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Paul (2011)

paul

A mente de um jovem geek é um fervilhar tão denso de conceitos que qualquer objecto, situação ou memória é pretexto para uma aventura imaginária com o próprio no centro da trama em que para se chegar a qualquer objectivo é necessário batalhar dragões, atravessar campos de arroz pejados de mercenários chineses com artilharia pesada que nunca acertam no alvo, chacinar um Dojo inteirinho cheio de ninjas, samurais e macacos assassinos munido apenas de um par de matracas e facas nos sapatos, escapar a torpedos de fotões e destruir a nave mãe com disparos cirúrgicos nos motores FTL, matar o vilão reptídeo com dois sabres de luz ao som de Navras da OST de Matrix (Juno Reactor), salvar a miúda jeitosa, leva-la para casa para um quarto escuro e copular até a fricção provocar um intenso cheiro a carne assada. E depois quando acaba a fantasia, uma masturbaçãozinha de rotina.

Nick Frost e Simon Pegg são dois velhos amigos, ex-colegas de apartamento, e geeks da velha guarda. Têm a sorte poder fazer os filmes das suas próprias fantasias imaginárias geek e até agora não nos têm falhado. Shaun of The Dead, Hot Fuzz e Paul. Uma mistura de géneros clássico, com humor, acidez satírica social, meios de produção da primeira divisão e um cheirinho da boa e velha ultra-violência. O humor britânica fornece todo o colorido extra. É uma colaboração que prezo e que espero trazer frutos regularmente.

Desta vez este duo tipicamente british faz uma road trip geek, começando pela Comic Con e seguido por uma ida a sítios míticos do imaginário Sci-Fi, com passagem obrigatória pela clássico Area 51. E aí encontram um verdadeiro extra-terrestre, moldado pelos clichés morfológicos do género e com características comportamentais mais humanas que os humanos. Uma espécie de ALF adulto depois de 25 anos de drogas, álcool, prostituição, três divórcios, um emprego sem futuro a ordenado mínimo, pensão de alimentos a filhos que não tem bem a certeza serem seus e incontáveis noites a dormir num carro fedorento com manchas de marisco e maionese no banco de trás.

Mais do que um choque de civilizações, temos um choque de culturas, com os exageros redneck americanos a embater com a rectidão britânica e um extra-terrestre em permanente estado de perplexidade. Os temas religiosos, os seus extremismos e contradições são assuntos dos quais nunca me farto. Fora de um contexto inteiramente americanizado as coisas têm outro aspecto. Neste caso temos duas pessoas britânicas, europeias. Sim, os ingleses são estranhos, mas quando inseridos naquele ambiente temos uma proximidade maior, uma identificação. Seria interessante ver este tipo de filme com portugueses também. De Macedo de Cavaleiros.

É um filme fortemente crítico, sem restrições no que diz respeito ao tipo de linguagem usado, seja verbal ou gráfica. É violento, negro e delicioso. Pode à primeira vista não parecer uma típica colaboração Frost/Pegg, mas acabamos por nos apegar a ele. Aliás, esta sensação de “primeiro estranha-se depois entranha-se” é diagonal a todos os filmes deles, pelo menos nos que referi em cima.

Não se pode dizer que seja uma surpresa. É disto que estávamos à espera. Não é pior que os outros, é mais um filme nesta onda. O que é bom, porque quando se altera a direção as coisas podem ir para dois lados, sendo que só um é o correto. Eu gosto de Woody Allen, sem achar que ele é repetitivo. Não espero mais do que um filme de Woody Allen. Não espero que ele faça um sci-fi com robots assassinos ou um filme de ninjas. Espero apenas Woody Allen. Assim como nestes dois. Espero mais filmes deles, dentro destes parâmetros. Até porque não gosto de surpresas e já não tenho idade para emoções fortes.

3 Comments

  1. A Lenda

    Tenho este para ver, os anteriores eram brilhantes, no Shaun of the dead a piada ao Prince levou-me às lágrimas, o geek que há em mim rejubilou 😀

  2. leandro ribeiro

    Caramba, e eu que não sabia que o Paul já tinha estreado.

    Segundo li na altura, os tipos queriam fazer uma “trilogia do gelado”, por isso este pode bem ser o último desta onda :\

  3. Sofia

    Nota: o Alf tinha pêlos … ruivos. Este Paul foi claramente sujeito a uma depilação integral – feita por uma senhora brasileira numa maca de lençóis pouco brancos e de pernas abertas

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