Há uns tempos, num episódio do podcast Nalgas do Mandarim, falava com os meus amigalhaços co-apresentadores acerca do fenómeno da última década e meia das adaptações de videojogos para cinema. E, como de costume, elencavam-se argumentos rezingões de velhos furiosos com o avanço dos tempos acerca do tema “No meu tempo é que era bom”. Neste caso de nos anos 80, 90 e inícios dos 2000s, os videos jogos mimicavam os filmes que víamos, o cinema era a força motriz por detrás da jovem, imberbe e imatura indústria dos videojogos. Para quem tem andado distraído nos últimos 20 anos, as coisas mudaram drasticamente. A indústria dos videojogos, principalmente da gama AAA, é lider no entretenimento e o cinema e TV agora adoptam os jogos em blockbusters e séries premium nas plataformas.

E como em tudo na vida, há a primeira, a segunda ou até mesmo a décima sétima divisão. Também se fazem adaptações mais contidas orçamentalmente de jogos que não são AAA. E é neste movimento que se insere a adaptação para cinema do jogo da Playstation “Until Dawn”, que nos aparece pela mão dos estúdios de cinema Playstation. É, nem sequer estou a inventar. A Screen Gems, que se anuncia como “a Sony Company” tem debaixo do seu guarda-chuva a Playstation Movies, imagino eu que para adaptar jogos à bruta a partir de agora.
Na verdade não percebo nada disto e só quando vi o filme é que me apercebi desta realidade. Falemos então do filme. Há um ano uma miúda desapareceu em circunstâncias misteriosas. No aniversário do desaparecimento, um grupo de família e amigos vão ao sitio onde desapareceu prestar-lhe uma homenagem e também na esperança de a encontrar. O grupo? O standard para filmes de terror. O casal da melhor gaja da escola com o capitão da equipa de futebol, sempre a brincar aos ginecologistas e são os primeiros a ir com os cães, a gaja profunda que percebe cenas, o gajo sensível que gosta de uma miúda que já tem namorado, o drogado/a, enfim. Estão a perceber. E quando esta pessegada entra em modo matança, resolve-se em 20 minutos. E nós “Oh, e agora? Já acabou?”. Não, é um… Não acredito… Será? É mesmo! Definitivamente é um loop temporal. Yey! E melhor que ser um loop temporal, é um loop temporal que vai acumulando máculas dos loops anteriores e que não é percepcionado da mesma maneira por todos.

Tecnicamente impecável com uma imensidão de morte que se repetem ad eternum e sempre imaginativas e, malta atenção, efeitos práticos. Lindos, violentos, sangrentos e de cravar as unhas na cadeira. Se tem um guião meio frouxo que podia ser melhor? Podia. Os actores são apagados e falta-lhes o fulgor da experiência ou do talento? Também. Mas isso são todos os filmes desta gama.´
Bela surpresa para uma noite a meio da semana, naquilo que parece ser um filme de sexta ou sábado à noite. É como um jantar de leitão assado, em que não é servido mais nada. Nem entradas, nem pão, nem batatas, nem azeitonas, nem sobremesas ou café. Só gulosos nacos de leitão da bairrada que nós comemos com avultada gula. Parece que falta qualquer coisa, mas que se lixe. É leitão à fartazana. Ou o equivalente que vocês prefiram. Sei lá, Bacalhau à Brás, Cabrito, Polvo, McBifana…
Jogos AAA são videojogos produzidos por grandes estúdios com orçamentos elevados, equipas numerosas e forte promoção, como The Last of Us Part II, Red Dead Redemption 2 e Call of Duty: Modern Warfare III.
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Vi no cinema. Esperava pior. Um comédia que se deixou ver bem, sem complicações ou pedantismos
Esperava muito pior. Tanto que andei algum tempo a adiar. Pela surpresa, como dizes, descomplicada.