pouco muda. No início o mundo é normal e as pessoas levam a sua vida mundana, segue-se uma artimanha narrativa para fazer aparecer a epidemia zombie do nada, um grupo de sobreviventes batalha zombies demasiado atarefado para tentar perceber a causa desta infecção, sobram 2 (ou 3 se houver sidekick) e quando a acalmia regressa à vida destes privilegiados humanos uma acontecimento final (quase de último frame) faz desabar todas as conquistas ou dá uma piscadela de olhos à continuação (ou sequela, como se diz agora).
E La Horde não foge a esta fórmula, nem nenhum bom filme de zombies que se preze. O segredo do sucesso desta produção francesa está na aproximação ao tema, neste caso temos uma super equipa de polícias que aparece num bairro de subúrbio francês para capturar (e chacinar) uma quadrilha responsável pela morte de um colega. A intervenção corre mal e quando tudo parecia perdido para os polícias chegam os zombies obrigando inimigos a colaborar pela sobrevivência. Junte-se um personagem psicótico / excêntrico e temos receita para uma bela película de matança sanguinária.
É um filme de orçamento contido, mas muito bem gerido. As criaturas das trevas estão bem caracterizadas, os cenários pintados a sangue dão um nefasto colorido e a caracterização da carne humana a ser maltratada é de classe superior. Tem falta de tiros na cabeça, é verdade, parece que os nossos protagonistas não sabem as regras básicas para desactivar correctamente um zombie, mas em contrapartida tem das mais belas coreografias de luta corpo a corpo entre vivos e mortos que alguma vez vi, e eu vi o Braindead. Nudez é algo que parece estar ausente, mas a personagem feminina exibe uns belos mamilos duros como aço, capazes de vazar um olho a quem se aproxime demasiado. Pouco mais podemos desejar num filme de zombies.
Nota: Mais uma vez chamo a atenção para o facto de este tipo de filme ser apenas para apreciadores. Não se forcem, não venham dizer que é pouco credível e que é violento demais ou que a violência é gratuita. Nós sabemos e é mesmo por isso que gostamos tanto. Now let’s look at the traila:
Adoro o talhante! Foi o melhor filme para mim do Fantasporto deste ano
É o Banlieu 13 dos Zombies: Nada melhor do que clichés demagógicos de hip hop para masturbar a juventude “bessoniana”.
Ainda assim fiquei curioso com as cenas de acção que parecem estar ao nível… Nem que se tenha que passar pela visão moral de uma criança de 5 anos pode valer a pena.
Estes «putos» franceses estão a tomar o lugar dos italianos dos anos 70/80.Martyrs,Haute Tension,À l´intérieur,Frontiere(s)…Só lhes falta a bizarria sexual (e mostrar uns seios de vez em quando não mata ninguém…ou mata?),tirando isso é uma carnificina sem fim e bem explicita à moda dos italianos.
Fantomas 2.0, é curioso referires o Haute Tension. Foi o primeiro filme que vi deste “género” e teve em mim um impacto do caraças, porque não estava nada à espera de algo assim. Nunca esquecerei a cena em que uma personagem é decepada por um móvel arrastado. 😀 Infelizmente o Aja foi para Hollywood e estragou-se.
O Haute Tension e o Martyrs,para mim,devem ser os filmes que mais se destacam nesta nova onda de terror francesa.
O Alexandre«só faço remakes»Aja estragou-se um bocado estragou,e curiosamente o remake que mais gosto dele nem é o The Hills Have Eyes (gosto muito do original do Wes Craven que tem o Pluto),mas sim o Piranha 3D,que é o verdadeiro brainless fun.Vou esperar agora pelo Directors Cut do Piranha,que é o tipo de filme para se ver em «família».
O Aja, coitado, já estava muito estragado antes de ir para hollywood.E comparar a cena francesa actual com a cena italiana é enganador, porque um filme como o “Martyrs” ou mesmo o “Haute plothole Tension” tem um orçamento a roçar a dezena de milhão de euros. Extremo,sim sr.Low budget ou “underground”, nem por isso.
Amigo Gerry Miroux,por acaso despertaste a minha atenção e fui investigar os orçamentos,informação que consta da wikipedia,e estás enganado.Dos filmes citados franceses nenhum deles teve um orçamento superior aos 3milhões.Claro que havia filmes italianos que nem meio milhão custavam,mas estamos a falar de há 30 anos atrás,mete-lhe a inflação,e numa altura em que os dólares valiam muito mais que o euro actualmente.Eu com mil escudos conseguia fazer alguns estragos,e agora com 5euros tomo café e pouco mais!
Diz o realizador do Martyrs«My country produces almost 200 films a year and there are like 2 or 3 horror films. It’s not even an industry, French horror cinema is very low budget, it’s kinda prototype.»
Cumprimentos
Boas Fantomas.
O “Martyrs” teve quase 5 milhoes de euros como orçamento, segundo o imdb.com .Já o “Haute Tension” teve muito menos ; pouco mais de dois milhoes . Claro que os 150 mil euros que custou um “Holocausto Canibal” há 30 anos não podem ser comparados com esses valores pelas razões que explicitaste. Mas filmes como o “Martyrs” são demasiado polidos e quasi-profundos para poderem ser comparados com Fulcci, Deodato e Martino. Pelo menos é a minha opinião – o “Haute Tension” ,por exemplo, tem uns 50000 plot-holes e o “Martyrs” tenta ser inteligente com todo um contexto pseudo-espiritual que falha redondamente…
Mas enfim,são opiniões, são todas válidas. Já agora, último filme de terror que vi e gostei mesmo foi o “The Loved Ones”, na edição deste ano do Motelx.
Cumprimentos!
Concordo contigo,era só na parte da parte de dizeres que não eram low budget que discordava.A minha comparação com o cinema italiano exploitation de terror deve-se ao extremo grau de violência explícita que estes franceses metem nos filmes,fazendo lembrar o gore de um Umberto Lenzi,Fulci,Deodato,o próprio Argento,que deve ser a maior inspiração.As minhas comparações acabam aí.
Ainda bem que falas dos plot holes do Haute Tension,que apesar de ter gostado muito do filme,quando se dá o twist achei aquilo um pouco incongruente!Mas não o revi desde então…
Tinha curiosidade para ver o Loved Ones,mas calhou num péssimo horário para mim quando esteve em exibição no Motelx(o que me atrai na programação deles é o Culto dos Mestres Vivos,que de ano para ano se tem revelado o maior trunfo do festival).
O último filme de terror que vi foi o Piranha 3D que já referi anteriormente,mas o último filme de terror que vi e adorei mesmo foi o Drag Me to Hell do Raimi,porque quem sabe nunca esquece.
Os franceses metem-lhe aquela dose dose extra de quotidiano normal que nos faz sentir um pouco mais próximos daquela malta. Os italianos, apesar de lords da carnificina, não tinham esse factor de identificação, mas os tempos e as tendências também eram outras. Quanto ao “Loved Ones”, estou a “providenciar” em glorioso HD. Se tiver tempo, talvez faça hoje uma sessão da meia noite. Ou das 23h, vá!