Quando tinha 10 anos fui ao circo. No intervalo saí para ir ao WC e quando voltava enganei-me na porta. Entrei no backstage. Aquilo que vi naquela imunda salinha fez-me repensar toda a minha perspectiva sobre a existência humana. O ambiente nebuloso com um misto de cheiros que ia desde o tabaco entranhado nos tecidos até ao forte suor de quem não se lava há meses, passando pelo odor a peido permanente misturado com chulé, encerrava uma imagem que ainda hoje tenho apegada bem no meio do pódio dos traumas de infância. O mesmo palhaço que tinha acabado de fazer um adorável número musical com um serrote estava agora a praguejar como um trolha bêbedo. As palavras de um grau impensável de asneiredo só não me chocaram mais porque o impacto visual de um palhaço sem calças, sentado num sofá gasto a fumar um fino cigarro com cheiro a incenso e a acariciar o peludo testículo que lhe saía dos truces foi manifestamente superior. Olhou para mim, teceu um esgar de compaixão e proferiu uma frase que nunca mais irei esquecer “Hey caralhito, e se te pusesses nas putas? É a porta ao lado que querias, ó paneleirote!”. Ora este incidente, por muito pérfido que possa ter sido, ensinou-me uma das mais importantes lições da minha vida. Desde esse dia compreendi finalmente o segredo da felicidade. Afinal tudo passa por não ter expectativas altas em relação a nada. Este ensinamento, por muito insignificante que possa parecer, ajuda-nos a encarar todos os acontecimentos do dia a dia com júbilo acrescido. Seja numa situação profissional que afinal não é tão horrível como à primeira vista poderia parecer ou num inesperado encontro de sexo em grupo. Manter as expectativas baixas é sempre o segredo da felicidade. Quanto muito da ausência de infelicidade, que nos dias que correm já é bem bom.
Independentemente de tudo o que foi dito meses (e anos) antes da estreia, o certo é que Avengers trazia desde cedo agrilhoado aos tornozelos o enorme calhau do fracasso. Que ninguém se iluda neste ponto, mesmo os fanboys empedernidos que recusam, em negação, ver as graves limitações deste filme. É possível meter meia dúzia de blockbusters num único filme, esborrachar os egos (de produtores, realizadores e lobbyistas) em duas horas, agrafar e envolver em fita cola os anteriores Thor, Iron Man, Captain America, Hulk e o caralho a sete num filme uniforme com narrativa convencional, mesmo que seja aquela habitual narrativa ornamental Marvel? Não, claro que não. O filme parece um camião do lixo com problemas no motor de arranque. Solavancos, fumo preto e um ruído ensurdecedor e desnecessário.
O que temos são pequenos sketches mal calibrados e com uma sequência incorrecta, uma evolução de personagens a martelo, e um filme onde se perde imenso tempo com futilidades e sem nada que seja essencial. Nenhum dos pontos de viragem da narrativa têm lógica, parecem programados e apesar de perfeitamente aleatórios são sempre recebidos com uma apatia de quem se preocupa mais se os testículos estão demasiado proeminentes no fatinho de licra do que em fornecer realmente uma narrativa que nos possa aquecer ligeiramente a alma.
Há coisas que se percebem ao final de anos de tentativas falhadas. Hulk, por exemplo, percebeu-se finalmente que faz mais lógica entrar num papel de sidekick do que em dolorosos filmes de duas horas de problemas emocionais e crises de fúria mal escritas e pior representadas. Edward Norton como Hulk? Desperdício de recursos. Qualquer livro de “Recursos Humanos para Totós” vos explica este ponto sem grande dificuldades. Thor, outro sidekick. Aliás, enfiar Thor na nossa realidade com aquela farpela de cabaret gay e a sua mitologia de bolso sempre me pareceu má ideia. Quem ler um album dos Avengers actual percebe que TODA a gente faz parte dos Avengers hoje em dia. Por isso, se fosse eu, teria lá colocado meia dúzia de anti-heróis de calças de ganga e personalidades com as quais nos possamos identificar em vez de deuses caídos em desgraça, soldados mutantes com overdose de ingenuidade ou um ricalhaço que poderia estar facilmente numa ilha tropical com um harém de 70 jeitosas mas que prefere andar a apanhar no focinho de criaturas extra dimensionais com capacidades bélicas e tecnológicas um milhão de vezes superiores às nossas, mas que por uma bizarra razão têm um bug que nos permite facilmente aniquilá-los em 14 segundos. De repente lembro-me do vírus da gripe na Guerra dos Mundos e da falha concepcional da Estrela da Morte. Nunca considerei o artefacto Deus ex machina com um modo válido de encerrar uma história. Só nos Monty Python faz lógica despachar assim as coisas.
E é fogo de artifício que temos até ao fim. Nonsense e que existe apenas pela razão de que as pessoas preferem sempre como explicação uma explosão do que lógica. Por falar em lógica, podemos falar um pouco daquele porta-aviões. Eu sei que vem dos livros, mas podemos expandir esta observação para lá também. Eu não sou nenhum engenheiro aero-espacial nem sequer um estratega militar, mas quer-me parecer que numa situação de guerra total em que milhares de acontecimentos por parte do inimigo podem ser grandemente influentes no desfecho na batalha, não tem lógica acrescentar um veículo desnecessariamente complexo que é o ÚNICO meio de transporte dos nossos heróis e do qual depende quase toda a sua estratégia de vitória. Aliás, se fosse apenas um porta-aviões ou apenas um avião, equipamentos testados até à exaustão para garantir a sua segurança, não se perdia metade do filme apenas porque os Avengers têm que ter uma base militar impressionante (é verdade) mas sem grande equipamentos de redundância, sem tolerância a falhas, sem um plano de disaster recovery. Em tecnologia actual poder-se-à dizer que os Avengers não têm um plano de Business Continuity, o que é estranho porque aparentemente têm tudo o resto…
Para não falar dos vilões, que são os mesmos do Transformers 3. E ainda por cima no mesmo sítio. Isto há vilões que nunca aprendem…
Não vi o Thor, nem o Capitão América, vi o Iron Man mas não achei nada de especial por isso nem tive curiosidade de ver o 2. O Hulk do Ang Lee é um bom filme e,infelizmente, ignorado por muitos.
O que me levou a ver os Avengers foi o facto de ter sido realizado/escrito pelo Joss Whedon, um gajo que escreve bem,e realiza bem cenas de porrada. Sim, estava à espera de um pouco de diálogos e melodrama, mas dentro do género não está mau!
Já é o terceiro filme mais visto de sempre, o que não é nada mau para o senhor Whedon que viu todas as suas séries serem canceladas, os seus guiões mutilados, ou rejeitados.
Consta por aí na net que o senhor Whedon escreveu um guião de um filmeco de terror chamado Cabin in The Woods, que dizem que está tão bom e inovador e que é o equivalente ao Evil Dead,e ao Scream, para o novo milénio…
Vai ver mas é um filme do Woody Allen e não estragues com palavras o melhor blockbusters dos últimos tempos! (voz de ofendido)
não percebi a imagem escolhida
Todos os gajos perceberam a imagem escolhida.
A melhor parte do filme foi os gajos sentados na tasca a comer depois dos créditos. Quase que fez o resto valer a pena.