Desde 24 de Junho de 2003

Category: Cinema (Page 8 of 26)

V/H/S (2012)

VHS6212012

Fui apanhado de surpresa pela dinâmica de V/H/S. Julgava tratar-se de um filme normal, com uma estrutura narrativa principal, um ou dois arcos secundários, etc. Na realidade V/H/S tem como conceito o encapsulamento de várias curtas metragens num contexto que evoca o mítico formato VHS. O fio condutor é um grupo de jovens que invade uma casa em busca de uma fita rara que lhes irá valer uma valente massa. Quando entram descobrem um cadáver num sofá a olhar para várias TVs que estão a transmitir estática. Por deficiência na descrição da sua missão, começam a ver as cassetes que lá estão até descobrirem se alguma encaixa na descrição “fita rara de incalculável valor de mercado”. Inicialmente ainda pensei que se tratasse do original Tomás Taveira (a cores), mas aquilo com que somos brindados é um dos maiores espectáculos de gore dos últimos tempos.

Continue reading

Project X (2012)

lick_1122011_145132

Project X é um daqueles filmes tão espalha brasas que uma pessoa sente-se terrivelmente compelida a vê-lo só para perceber de onde raio vem tanto entusiasmo. Quando vi os cartazes no cinema em Coimbra pensei que seria um horrível pestilência que não duraria mais que uma semana em cena pois a  sua projecção teria o mesmo efeito nos cinéfilos que a arca da aliança teve nos nazis no final do Raiders of the Lost Ark. E mais uma vez pude comprovar que o preconceito cinematográfico é uma força em que devemos sempre confiar, mais poderosa do que o próprio amor ou aquela aversão perfeitamente injustificada de olhar directamente para um pedinte.

The Cabin in the Woods (2011)

Cabin In The Woods Anna Hutchison Wolf

A vida de um pai de família, por vezes, tem temporadas de inferno Disney, em que apenas se vê canal Panda, musicais de qualidade duvidosa onde toda a gente veste fatos de pelúcia com animais personificados, cinema infantil a puxar para a lição de moral, minúsculas fadas voadoras com nome de prostituta de jornal, cães, gatos, tartarugas, vacas, lesmas, ornitorrincos ou famílias de pinguins que celebram o dia de acção de graças e toda uma parafernália de entretenimento capaz de levar à loucura o próprio Dalai Lama. Já não há sequer paciência para Clone Troopers nem para a versão 3D do mestre Yoda. São alturas como estas em que sentimos saudades de um bom massacre. Decapitações, trucidações de comboio a grupos de escuteiros, autocarros de freiras septuagenárias atirados em chamas para fossos de crocodilos. Facadas, esventramentos, degolações, violações em massa por grupos de motoqueiros com Sida (e os seus cães). Estes pequenos prazeres que nos ajudam a equilibrar a mente , para que não nos deixemos influenciar por criaturas de peluche que passam a vida a ostentar piqueniques pomposos e casas de características milionárias sem se lhes ver nenhum meio legal de subsistência.

Men in Black 3 (2012)

Apesar de ser um sci-fi geek que não resiste a nenhuma premissa do espaço e de qualquer uma das 11 dimensões conhecidas (por mais idiota que seja), nunca nada no mundo dos Men in Black me atraiu. Não são filmes de ficção científica, no seu verdadeiro sentido, são publicidades de duas horas que se preocupam imenso com o estilo de vestir, os acessórios, o coolness azeiteiro sem prestar grande atenção à componente de ficção científica. É o Will Smith Gettin’ Jiggy  e o Tommy Lee Jones a fungar de tédio e a dar a entender que se soubéssemos os verdadeiros segredos do universo o nosso cérebro entraria em colapso perante a magnitude deste conhecimento proibido. Depois tudo se resume a cães que falam, gremlins que fumam, carros que voam e óculos Rayban. A verdadeira ficção científica é um MacGuffin. Digamos que segue uma lógica usada abundantemente em Hollywood, que é a lógica da batata.

Ivan Vasilevich menyaet professiyu (1973)

Hoje vamos dar um salto ao cinema da extinta URSS para uma pérola de extravagancia soviética, uma misto de ficção cientifica com o mais puro slapstick, um dos exemplos mais famosos de blockbuster soviete. É praticamente impossível resistir a um filme cujo título internacional é “Ivan Vasilievich: Back to the Future”, que mesmo não tendo nada a ver com o homónimo de Michael J. Fox, partilha a sensação de afligimento de quem está involuntariamente entalado numa época que não é sua. No final do filme conseguimos responder à questão meta-física que mais atormenta a humanidade do século XXI: “Porque necessitamos nós de um carregador solar para o nosso smartphone? Para o caso de viajarmos acidentalmente para o passado…

Continue reading

The Dark Knight Rises (2012)

catwoman

The Dark Knight Rises é como aquelas pessoas que se apresentam a si próprias como sendo Dr. Qualquer Coisa. Normalmente licenciados em direito ou economia que mesmo sabendo que o título só se pode aplicar a licenciados em Medicina e doutorados (neste caso deverá escrever-se Doutor) insistem em que lhes seja atribuído um título que não têm. É um filme presunçoso que desde início se faz anunciar como um filme espectacular, levando as mais frágeis mentes a  acreditar de antemão estar perante um clássico instantâneo quando, na realidade, estamos perante um filme fraco. Se todo o dinheiro gasto a fazer este filme fosse trocado por notas de um dólar e depois enrolado em tubos castanhos, dava para limpar o cu a toda a população do médio oriente durante 53 anos.

Continue reading

Serbuan maut a.k.a. The Raid (2011)

the-raid-redemption

Qualquer um de nós tem a mesma sensação quando olha para os cartazes em dos filmes em exibição nos multiplexes nacionais. Parece tudo o mesmo filme ou então parecem todos cópias de um estilo específico. Olhamos para qualquer cartaz e percebemos rapidamente a história do filme, o seu progresso e o final. É a triste verdade. Em termos cinematográficos, os nossos salas alimentam-nos sempre a mesma porcaria. Ocasionalmente um improvável filme extra-Hollywood fura esta lobby americanizado do “Tudo o que não é Hollywood é mau!”. Desta vez o cinema de acção americano recebe dois valentes bofetões bem assentes no focinho da Indonésia. The Raid é o melhor filme de acção dos últimos anos. Imparável, electrizante e inovador. Não poupa os espectadores das cenas mais bárbaras e até tem um história e tudo. Vamos então dissecar este bordoada-fest indonésio com tendência para o ocasional desmembramento e a decapitação acidental.

Continue reading

Battleship (2012)

battleship

Jaime era uma rapaz de 23 que tinha acabado de arranjar um emprego como engenheiro mecânico numa marca automóvel famosa, com ordenado mínimo e contrato a 3 meses. Conheceu Alice, uma adorável garota de  25 anos no café onde tomava o pequeno almoço. Palavra puxa palavra e Jaime convida Alice para uma ida ao cinema. “OK!” diz ela enrubescida enquanto acaba de tomar o seu Capuccino. Nessa noite encontraram-se frente ao cinema e quando Alice se dirigia à bilheteira, Jaime sussurrou-lhe ao ouvido “Onde vais tontinha? Já aqui tenho os bilhetes!” e piscou-lhe o olho com uma malícia perfeitamente aceitável para a ocasião. Duas horas depois saem do cinema e dirigem-se para casa de Alice para ver uns posters que ela encomendou da Amazon. Os dois perceberam a razão dessa visita, mas nenhum quis admitir. Antes de entrar em casa, a rapariga pede-lhe que se descalce, pois não quer sujar a sala que tinha sido aspirada durante a tarde. Jaime entrou descalço. “3 gatos?”, perguntou. “Na realidade são 12, mas alguns marotos andam na rua. São os meus filhinhos”. Alice pediu desculpa e ausentou-se para vestir algo mais confortável. Jaime sorriu de modo maroto e sentiu uma ligeira erecção a imaginar a noite de deboche que tinha pela frente. Ouviu um ligeiro barulho atrás do sofá onde estava sentado e ao tentar virar-se sentiu um dor aguda na base do crânio. A sala pareceu-lhe rodar 90 graus mas podia ser apenas um efeito óptico por estar a cair meio inconsciente em direcção à alcatifa. A última coisa que sentiu antes da visão se ter enegrecido e depois enchido de estática, foi um gatinho que se apressou a lamber-lhe o sangue que lhe descia pela testa.

Continue reading

TED (2012)

ted

Há filmes que não merecem mais do que um conjunto de anotações rápidas, à laia de microblogging. TED é um desses filmes. Tal como se esperava, um live action de Family Guy, um metralhar intenso de referências de cultura pop e o mais vil escárnio às celebridades que Seth MacFarlane odeia, juntamente com surrealismo qb a embrulhar uma pobre e estereotipada narrativa que poderia ser a próxima comédia romântica de Ben Stiller ou mais um tomo de Harold & Kumar. Com a agravante de ser fortemente diluído, exageradamente explicado, predominantemente inerte e acompanhado de um exército de clichés tão discretos como a Banda Filarmónica dos Bombeiros Transexuais de Aguada de Cima a Vestir Lantejoulas Rosa by Givenchy. Isto porque há crianças a ver. Não é que eu seja um hater, longe disso. Gosto muito da minha dose de episódios de Family Guy, mas é ao domingo quando estou a ressacar ao pequeno almoço ou a cortar as unhas dos pés. Não é algo que aprecie gastar as economias que tenho guardada para o futuro dos meus filhos, mas o certo é que gastei. Estes 6.60€ já ninguém me devolve e se continuar a gerir as minhas finanças com esta leviandade, um deles ainda acaba por ter que escolher Educação Psico-Social Geriátrica na Escola Superior de Educação de Bragança ou, pior, Ciência da informação arquivística e Biblioteconómica da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Este filme é uma valente bofetada de luva branca (cheia de pilhas e rolamentos estragados) para aqueles desbocados que não se cansam de repetir que Howard The Duck é um dos piores filmes dos anos 80. Embrulhem, incultos!

Piranha 3DD (2012)

Piranha-3DD-Photo´

Com a crise, a falta de empregos, a depressão colectiva e a falta de segurança,  as pessoas começam a construir a ideia de que terão que ser sérias e confiáveis para que possam singrar no mercado de trabalho ou em qualquer outra parvoíce social em que se envolvam. Com isto tendem a abdicar do seu sentido de humor, porque pessoas estúpidas tendem a acreditar que humor e risota são duas faces da mesma moeda que é a tolice e a palermice, características que tentam erradicar de si porque acreditam que um semblante cinzentão e a capacidade de pesquisar rapidamente na wikipédia fazem de si seres menos odiosos. Isto para dizer que as pessoas têm vergonha de rir, porque com a avalanche de mau humor que os media portugueses têm servido desde 1992 já poucos têm a capacidade de perceber o que tem mesmo piada e o que são videos caseiros de gatos a escorregar em cascas de banana. Pior, confunde-se Seinfeld com Friends e Monty Python com Os Malucos do Riso. E assim que o Grande Cinzento se apodere de nós, seremos criaturas tão interessantes como o contabilista de Angela Merkel, gajo que penteava a Lassie ou o canalizador do Arnold Schwarzenegger.

Continue reading

Ragging Bull (1980)

Raging bull

Há qualquer coisa nos desportos de violência física que atrai os humanos com um poderoso magnetismo animal. O ser humano gosta de ver uma boa luta e gosta de sangue. As pessoas gostam que sangrem por si, pela sua equipa, pelo seu país, pela sua honra, pela sua vida, pela sua aposta. É o instinto primitivo. Gostam da “Vitória ou a morte”. Isto, claro, sem sair do conforto uterino do sofá ou da bancada. Ali na passagem da década 70 para 80, Hollywood sabia que o tema era quente e, sobretudo, rentável. Ora toca a inundar o mercado com tragédias e dramas de lutadores caídos em desgraça ou renascidos das cinzas, biografias, ficções ou uma mélange agridoce das duas. Não falo apenas de Rocky e Ragging Bull, falo também de uma miríade de produções satélite de baixo orçamento que aproveitavam onda de hype e glamour do boxista, como The Champ ou Dempsey. Sim, eram filmes de segunda linha, mas quando não havia mais nada nas prateleiras do videoclube também se alugavam, com um belo porno para contrabalançar. Algo com a Ginger Lynn ou a Traci Lords antes de terem topado que os melhores filmes dela foram feitos antes dos 18 anos. Oops…

Continue reading

O 3D está moribundo, esperemos que morra depressa.

Passados uns anos desde que Avatar nos envenenou os cérebros com as promessas de um maravilhoso mundo novo que afinal era velho e que afinal era mais uma artimanha desonesta para nos sacar os tão preciosos euros que parecem agora mais essenciais do que nunca, eis que qualquer produção cinematográfica que se queira levar a sério opta agora por se distanciar desta fantochada que é o 3D. Convenhamos, não existe nenhuma vantagem em ver um filme em 3D. Em retrospectiva, quando nos tentamos lembrar dos filmes que vimos em 3D, as memórias aparecem em 2D, o que é um claro sinal que o nosso cérebro é mais inteligente que nós. E antes que esta tecnologia se desintegre nos fossos do esquecimento e dê lugar uma nova época em que a trepidação das cadeiras nos faça cócegas nos testículos (e equivalentes) para adicionar drama ao re-re-re-re-re-re-reboot do Spiderman, vamos lá dilacerar este cadáver.

Continue reading

Iron Sky (2012)

Depois da balbúrdia deixada na Europa dos anos 40 por Adolf Hitler e o seu séquito de fanboys, pouca simpatia passaram a colher junto das populações. É certo que lhes era reconhecido bom gosto em vestuário, maquinaria e objectos de adorno pessoal, mas chacinar meio continente com o pretexto de que não se dão bem com vizinhança barulhenta raramente gera empatia junto daqueles que apreciam viver sem a eminente ameaça da execução sumária. Há, no entanto, duas notáveis excepções para estes safardanas de belas casacas, falas rudes e apreciadores de um reluzente prepúcio intacto: o Nazi zombie (clássico intemporal) e o Nazi do espaço. Eu não acredito em nazis que se esconderam no lado negro da Lua durante quase 70 anos a criar uma sociedade ariana e tecnologia bélica capaz de obliterar grande parte do hemisfério norte do planeta Terra, mas que os há, há!

Continue reading

Avengers (2012)

avengers

Quando tinha 10 anos fui ao circo. No intervalo saí para ir ao WC e quando voltava enganei-me na porta. Entrei no backstage. Aquilo que vi naquela imunda salinha fez-me repensar toda a minha perspectiva sobre a existência humana. O ambiente nebuloso com um misto de cheiros que ia desde o tabaco entranhado nos tecidos até ao forte suor de quem não se lava há meses, passando pelo odor a peido permanente misturado com chulé, encerrava uma imagem que ainda hoje tenho apegada bem no meio do pódio dos traumas de infância. O mesmo palhaço que tinha acabado de fazer um adorável número musical com um serrote estava agora a praguejar como um trolha bêbedo. As palavras de um grau impensável de asneiredo só não me chocaram mais porque o impacto visual de um palhaço sem calças, sentado num sofá gasto a fumar um fino cigarro com cheiro a incenso e a acariciar o peludo testículo que lhe saía dos truces foi manifestamente superior. Olhou para mim, teceu um esgar de compaixão e proferiu uma frase que nunca mais irei esquecer “Hey caralhito, e se te pusesses nas putas? É a porta ao lado que querias, ó paneleirote!”. Ora este incidente, por muito pérfido que possa ter sido, ensinou-me uma das mais importantes lições da minha vida. Desde esse dia compreendi finalmente o segredo da felicidade. Afinal tudo passa por não ter expectativas altas em relação a nada. Este ensinamento, por muito insignificante que possa parecer, ajuda-nos a encarar todos os acontecimentos do dia a dia com júbilo acrescido. Seja numa situação profissional que afinal não é tão horrível como à primeira vista poderia parecer ou num inesperado encontro de sexo em grupo. Manter as expectativas baixas é sempre o segredo da felicidade. Quanto muito da ausência de infelicidade, que nos dias que correm já é bem bom.

Continue reading

Prequela da crítica dos Avengers (estará esta juventude perdida?)

Sexta-feira, início de Verão. Faz-se noite e pelas frestas do controlo parental começam a afluir às superfícies comerciais hordas de jovens mancebos que carregam o peso morto das expectativas dos seus pais. Sonhos projectados naqueles que, inebriados por uma realidade sintética, vivem uma encenação de prosperidade. Sonhos que lhes foram confiados. Sonhos que acabam sempre violentados e jogados em farrapos nos caudais fétidos do mais vil desprezo pelo trabalho alheio. Diria o poeta que seria um insano desperdício de amor. Mas como todos sabemos, o poeta é outro paspalho inflado de excesso de auto-confiança com capacidades quase sobrenaturais de parasitismo. Além disso o poeta aprecia a sua linha de coca e o ocasional enrabanço ao abrigo do direito de exploração artística.

Continue reading

A Very Harold & Kumar 3D Christmas (2011)

Imensas discussões têm incendiado a Internet acerca de qual será a versão masculina do filme de gaja. Será o filme de acção? O porno? O bromance? A comédia escatológica? O disaster movie? Na minha opinião, nenhum destes. A versão masculina do filme de gaja é, indiscutivelmente, o stoner movie. Porque é que as mulheres adoram comédias românticas? Porque projetam todas as fantasias e sonhos que nunca verão concretizados, porque as ajuda a acreditar num futuro melhor, um futuro onde não apanhem de cinto, não sejam trocadas pela mamalhuda que trabalha com o namorado ou num futuro em os seus companheiros não lhes forcem dedos no anus. O stoner movie é o pináculo da fantasia masculina. Uma vida livre de compromissos e aborrecimentos mundanos, onde cada um cede apenas aos seus instintos mais básicos sem se preocupar com dinheiro, problemas conjugais e familiares, saúde ou pormenores legais. Seja sexo e drogas ou Playstation e Coca-Cola, sejam mulheres, homens ou cavalos, seja escalar os Himalaias ou passar fins de semana no sofá a ver estática com preguiça de levantar o rabo para mudar de canal. É o sexo masculino primordial.

Continue reading

Red State (2011)

Red-State

Todos nós odiamos os Estados Unidos da América como odiamos o nosso dealer, sentimos um revoltante repúdio mas não conseguimos deixar de consumir os seus produtos. Basta ver as notícias com regularidade para perceber que ideologicamente alguma coisa está diabolicamente distorcida do outro lado do Atlântico, seja porque houve mais um puto a dizimar duas turmas do liceu ou porque foi adoptada mais uma medida belicista de agressão externa para permitir que os preços do petróleo se mantenham constantemente em valores altíssimos. Apesar de ninguém resistir aos encantos belicistas deste belo povo que não abdica do ocasional incesto com fins reprodutivos, é na religião que aparecem as maiores barbaridades. O seu Deus é baseado num conceito muito elástico que se parece moldar perfeitamente em redor do seu modo de vida ao mesmo tempo que conjura as labaredas do sétimo patamar do Inferno para todos os que não concordem com o American Way of Life. E é este terreno pantanoso das barbaridades feitas à sombra da religião e de um Deus castigador que Kevin Smith nos apresenta, numa América profunda, ignorante e fortemente racista. Sem Silent Bob nem nenhum Clerk, apenas a frieza de uma fé punitiva e de uma guerra que põe frente a frente dois tipos de insanidade diametralmente opostos mas igualmente devastadores.

Continue reading

Conan the Barbarian (2011)

Todos aqueles que conviveram intimamente com os Conans de Schwarzenegger nos anos 80 ficaram aterrados com a ideia de um remake. Não só por se tratar de um remake de um filme que fez de nós mais homens, mas por ser pura e simplesmente um remake. Convenhamos, não haverá maior abominação neste planeta do que um remake. E se um remake a um filme de merda já é condenável, um remake a um clássico da nossa juventude é como uma violação em grupo num daqueles dias em que hemorroidal não está no seu melhor estado. Não é que os Conans originais sejam grande especialidade, mas são os nossos Conans, bolas!  Aqueles que nos mostraram as mamas da Sandahl Bergman, da Olivia d’Abo ou da Grace Jones. Mas nenhum desses pares de mamas se revelaria  maior que o de Schwarzenegger, numa fase em que o seu corpo tinha mais hormonas de cavalos do que grande parte do cavalos da altura.

Continue reading

Super 8 (2011)

super-8-filme

No final da sessão do Captain America mal consegui conter o vomito até chegar à casa de banho do cinema. Enquanto cabritava restos do almoço em convulsões tão poderosas que poderiam deslocar facilmente uma omoplata a um iniciante das artes do gregório, um amigo que foi comigo ao cinema colocou a sua mão no meu ombro e disse bondosamente “Oh Pedro, há mais filmes no mundo. Não gostaste deste podes sempre ver outro.” Ergui a cabeça, racionalizei no que ele tinha acabado de dizer, levantei-me e dei-lhe uma cabeçada no nariz. Antes de ele ter tempo de bater com as costas no chão, já o meu pé o esperava e assim foi de pontapé em pontapé até à outra ponta dos sanitários quando a sua cabeça foi violentamente impedida de prosseguir por uma parede de mármore. Enquanto lhe desfigurava a cara inconsciente numa sucessão de uppercuts, sussurava-lhe aos ouvidos as palavras “Quem te disse que me podias acompanhar para a casa de banho dos homens? E quem te disse que me podias tocar?” Horas mais tarde, quando acabava de o enterrar num monte ali para os lados do Pinhal de Marrocos, pensei “O Cabrão tinha razão. Posso ir ver outro filme e salvar o dia”. Fui novamente para bilheteira, comprei um bilhete para o “Super 8”, respondi com um “E se fosses levar no cu?” à pergunta “Vai querer pipocas também?” e entrei sala adentro na esperança de um mundo melhor, um mundo onde a paz finalmente reinará, onde as nossas crianças possam jogar Carmageddon sem precisarem de mentir acerca da sua idade real, onde uma fibra sintética à base de polímeros de carbono possa substituir a exploração inumana de alpacas na américa do sul para a produção de lã e a prática sexual conhecida como minibus (dois à frente, cinco atrás) deixe finalmente de ser tabu.

Continue reading

Erica Fontes – Um orgulho nacional

ericafontes

Ultimamente o país tem sido atravessado por uma onda de fervor nacionalista em contraciclo com a baixa auto-estima relacionada com uma crise que nos vai obrigando constantemente a relaxar o esfincter. Um dia destes apanhei um programa num canal generalista que falava de portugueses emigrados que “davam cartas” nas suas respectivas áreas profissionais. Se é certo que existe um esforço enorme de serviço público para nos tirar da depressão com contos de fadas de Avecs e Johns da Silva, também é certo que o povão não liga muito a sapateiros, padeiros, limpa-chaminés, biólogos doutorados ou um rapaz com ligeiro atraso mental que terá alegadamente patenteado um sistema robótico de monitorização de cabras a grandes altitudes (o famoso P.A.S.T.O.R. ). A malta só quer saber de duas coisas: celebridades do mundo do entretenimento e sexo. Ora o que as pessoas não sabem é que uma das melhores actrizes pornográficas do mundo é portuguesa: Erica Fontes! Jovem determinada e trabalhadora que foi catapultada para o sucesso na meca da pornografia a pulso, ao custo de dar o corpo ao manifesto, obrigada a engolir mais do que desaforos,  que tem sabido cavalgar o sucesso com moderada euforia e com uma taxa de penetração no mercado muito acima do que seria à primeira vista expectável.

Continue reading

« Older posts Newer posts »

© 2025 CinemaXunga

Theme by Anders NorenUp ↑