Carlos El Gato é preso e condenado à morte por cadeira elétrica. Coitado, certamente será engano ou uma injustiça do complicado sistema judicial mexicano, tantas vezes manipulado pelas garras dos barões da droga. Ah, não é nada. É um serial killer que também viola. Parafraseando o acordão da sua condenação, “viola à fartazana”. E no dia em que está para ser executado aparece-lhe Satanás com uma proposta. Longe do cornudo vermelho da literatura ocidental dos últimos séculos, este diabo é uma versão badalhoca das madames de bordel dos anos 60 e 70, aquelas senhoras que aviavam chouriça à taxa de largas dezenas por noite e agora só fazem trabalho administrativo pois o corpo revela bem as marcas do tempo e do excesso de cutucação uterina. Este diabo propõe soltar novamente El Gato para a sociedade na condição de que lhe mate e viole 7 mulheres. El Gato exclama “Ok” e passados 20 segundos já se está a preparar para passar a ferro uma cabeleireira especializada em caracóis e madeixas. E assim se repete o ritual de sexo e morte até à sétima pobre senhora.
Habilmente disfarçado de “filme a sério”, esta bela e cristalina edição da Vynegar Syndrome apresenta-nos um raro especimen do exploitation/trash mexicano. Não raro no sentido de haver pouco, mas raro no sentido de nos chegar pouco. Principalmente em ótima qualidade. Qualidade de imagem, não geral.

Damián Acosta Esparza, famoso realizador exploitation mexicano, também não fez questão em polir o filme para os Oscars, basta meter umas senhoras com aspecto drag queen a dar conversa a este rafeiro de facalhão e conversa suave, repetir 7 vezes e o filmes está feito.
Felizmente é tão horrivelmente deformado enquanto obra cinematográfica que não choca. Nem pelos crimes grotescos e violentos, nem pela violência sexual que só falta mesmo as senhoras rirem-se com a parvoíce que estão a filmar, nem pela misoginia e violência gráfica que abunda. Eh eh, bunda… Sempre muito mal feita onde não há suspensão da descrença que aguente. E se forem lá pelas gajas boas, espero que sejam daquelas pessoas que se excitem com velhas e falta de decoro na lapidação púbica.

Tem, no entanto, coisas interessantes. Como o pacto fáustico que parece feito por locutores de continuidade da RTP em fase pré-reforma, a janela aberta ao terror trash mexicano que eu nunca tinha visto, a decadência urbana muito bem filmada em estética VHS para consumir apenas uma vez e uma abordagem pouco usual, apesar de parva, ao sobrenatural das pessoas que tentam escapar à pena de morte. Os efeitos especiais também são deliciosamente vagabundos, como podem atestar por essa foto mais abaixo.
Uma obra porreira para quem é fã de filmes de terror proibidos e politicamente incorretos dos anos 80 ou gosta de ser garimpeiro do cinema esquecido. Apesar da linda e inspiradora aula de história, não me convenceu e deu-me alguma luta para acabar.



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