Eis que a ampulheta Nalgas esgotou a sua areia e o NFF finalmente chegou. Dia de aprumo, botões de punho, sessão de barbeiro, o melhor sebo para aquele especial brilho nas botas, esporas novas. Roupa interior castanha. Ansiedade ao máximo, tick tack motherfuckers, “é hoje caralho é hoje. Solene silêncio no carro a caminho do evento da década. Eu, o Miguel e o Pedro Nora da Rádio Universidade de Coimbra, o Quentin Tarantino Português. Chegada, almoço, uma inundação de calor humano, as caras acolhedoras que me habituei a ver nos últimos anos. Sorrisos sinceros, abraços apertados, matam-se saudades por altura do Natal. O Rui, estrela máxima da rádio pública nacional, o Sérgio e a Susana da Sala Azul, dupla que ilumina qualquer sala, o enciclopédico e eloquente António Araújo, aquele amigo de infância que só encontramos tardiamente na vida, o Carlos, irmão, parceiro de vida em união de facto, a Mónica com o seu sorriso contagiante, qual ninfa de Homero, o Miguel, outro irmão, e o entusiasmo permanente do Nora.
Sorrisos, gargalhadas, o Miguel a lutar com uma pizza (e a perder), bocas foleiras a questionar a heterosexualidade de todos, insinuação de casos extra conjugais que podem ou não envolver um jovem radialista da antena 1 e o reordenamento oral da pilosidade púbica de Catarina Furtado e fomos ao evento que está prestes a começar. Enfim, mais uma típica festa da mangueira. As ruas apinhadas de gente no alvoroço de natal não permite correrias, a nossa encenação da perseguição nas ruas de Nova Iorque do Crocodile Dundee não correu bem. Aliás, foi um belo dia mas frouxo em encenações programadas.
Feira do colecionador
Ainda a mastigar e correr, o Miguel com meia Pizza numa caixa caminhando entre nós como o gigante do Game of Thrones, chegámos às míticas escadas do mais emblemático pequeno cinema do Porto, o Passos Manuel no Coliseu. E lá estavam já os colecionadores com os seus itens para trocar e vender, DVDs, cassetes, livros, posters e o fabuloso portfolio da Nerdcraft13. Todos para a cave escura, húmida e propícia ao erotismo poliamor inebriado do Passos Manuel. Ninguém trouxe as luzes de detecção do CSI e ainda bem. Estávamos a fazer a digestão. É também, curiosamente, uma discoteca depois da meia noite. A malta aderiu, rapidamente aquela cave se encheu de curiosos e fez-se negócio. As minhas cassetes ficaram no carro, já não havia lugar no mercado. Ficou por vender por 800 euros a cassete do Sinbad do Lou Ferrigno e o Gelado de Limão VII que, infelizmente, foi detectado como sendo falsidade por um perito. Através de meios de análise de tecnologia avançada, muita dela ainda só propriedade da NASA, concluiu-se que o rótulo escrito a caneta com alguns erros ortográficos não é o original da CIC Video. Pena.
Botei as mãos num DVD de Commando e ainda me envolvi numa luta corpo a corpo com 3 interessados neste item. O Jay Toso e o seu amigo do podcast dos videojogos são pessoas estranhamente possantes para quem apanha pouco sol. Mas acabei por conseguir comprar à custa de alguns dentes e o baço rebentado. Volta tudo a crescer, diz o médico. Um DVD do commando é sempre necessário, não vá acontecer algo aos outros 17. Temos que ter backups. Devo dizer que foi carote, mas as hipnóticas ancas da vendedora e a persuasão quase militar da sua sogra não deram grande hipótese de resistência.
Toca a corneta, começa a sessão na sala de cinema. Carlos, aqui como Carlão o porteiro, começa a autorizar as entradas. Não tem bilhetinho nem carimbinho não entra na salinha. A não ser que tenha belo decote ou as ancas da moça dos DVDs. Assim já pode entrar. Carlos, esse romântico inveterado
Streaming Vs Colecionismo – JB Martins
JB Martins, velho companheiro de estrada apesar de ser rapaz novo, passou do mais popular blog de cinema para o melhor canal de youtube português. Informativo, claro, lindo de ver, incisivo. Desta vez criou um vídeo especialmente para o evento que lida com um dos temas mais importantes dos nossos tempos, a luta entre o formato físico e o streaming das plantaformas. Dois colecionadores, Josés, Consciência e Santiago, falam das suas paixões e agruras do colecionismo da necessidade arquivística de manter conteúdos a circular, numa época onde já desaparecem conteúdos do mundo por caprichos corporativos e divórcios empresariais. Vídeo límpido, informativo, sereno e profícuo.
The Muppet Face (2022) – Ricardo Machado
Ricardo Machado cria uma perturbadora curta metragem acerca de um encontro amoroso que corre mal. Graficamente forte, em linha com o caderno de encargos e tecnicamente competente. Falha na estética, que se confunde, e nos confunde, num design de vigilância sem verdadeiro reembolso. O arrojo é promissor, mas não se espelha no produto final. Estamos de braços abertos para futuras produções, com a certeza de que as lições aprendidas em muito engrandecerão as obras a caminho.
# fim do primeiro capítulo #
não tinha conhecimento deste festival. só acontece uma vez por ano?
Olá Rui. A partir de agora, sim!