Quem viveu ativamente os anos 80 e sobreviveu trouxe consigo um cabaz de memórias bem avantajado. Umas boas, outras más, outras simplesmente nefastas. Com o tempo, a idade e a decadência natural do cérebro, algumas memórias vão ficando para trás e apenas um núcleo duro se mantém, como todos os filmes que consideramos clássicos. Ocasionalmente caem fora das nossas memórias alguns itens que o nosso subconsciente, erradamente, julga ser carga extra, inutilidades. Better Off Dead é um dos teen movies mais fabulosos dos anos 80 que parecem ter-se esfumado da memória colectiva dos 80s, injustamente afundado nas areias do tempo. Quer se goste ou não, o certo é que ninguém fica indiferente a um John Cusack imberbe a ser humilhado em público usando um kit de orelhas e nariz de porco.
Este filme pode à primeira vista ser confundido com um banal teen movie dos anos 80, como dezenas de outros que tentavam mugir o sucesso de Porky’s. Um rapaz aparentemente feliz, saudável e mentalmente equilibrado é abandonado pela sua namorada, vaca calculista e interesseira. Durante o filme, de gag em gag, vai alternando a recuperarão da amada perdida com tentativas de suicídio, apenas para perceber no final que o seu amor reside noutro lado, numa rapariga que é o completo oposto da namorada original e viveram felizes até aos créditos finais. O habitual ensemble de personagens, o sidekick, o presunçoso capitão da equipa de futebol americano, o gordo que faz rir apenas por ser gordo, o jovem cientista que poderia salvar o planeta com a sua genialidade mas que usa o seu intelecto para tentar ver as mamas da vizinha, a amiga que se transformará mais tarde em amor verdadeiro e os pais que ocultam os mais perturbadores desvios comportamentais por baixo do manto normalidade de subúrbio.
Cedo se percebe que há algo de diferente em Better Off Dead. O motor narrativo do filme é a vontade do jovem protagonista em se suicidar, um tema que não sendo original também não é de comum abordagem para um comédia teen. Mas a inclusão deste pesado tema é habilmente suavizada com uma estética slapstick muito inteligente. Não estamos a falar de tartes na cara, mas do absurdo suportável dentro do limite daquilo que podemos considerar verosímil. O argumento é muito bom, rico em angústia adolescente, abordando os temas a fundo, muitas vezes de modos bastante violento. É uma comédia, mas podia ser um drama. Algo que deixou de existir por se querer proteger os cinéfilos atuais, substituindo temáticas fortes e vigor narrativo por efeitos especiais e CGI porn.
Aparentemente John Cusack considera este um dos piores desastres da sua carreira, mas eu não concordo. Aquela coolness e atitude anti-herói já se encontra ali, bem como a sua postura séria e ausente de um sorrisozinho que seja. Como curiosidade, o Porky original também faz aqui uma aparição como o maléfico ditatorial patrão de John Cusack (na foto).
Revi há pouco tempo e restruturei o meu bucket de memórias de modo a garantir alguma justeza. No entanto ainda não arranjei maneira de me livrar de Footloose, Break Dance 2 Electric Bugaloo, Frankenhooker ou Dirty Dancing.
Nem fazia ideia que este filme existia… Mas, de alguma forma, depois de ler esta treta de cririca, fiquei com vontade de pedir este filme emprestado ao meu primo de Istambul.
Mais uma vez vou confiar em ti, a ver no que é que isto vai dar…