Ver filmes de terror na noite de Halloween é uma tradição muito portuguesa fortemente enraizada nos nossos costumes e cuja origem remonta ao distante ano de 2009. É surreal a maneira como uma tendência que conhecíamos apenas dos filmes americanos de repente se transforma num segundo carnaval neste jardim florido de lusofonia, numa medrança exponencial violentamente interrompida por um feriado que foi considerado, unilateralmente, supérfluo. Foi nesta tendência que embarquei este ano, de ver um filmezinho de terror antes de me fazer cedo ao vale de lençóis que havia que acordar cedo no dia seguinte para picar boi. A época é fértil em lançamentos novos e reedições, daí que tenha escolhido um Argento perdido que nunca tinha visto por uma daquelas razões que todos temos para ir adiando um filme. Suspiria foi a gema e em nada me arrependo.
Author: pedro (Page 9 of 39)
Por muito ilustre que tenha sido a carreira de Marion Cotillard até ao ano passado, ela será apenas recordada na eternidade dos tempos como aquela gaja que teve a morte mais parva de todos os tempos num filme. E isso é uma injustiça. Daí hoje se fazer a devida homenagem a uma carreira de sucesso, plena de genialidade e profissionalismo, arrojada, proficiente num trilho de arco-iris cintilantes. Por uma incrível coincidência do destino, todas as fotos foram tiradas num verão a meio da década em que o calor tornou impraticável o uso de quaisquer peças de roupa.
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Oriunda das estepes de Yuma, Salma Hayek foi sacrificada pelos seus pais a uma alcateia em troca de culturas ricas em milho e um ano de chuva forte. Com apenas 3 meses consegue fugir da toca onde a meteram e passou os seguintes 16 anos a viver à custa do que a natureza lhe dava numa floresta das proximidades. A riqueza biológica daqueles habitats deram-lhe umas carnes rijas que nem a gravidade de Jupiter parece conseguir quebrar. Hoje, com 46 anos, consegue ainda fazer levantar mais madeira num dia que as empresas de celulose num mês. Senhores e senhoras, crianças sem controlo parental e um grupo selecto de hermafroditas, deixo-vos com a maciça, a voluptuosa, a nefasta ninfa as trevas, Salma Hayek.
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Um brusco tremor e o elevador detém-se. A escuridão rapidamente é substituída por uma tímida luz de emergência que cataliza o incómodo do momento numa das paredes. Quinze dolorosos minutos de silêncio passam e um bater na porta precede as doces palavras de um gentil bombeiro “Esta merda ainda vai demorar. Os gajos da empresa dizem que o contrato de manutenção não cobre intervenções rápidas. Foi o mais barato. Se for preciso mijar, mandamos uma mangueirilha evacuatória.” Estavam presos naquele cubículo um jovem e uma idosa de aspecto bastante carcomido, como se a vida lhe tivesse passado por cima de locomotiva enquanto ela estava amarrada aos carris. Repetidas vezes. Ao dia. “Temos aqui um ligeiro problema”, insinuou a velhota. “Então?” Respondeu o rapaz incapaz de lhe fixar o olhar. Ela inspira e confessa pesadamente. “Eu tenho uma mutação rara que se não tiver sexo 3 em 3 semanas expludo em merda pelos poros”. O jovem arregala os olhos e sem conter o espanto deixa escapar três onomatopeias imperceptíveis que a velha,estranhamente, parece entender. “É daqui a 30 minutos, olha!”. Virando-se de costas levanta a camisola e expõe o corpo nu. O rapaz continua horrorizado e ela diz “Oops!”, sorri embaraçada e levanta as peles que tapam um contador em contagem decrescente orgânico cravado na própria estrutura anatómica. O mostrador conta “00:00:00:14:36”. Volta a tapar-se e vira-se novamente para ele. “O que quer dizer com explodir em merda pelos poros?” pergunta ele hiperventilante. “30 segundos antes da explosão sinto uma vibração na coluna. Depois dispo-me e uma reacção fisiológica evacua-me uns bons litros de fezes a alta velocidade. Como um espirro mas com merda a sair pelos poros do corpo todo.” Continua a senhora, aparentemente habituada a explicar o seu caso. “E tem isso desde quando? Consegue sempre ter sexo para evitar esse espirro?” indaga horrorizado o rapaz incrédulo nas suas próprias perguntas. “Tenho há 17 anos e só por duas vezes tive sexo para o evitar. De resto tenho uma sala em casa preparada para que isto aconteça. Coloco-me no centro, expludo em merda pelos poros e um sistema de lavagem automático limpa-me a mim e à sala em 2 ou 3 minutos. Já me habituei. Hoje teria chegado a tempo se não tivéssemos aqui ficado presos.” A suar profusamente, o rapaz analisa a velha de alto a baixo. Era uma visão de hórrida repulsa. Encarquilhada meio elefante em decomposição meio queijo Camembert, parecia ter uma excreção sebácea a escorrer pelas pernas e pescoço. O seu sorriso era como o suave beijo da morte, exalando vapores capazes de anestesiar totalmente um cavalo em pleno vigor. “E agora?” – pergunta a velha – “fodemos ou é para rebentar em merda?”.
Não sou contra a tendência dos grandes estúdios enveredarem pelo caminho do Grindhouse e filmes em homenagem à gloriosa série B que fez de nós homens (ou mulheres ou híbridos extraterrestres). Fazem-no com bons orçamentos permitindo a realizadores antes vetados à poupança extrema alargarem os seus limites a algumas das mais explícitas e realistas carnificinas alguma vez vistas. O problema é que esta vaga de série B mainstream veio matar a verdadeira série B, retirando-lho grande parte do escasso mercado que ainda tinha. De repente os pueris cinéfilos das nossas praças acham que Machete, Death Proof e Planet Terror são o “real deal”. Acham que os vampiros, lobisomens e zombies são assunto para blockbuster e para o Brad Pitt humedecer quanto vagináceo trintão e quarentão por aí haja. Com este misto de boa vontade com o mais fétido mercenarismo comercial, as produções de série B que fizeram de países inteiros notáveis fontes da cinéfilia do culto do morticínio começam a desaparecer no nosso panorama. Onde antes haviam vagas de géneros exploitation capazes de encher duas salas de prateleiras com capas VHS amareladas, hoje lá vão saindo um ou outro ocasionalmente. Os Asilum e os SyFy não contam, porque são fruto da mesma desonesta exploração comercial que os blockbusters de zombies. Só que em vez de fazerem um filme, fazem 2500 com o mesmo orçamento. Opções…
“Olá bebé. Não dás uma beijoca ao teu xuxu?” sussurrava melosamente o Sérgio às miúdas no liceu. O intervalo tornava-se assim um laboratório de ensaios que transformariam o Sérgio num comercial de sucesso para os finais dos anos 90. Isto, claro, até uma grave crise de consumo o ter levado a aceitar um contrato de rescisão bastante lesivo para os seus interesses, que na ansia de pagar as prestações do BMW o Sérgio se vira obrigado a assinar. O Sérgio gostava do Van Damme e de filmes de porrada em geral. Não gostava quando as personagens falavam muito ou quando passavam mais de 10 minutos sem haver turbulência nos filmes que via. Sentia-se confuso com flash backs e quando alguma situação mais inesperada ocorria numa narrativa menos convencional não era raro o Sérgio perguntar “É um sonho?”. O artefacto do “sonho” era recorrente nas novelas e séries dos anos 80 que permitia avaliar a reação dos espectadores a mudanças futuras. O sonho é também um mecanismo narrativo de failsafe, uma rede que permite fazer o rollback de um arco narrativo menos bem aceite. O Sérgio gostava mesmo era de coisas lineares. “Há um mau muito mau que aleija meninos e um bom que sabe karaté aparece para o matar, FIM. “
Will Smith sempre foi um insuportável bonacheirão, um pirralho de morais questionáveis, na eterna fronteira do adorável / insuportável / “matem-no com fogo”, um efeito secundário de um sitcom que correu melhor do que esperado. Agora, subitamente, transformou-se num pai preocupado, num modelo de patriarquia. Uma abrupta mudança de direcção cuja inércia do movimento rápido nos deixou a todos com uma certa náusea, algo comparável com enjoo marinho ou como quando atravessamos o Algarve pela montanha junto a Espanha num autocarro de Rodoviária de 1982, com aquele inebriante cheiro que é uma mistura de plástico em decomposição com ceroulas usadas duas semanas seguidas sem ver água. Neste novo modelo de Will Smith assistimos a tentativa após tentativa de enfardar o seu filho na elite Hollywoodiana, como que a querer encaixar um cubo num buraco redondo. É nobre que o faça, é o seu dever de pai. No entanto, como estrela de topo na indústria com décadas de experiência, Smith deveria perceber como funciona a sua própria profissão e compreender que há coisas que não podem ser forçadas. Uma criança sem carisma, sem talento e sem as qualidades representativas do seu pai irá ser, no limite, chacinado pela crítica e pelo público.
No saudoso verão de 2009 saiu o primeiro tomo deste franchisado reboot e eu fui ver ao cinema, como ditou o reflexo condicionado de consumidor seguidista e pouco exigente. Durante umas semanas não falei no filme, deixei que as minhas primeiras impressões e preconceitos sedimentassem. Lá me sentei numa pedra em posição yoga e ouvi os amigos que me pediam para controlar o ódio. Vi o que de positivo se podia ver nesse filme e acabei por aceitar este novo Star Trek em realidade paralela para permitir uma nova dose de aventuras que não colidissem com as anteriores. Esse amor rapidamente passou e esta sequela nem sequer a fui ver ao cinema, porque “puta que os pariu a todos mais as sequelas”. Vi o filme quando chegou ao videoclube do povo e estou então pronto para continuar a dissecar os blockbusters deste verão de má memória, e que Deus nos livre e guarde de mais épocas assim. Tende piedade de nós.
No início deste verão prometi a mim mesmo ficar longe dos blockbusters para bem da minha sanidade mental e daqueles que me rodeiam. Não se tratava de uma regra intransigente, antes um “prime directive” com grande probabilidade de ser quebrada. Decidi mais tarde outra coisa mais flexível, ver os filmes mas não falar deles. Basicamente para não importunar ninguém com opiniões geralmente pouco populares. Ontem estava a afiar a corrente do meu Husqvarna 240 e-series TrioBrake (com motor X-Torq) e pensei “Ora foda-se, tenho que levar todos os dias com presunções alheias sem direito a contraditório e não posso opinar em relação a meia dúzia de filmecos cujo principal intuito é secar as mesadas de teenagers que lutam ferverosamente por perder a virgindade pelas nossas lindas praias de areia branca a perder de vista? “ E eis-me aqui, no momento crucial que conclui esta complexa linha de raciocínio.
Vera Farmiga é uma respeitosa mãe de família da minha idade. Todos a conhecemos dos mais variados filmes, sendo que a sua imagem de marca é a sensualidade* e a recusa em meter mamas postiças. Posto isto, vamos às fotos.
*Sensualidade – Capacidade de levantar pau. Medida em milisegundos (ou Furlongs nos Estados Unidos)
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No início do ano vi um filme que algum tempo vinha sinalizado em listas de referências como “filme a não perder”. Apesar de estar já familiarizado com o nome, nunca me ocorreu que Tucker & Dale vs Evil fosse nada mais que um simples filme de terror em que meia dúzia de adolescentes se dirigem para um fim de semana de deboche descontrolado numa cabana da floresta, sem contacto com a civilização, para ver a sua diversão ser interrompida inesperadamente por uma série de decapitações, esventramentos, esquartejamentos e a tradicional decepar dos membros inferiores em plena locomoção. E é exactamente nesta expectativa redutora que Tucker & Dale vs Evil pega para nos levar a um passeio, tirando-nos da perspectiva enfadonha das patéticas vítimas (que quase sempre merecem o que o destino lhes guarda) para que possamos compreender o lado do eternamente injustiçado assassino.
Há uns meses atrás tive o infortúnio de assistir a um testemunho de um jovem que se sentiu impressionado em demasia com Drive, filme de 2011 de Nicolas Winding Refn. O garoto andava perdido na vida, sem planos de futuro, sem namorada, sufocado em casa dos pais, desmoralizado e sem esperança num mundo melhor. Depois de ter visto a luz no enxameio de bofetada requintado protagonizado por Ryan Gosling decidiu passar as noites a conduzir pela cidade a ouvir a banda sonora do filme e a imaginar cenários de grandeza. Um dia foi ao McDrive e manteve a música em generoso volume. Foi atendida por uma gótica meio metalizada que provavelmente tinha dois piercings no clitóris. Ela sentiu uma atração por ele e iniciou um agressivo processo de flirting. “Olá”, “Como te chamas”, “Boa música!”, etc, até que chegou à terrível pergunta “O que fazes?”. O moço respondeu “Conduzo!” com um inexplicável orgulho. E ela volta à carga ligeiramente confusa “Conduzes o quê? Um taxi? Uma carrinha de entregas?”. Nesta altura o jovem sentiu o peso do ridículo e arrancou, tendo-se esquecido de trazer a encomenda. Podia-se adaptar para o remake português do filme. Chamar-lhe-ia “McDrive”.
Esta semana um amigo chamou-me a atenção através de um link no facebook para uma review a um filme scifi dos anos 90 chamados Space Truckers. Cliquei no vídeo e de imediato o meu cérebro explodiu em recordações e referências obscuras de filmes que tinha visto e por alguma razão o meu cérebro achou por bem omitir. Os anos 90 foram profícuos em projectos imaginativos e de multicores caleidoscópicas, em arrojo e coragem de avançar por terrenos desconhecidos ou excêntricos. De modo mais ou menos feliz, todos garantiram lugar na memória dos tempos. Ao contrário do que se faz actualmente, reciclagem e reaproveitamento de fórmulas gastas, os estúdios dos anos 90 permitiam-se a algum divertimento, os actores aceitavam papéis perfeitamente fora do âmbito da sua paleta de representações. Os executivos, imersos em trips intermináveis de cocaína, assinavam qualquer delírio narrativo que lhes colocassem na mesa, enquanto os sesu advogados se deliciavam sexualmente com autocarros de putedo multigénero (e às vezes equídeo) que lhes era entregue ao domicílio. Vamos aqui falar de alguns destes filmes e dos elementos que fazem deles autênticas pérolas de devaneio criativo, coragem e testículos de aço. Dois de cada vez, para não enfartar.
A semana passada dei boleia ao Álvaro da contabilidade. A viagem era curta, mas o infeliz acontecimento de um camião se ter despistado no meio da ponte que preciso de atravessar para chegar a casa, quando me encontrava já num ponto de não retorno, obrigou-me a enveredar pela eventualidade mais horrenda com que um ser humano se pode deparar: a conversa de circunstância. Olhei pela janela do meu lado enquanto o Álvaro olhava pela janela dele com sintomas de um ataque de pânico. Eu abomino a maior parte do contacto social, mas o Álvaro é de outra divisão. É um tipo que tem ataques de pânico frequentes por ansiedade social. Perguntei-lhe se gostava de cinema. Olhou para mim todo sorridente, suado e com aspecto ligeiramente paliativo e disse-me que sim. Disse que ia ver o Super-Homem porque era um filme espectacular. Eu perguntei-lhe porque raio acharia ele espectacular um filme que ainda não tinha visto? “Às tantas vais ver e depois é uma desilusão, Álvaro. Isto de uma pessoa criar expectativas é mau para tudo na vida, desde o sexo ao cinema.” Disse eu tentando legar alguma sapiência ao frágil Álvaro. Bom, deviam ver como o rapaz ficou. Começou a hiperventilar e só não morri ali com o crânio esmagado porque o Álvaro é um franganito incapaz de carregar mais que uma resma de papel de cada vez. Olhou para mim com as labaredas do inferno inflamadas nas retinas e disse-me que era espectacular porque tinha visto o trailer, e que os efeitos especiais eram os mais caros de sempre, e que o Nolan também tinha realizado (sic) e até já tinha visto online umas críticas e diziam que era o melhor filme de super-heróis de sempre. Para quebrar o gelo ainda lhe perguntei o que ele achava do facto de lhe terem tirado as cuecas vermelhas do lado de fora e o terem obrigado a manter a sua roupa interior no seu devido lugar. Não me respondeu. Pegou no telemóvel e começou a jogar Snake II.
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