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The Reckoning (2020)

Tinha roupa para passar a ferro e acabado de obter acesso a uma conta da Filmin. Embirrei que tinha que a aproveitar. O Sr. Joaquim que tudo fornece nunca me deixa mal, mas ali senti o apelo burguês de consumir um conteúdo pago. Aquele permanente sensação de que é pago e é caro e, logo, melhor. Como os pacóvios que pagam dois ordenados mínimos por um telefone e depois nem sequer lhe instalam apps nem usam demasiado porque têm medo de estragar. E eu, de ferro de engomar na mão, carreguei no play deste Neil Marshall que me piscava o olho sedutor e caprichoso como uma ninfa de Homero, sedento de me ver rebentar os costados nas escarpas rochosas da ilha da morte de onde empinava o rabo.

Neil Marshall, esse nome que mete qualquer cinéfilo de pau feito. Muito à custa de Descent, Dog Soldiers ou Doomsday. E bastou essa referência, juntamente com o facto de ser terror (sic) e prometer violência extrema. Enfim, estes temas maduros que amamos. Entretanto percebi que ver um filme recente de Marshall com a paixão de gostar de Dog Soldiers é como ter um crush pela Kelly MgGillis do Top Gun de 1986 e ir lá a casa dela, hoje à tarde, para a cópula ao estilo canídeo. 

Reckoning é passado no século XVI, enterrado na sujidade negra e permanente podridão de uma idade média consumida pela peste negra. Tudo era medo, tudo era trevas, tudo era imundice e decadência. Excepto, claro, a nossa protagonista. Embezuntada dos pés à cabeça de maquilhagem, cabelos saudáveis de manutenção diária, lavada, permanente lustro, cheirosa, mesmo deste lado do ecrã. Pilosidade púbica de elevado aprumor, forte e guerreira. Perfeita, estoica. 

E é nesta senhora que se vai malhar durante quase duas horas. Perde o marido para a peste negra, incapaz de pagar as contas, filha bebé para criar, senhoria pérfido que lhe quer estofar as entranhas com o seu semi túrgido e impregnado de verrugas falo, e as condições para a tortura começam. Acusada de bruxa, aprisionada, arrastada pela lama, humilhada em público. E ela, Xena do Robin dos Bosques, aguenta. Chamam um padre especializado em purgar bruxas, em tortura pública, pêras retais, mamas ao léu, e nem este a quebra. Lá para o fim, qual Rambo de Black Adder, vira o bico ao prego e têm que se haver com a sua fúria. E com as recém capacidades de Commando que lhe permite decepar exércitos à chapada. 

Final feliz, mesmo com vagina inutilizada pelos instrumentos de tortura, ainda com equipamento lá esquecido dentro. Cordas, atilhos e um pequeno furão. Nada interessa, a dama honrada de cinturão negro e treino da Mossad, armada pelos sírios, venceu.  O terror, esse, ficou em casa.

1 Comment

  1. Joao do Camiao

    O Cinema Xunga faz falta a internet, muito obrigado!

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