– O senhor, por acaso, sabe quem eu sou?
– Paiziiinho!
– Não, não. Sou um drama familiar em formato de telefilme. Coincidentemente passa-se em pleno apocalipse zombie e protagonizado por Arnold Schwarzenegger.
– Eh lá! Isso é que deve ser matar, esquartejar, decapitar, sangue a jorrar, tripas arrastadas pelas ruas, prédios em chamas, exércitos a bazucar hordes de milhares de zombies pelos ares, a destruição de uma cidade grande americana no terceiro acto, motosseras a…
– Erm… Sim… Não! Não é bem assim. É mais silêncio, contemplação, sofrimento interno, escuridão…
– Escuridão como em “trevas”, a negridão dos tempos, o desespero de se ser mastigado vivo por uma matilha de mortos vivos enquanto se lhes arranca metade do torço a tiro de caçadeira de canos serrados?
– Não. Mais em falhas de electricidade e problemas na infraestrutura de distribuição de alta/média tensão.
– Oh diabo! E vai ser o Arnie a conseguir reconstruir rapidamente toda essa destruição graças à sua capacidade física de super-humano e a uma experiência avançada que não se aprende nos livros para grande humilhação dos jovens superiores hierárquicos que pensavam estar perante um velho caquético que no final lhes salva o dia?
– Não, a infraestrutura mantém-se inalterada durante toda a duração do filme.
-Nem mamas?
– Nada…
É público o meu afecto por Arnold Schwarzenegger. Não são raras as vezes que me vejo sozinho a defender Terminator 3. Não sendo filme excelente é um filme que podia ser um sólido 8/10 se tivesse o John Connor original e uma Sarah Connor funcional (e viva). E também algum envolvimento de James Cameron para garantir que fosse canone. Considero Arnie o meu paizinho cinematográfico pelas obras todas que fez e que acompanharam o meu crescimento enquanto homem, cinéfilo, gajo que escreve acerca de filmes e de temas que orbitam a cinefilia.
Ora, desde que o paizinho cinematográfico voltou da sua campanha política na Califórnia as coisas não têm corrido como esperado. É certo que em cinema de acção não se pode exigir em demasia de um actor com quase 70 anos, mas é difícil abandonar todas as boas memórias de Arnie e enfardar sopapo e a desfazer ao balázio tanto malandrim, seja um patife de Massachussets ou uma desprezível criatura de uma inóspita lua da cintura planetária de Orion. Apesar do meu permanente optimismo e proteccionismo às suas recentes obras, dá sempre ideia de que está a viver dos rendimentos. excepto neste Maggie onde somos duplamente vítimas no nosso preconceito. Se por um lado esperamos um filme de acção violenta por conter um Apocalipse zombie e Arnold Schwarzenegger, por outro desprezamos por completo o valor do filme só porque não é exactamente aquilo que se esperava.
É um drama familiar, de um pai que tem que conviver com um filha doente, sem cura. Podia ser cancro ou outra doença terminal. É zombie. Uma espécie de zombie simbólico a invocar outras realidades, como todos os zombies que se prezem. Não tenho tido muita paciência para zombies desde que o mainstream se apoderou deles. Séries zombie, teen zombie, romances zombie, desenhos animados zombie para crianças, puta que pariu tanto zombie fofo e inofensivo. Lucio Fulci ainda há-de regressar da tumba para fazer a folha a tanta heresia.
E assim se pode dizer que não é um filme mau, não é horrível. Foi apenas apontado a um público alvo errado e com um casting não indicado à situação acima mencionada. Também não sou apologista da demasiada justificação clínica das epidemias zombie, sou forte crente que num filme de zombies a sociedade é completamente dizimada antes sequer que se perceba o que se passou e que os desgraçados que sobram têm muito com que se entreter a safar a pele que lhes sobra pouco tempo para filosofar.
Serve este filme como um exercício de criar crossovers, géneros cinematográficos adaptados a contextos diferentes com protagonistas idiossincráticos.
50 shades of gray pós apocalíptico
A sociedade colapsou, o planeta é um imenso deserto com pequenas tribos de humanos a lutar pela sobrevivência. Numa tenda feita de tecidos apodrecidos e restos de um poste de electrididade, um homem experiente nos caminhos do amor tenta enfiar objectos no rabo de uma noviça facilmente impressionável que aparenta nunca ter sentido a suave textura de um pénis túrgido em nenhuma das suas cavidades naturais ou outras provocadas por mutação genética. Protagonizado por Steven Seagal e Jennifer Lawrence.
Pretty woman durante uma invasão extra terrestre
Um homem vai às putas e embeiça-se por uma galdéria que procura no deboche o verdadeiro amor. O homem rejeita martelar-lhe as carnes e convida-a para passar 3 dias com ele. No decorrer desse apaixonado fim de semana em que o cavalheiro se tenta abstrair das dezenas de pissas que a sua musa mamou na semana anterior, o planeta é invadido por extra terrestres que pretendem usar humanos como fonte de alimentação. Ao tentar salvar o planeta, o misterioso senhor pondera o amor eterno junto da maçoila que, entretanto, recuperou a auto estima depois de ter esfumado o plafond do cartão gold do vigoroso cavalheiro em roupas que a transformam num rebuçado humano com um chapéu tão abaulado que pode apanhar o pacote HD do AfroSat. Protagonizado por Danny Trejo e Chloë Grace Moretz.
Babe, um porco na Bairrada
Um porco falante tem um sonho, ser pastor. No entanto é separado muito novo da sua família e colocado num camião com milhares de outros porcos jovens em direcção a destino incerto. Pelo caminho faz amigo, mas a viagem no inverno torna-se demasiado dura e muitos porcos não aguentam. Ao chegar ao destino consegue fugir dos fornos de queima e encontra um grupo de amigos numa quinta. É adoptado como um cão e vai-se tornando aos poucos um exemplo respeitado de disciplina na quinta. Acaba com um almoço de família em câmara lenta, a preto e branco, em que toda a gente mastiga alegremente leitão da bairrada ao som do Adágio de Albinoni em Sol menor pela Orquestra Sinfónica de Anadia. Starring Diogo Morgado as Babe.
Adorei os exercicios, via-os a todos.
Irei trabalhar para que Hollywood avança com isso.