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Category: Não é Xunga Não Senhor! (Page 2 of 11)

My name is Max. My world is fire and blood.

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Coimbra, 1987. Tudo se resume sempre ao início, à génese das coisas. A um senhor a quem chamávamos “senhor”, de seu verdadeiro nome Dinis, que teve a visão de criar um videoclube e realizar as mais selvagens fantasias de adolescente dos anos 80: poder aceder livremente a pornografia e ver filmes sem sair de casa. Nesse templo de peregrinação semanal conhecemos Max, o louco, numa trilogia de luxo da qual idolatrávamos o segundo tomo como se de uma referência religiosa se tratasse. Lord Humongous era o nosso Satanás e o Road Warrior o Jesus redentor. Os santos e os mártires pereciam à fúria dos demónios das areias nas suas infernais bestas motorizadas. O discurso “There has been too much violence. Too much pain. (…) Just walk away.” rodava 3 ou 4 vezes ao fim de semana numa cópia que fazíamos de vídeo para vídeo, juntando esforços com um vizinho com o intuito de partilhar esta joia. Uma operação tão complexa como activar ogivas nuclear, com os dois responsáveis pelo equipamento a rodar a chave em simultâneo. As nossas bicicletas tinham espigões laterais e nos nossos corpos ostentavam-se as mazelas de acrobacias falhadas. A nossa religião era Max, o louco, e os clones italianos de baixo orçamento eram a nossa perdição. Todos consumidos, todos copiados, todos partilhados. Como representantes da religião de Max, a decepar, mutilar, incinerar e decapitar por esses wastelands fora. “Just walk away” é a voz que ainda oiço a meio da noite, ensopado em suores dos mais nefastos pesadelos. Como senti a falta do cinema do Max de Miller neste anos que passaram. A nossa relação não acabou bem, o último com a Tina Turner foi um embuste, uma colagem de interesses que não resultou como pretendido. Não é um filme desprezível. Também não chega aos calcanhares do Road Warrior.

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Whiplash (2014)

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Nos meus tempos de jovem descomprometido e de ir para onde o vento sopra fui baterista e tive algumas bandas, não necessariamente por esta ordem. Eram tempos de grande azáfama, nos anos 90 centenas de pequenos bares e clubes competiam entre si para ter bandas ao vivo que era isso que a malta gostava. Viver um centésimo do que se vivia na latejante noite de Seattle. Eu não era do tipo rockstar, pelo contrário. Era aquele baterista soturno e cabeludo que servia de técnico de som, transporta caixas e tratava de minimizar os estragos porque as condições nunca eram as prometidas. Isto enquanto o vocalista aproveitava a carrinha vazia para brincar ao esconde o martelo com duas noviças inebriadas facilmente impressionáveis. Entretanto abandonei por razões profissionais, mas o que vivi marcou-me para sempre. O músico que quer ter carreira é uma pessoa obcecada. Alguém que quer chegar ao topo da sua área. Mesmo o facto de saber de antemão que nunca o conseguirá não o irá demover de tentar. Os músicos mais empenhados tornam-se assim em ermitas num estado de quase permanente autismo. A música é a única coisa. É o caminho, a vida e o amor. Melhorar, ser melhor, ser o melhor, progresso diário. Anos depois de abandonar a arte percebi que podes largar a bateria mas a bateria nunca te larga a ti. Um baterista, ou um baixista e percussionista, vive em ritmo. Tudo tem um ritmo e é a ele que obedece. Procura padrões, está em estado de permanente batuque, seja com lápis, dedos, pés, seja em reuniões com a administração, funerais, em conversas que deviam estar a prestar atenção. É uma maldição.

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What We Do In The Shadows (2014)

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Tenho algumas (poucas) regras que sigo no que diz respeito a escrever posts no blog. Uma delas é tentar escrever textos que possam ser lidos sem ser necessário contextualizá-los temporalmente. No entanto hoje vou ter que quebrar essa regra. Hoje, dia 7 de Janeiro de 2015 aconteceram dois negros eventos relacionadas entre si que vou analisar separadamente. Um ataque a uma redação de um jornal humorístico francês provocou 12 mortes, a maior parte jornalistas e cartoonistas. Foram assassinados por pessoas que, zangadas com o mundo, julgaram ver nestes artistas a causa de todos os males da humanidade, interpretaram linearmente as suas subjectividades artísticas e as figuras de estilo caricaturais. Acharam ser o humor a pior das malevolências. Dentro das suas limitadas mentes de cepos unidimensionais terão pensado fazer o seu mundo melhor com a execução sumária destes artistas, jornalistas, cidadãos, pais de família, filhos de alguém… No seguimento desse ataque deu-se o segundo evento que marcará para sempre este dia. Um polícia imobilizado pelos disparos deste ataque jaz ferido e levanta as mãos a pedir clemência, claramente debilitado. Quase em directo, em milhares de canais de TV do mundo inteiro, um elemento das forças que ajudam a manter ordem neste mundo é chacinado com um tiro na cabeça. Sem drama, como se o atirador estivesse a fazer saltitar pedrinhas na superfície de um idílico lago nas montanhas dos Alpes Suíços, como se de uma entediante tarefa rotineira se tratasse. Ali, sob o olhar incrédulo dos cidadãos do mundo, uns a almoçar, outros a jantar, outros ainda na azáfama matinal de preparar as crianças para a escola, a mais fria crueldade colocou fim a uma vida humana. A maior violência que já vi. Não o acto em si, não a execução, não a barbárie associada a todo o conjunto. Todos nós vemos diariamente decapitações, centenas de pessoas alinhadas vivas em valas comuns para serem calmamente executadas por patifes imberbes que parecem aborrecidos por lhes terem interrompido o Grand Theft Auto V quase no último nível. O facto de ter sido apresentado naturalmente, sem grande alarido. “Imagens chocantes“, ouvimos todos os dias e estamos habituados a que seja um isco de audiência. “Ah, é verdade, agora aqui nesta cena um polícia apanha um tiro na cabeça. É melhor tapar os olhos às criancinhas.” A frieza dos média não ajudou a melhorar o dia. Senti o cérebro gelar e fiquei com aquele feedback surdo que costumamos trazer da discoteca às 7 da manhã ou dos concertos de Manowar. “Filhos da puta”, dizia um amigo no facebook. E com toda a razão.

A partir de agora os estados irão unir-se, fazer taskforces, thinktanks, jointventures, regras que irão prejudicar pessoas que não têm relacionamento com isto, uma mini-americanização da Europa, escutados todos os telefonemas, lidas todas as mensagens, escrutinado todo o tráfego internet das famílias que pouco mais que email e preencher o IRS fazem. Um investimento brutal no upgrade do já de si Big Brother. Eu nem me importo de abdicar de algumas liberdades para que os meus filhos, a minha família, os meus amigos, as pessoas que nem sequer conheço mas que decerto merecem tanto como os que amo, tenham segurança. Só que temo o pior. Certamente que um dia a poeira irá baixar e a máquina que tudo cheira nunca cessará de funcionar. Este ano procura terroristas, para o próximo escuta esposas infiéis e ministros corruptos e pouco faltará para que as multinacionais manipulem os poderes para multar e prender os miúdos de 16 anos que usam torrents ou que sacam discos dos Coldplay sem pagar o preço pornográfico que lhes pedem. Espero que não seja este o nosso futuro, que o medo não sirva para nos impor um regime Orwelliano ou o fundamentalismo moral das multinacionais disfarçadas de estado.

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Hell Comes to Frogtown (1988)

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 Com a actual globalização e monopólio de 2 ou 3 estúdios americanos há um deficit de cinema arrojado no mundo. Não nego a sua existência. Reforço, no entanto, a ideia de que a sua distribuição é bloqueada por aqueles que gerem o processo de ponta a ponta, atafulhando por completo os multiplexes de filmes plastificados genéricos de simplória qualidade cinéfila. Tempos houve em que os estúdios arriscavam os chamados “alienígenas escaganifobéticos” na esperança de que o gáudio de um nicho pudesse contagiar outros consumidores e , quiçá, futuros apoiantes deste tipo de produções. Eram generosamente lançados nos canais de distribuição disponíveis na altura. E havia escolha. Uma multiplicidade de opções que, mesmo o mais monodimensional cepo consumia. Ora, nesta excelsa classe do “alienígena escaganifobético” cai Hell Comes to Frogtown, cujo epíteto  encaixa que nem uma luva. Vamos falar um pouco da história do último homem fértil do planeta cujos lideres, sapientes como sempre, lhe ataram uma bomba na gaita para que não pudesse ter comportamentos imorais. A sua função seria copular até ficar com o salpicão em carne viva e não perder tempo a embebedar-se ou a fumar. Haja decoro.

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The Sorcerer (1977)

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Na segunda metade da década de 70 William Friedkin era um realizador com Hollywood no bolso. Estava numa posição de poder escolher qualquer projecto que os meios ser-lhe-iam servidos em bandejas douradas. Podia telefonar às 4 da manhã a pedir um cheeseburger com espectáculo de anãs lésbicas amputadas cuspidoras de fogo ou exigir um sacrifício infantil em massa por imolação em triturador de carne. Sem problemas, tudo na graça do senhor. Ora o projecto que optou por realizar foi Sorcerer, a adaptação do livro Le salaire de la peur de Georges Arnaud. Poderia neste momento encabeçar todas as listas de melhores filmes, ter um estatuto de The Godfather, Taxi Driver ou Clockwork Orange  mas uma improvável sucessão de infortúnios deu-lhe a extrema unção e posterior despejo nas areias movediças do esquecimento Hollywoodiano.

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Edge of Tomorrow (2014)

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Há algum tempo atrás estava num fórum de cinéfilos duros, malta insensível às formulas gastas do mainstream, e numa thread de  novidades perguntei que tal era o novo filme do Tom Cruise. penso que na altura era o Jack Reacher. Esperava eu um tom jocoso e brutalmente cruel para com a vida e obra deste excelso cientólogo quando um dos históricos me responde assim: “Há algum filme do Tom Cruise que seja mau?”. Ora isto meteu-me a pensar na vida, no universo e, na verdade, em toda a existência. Um movimento gasto, inconstante e empoeirado de velhas rodas dentadas deu-se na zona encefálica desta velha carcaça e começou um exercício de pesada ponderação que viria a durar dias.

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This is Spinal Tap (1984)

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Num episódio de Parker Lewis Can’t Loose no início dos anos 90, Mike (o roqueiro musculado de inteligência limitada) perguntava horrorizado a Parker Lewis “Documentário? O que raio é um documentário?”. Parker, com a sua paciência descontraída e a infinita amizade por Mike respondeu “Bem Mike, um documentário é um rockumentário, mas sem rock.” Mike, afável bonacheirão, encolhe os ombros e eleva ligeiramente as sobrancelhas num esgar de compreensão. É de rockumentários que vamos falar hoje, mais precisamente do rockumentário de todos os rockumentários, ainda que em versão mocumentário, o lendário “This is Spinal Tap”que retrata a dura realidade da maior banda ficcionada de todos os tempos.

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Nebraska (2013)

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Ontem foi dia do Pai e eu tive o privilégio de almoçar com o meu. Um almoço normal sem sentimentalismos sazonais. Não foi marcado pela solenidade do dia, foi fruto das tropelias do destino. Falámos de futebol (em termos leigos para eu perceber), de saúde, de cinema e das séries que ele agora vê. Falámos dos netos, da família, dos cães, dos gatos, do preço do frango ser exorbitantemente baixo ao ponto de se dever desconfiar da qualidade para consumo público, dos morangos que plantou só porque os netos gostam de os apanhar e comer “au naturel”. Já não moro com ele há quase 20 anos, não estou longe, mas é cada vez mais complicado apanhar assim um momento. Já não é o mesmo tipo de pai que era nos anos 80, é agora um orgulhoso avô. O meu pai nunca deixou a família para passar a noite com os amigos, nunca se negou a ler-me legendas de filmes completos antes de eu saber ler, contra a vontade da minha mãe atrasou-me várias vezes a hora de deitar para que pudesse ver o The Incredible Shrinking Man, o King Kong ou o Tarantula de 1955. O meu pai ofereceu-me uma metralhadora de aspecto realista que era a inveja dos putos todos da rua. Levava-me ao cinema itinerante  lá do lugarejo todos os domingos, religiosamente. “Olha que ele é novo demais”, dizia a minha mãe. “Não lhe há-de fazer mal nenhum!”, respondia ele sem nenhum pedo-psicólogo a infernizar as ondas hertzianas para o contrariar. Acompanhava-me e aos meus amigos nas futeboladas e deixava-me marcar-lhe golos quando estava à baliza. Foi o meu primeiro grande amigo, o original Bro. Ainda o é, mesmo com as azáfama das nossas vidas. Não somos lamechas nem falamos de paneleirices. Só coisas de homem. Ferramentas, técnicas recentes que vieram revolucionar a tradicional matança do porco e da noite de natal em que nos baldámos à missa do galo para ver o Predator 2.   Vê-lo a ser assim com os meus filhos faz-me parar o tempo mentalmente para apreciar aqueles momentos. Mesmo que tenha que disfarçar a emoção quando a minha mulher me pergunta porque estou ali parado a olhar para ontem se há ainda tanta louça para por na máquina. Tem as melhores ferramentas e aparece sempre que há alguma tarefa mais bricolática para fazer, mesmo sem eu pedir.

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Sightseers (2012)

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A dor da perda e a tardia percepção de se amar sem ser amado desencadeia uma série de mecanismos de auto-defesa compulsivos inconscientes e involuntários. Uns enfardam pastelaria sortida na tentativa de encher o colossal vazio de chocolate, creme de pasteleiro e massa folhada à base de gorduras hidrogenadas e cancerígenos em geral, outros consomem inutilidades na esperança de substituir a dor da alma pelo catálogo da Benetton, outros compram cães, gatos, coelhos e toda uma panóplia de fauna que por vezes atravessa a fronteira daquilo que é um animal de estimação para aquilo que poderá ser uma bela chanfana. Outros compram uma caçadeira de canos serrados, metem-se num ford escort de 1997 e atravessam 0 país a matar gente para depois relaxarem num belo banho de sais enquanto esfregam os sangue e as vísceras da cara. O importante é exteriorizar a dor e não enlouquecer com ela a fervilhar-nos o cérebro até à loucura

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Top 5 de flops que se tornaram no meu culto.

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O flop, esse chavão que dita o destino de um filme nas mãos de um estúdio e da contabilidade matreira de Hollywood . Só pode ser considerado flop um filme com aspirações a world domination, actualmente um filme que custe pelo menos 100 milhões de dólares a produzir, distribuir e publicitar. Ora, um filme independente  feito por amor à arte nunca é um flop, basta que apareça mais um ou duas pessoas do que mãe do realizador já é êxito transbordante. É um termo quase exclusivamente aplicável ao chamado blockbuster. No Verão de 2013 foi vê-los cair. Parecia a época de caça ás perdizes, nem tinham tempo de levantar voo, porque agora Hollywood define o flop em menos de 24 horas de exibição. Muitas são as vezes em que me meto a pensar de que alguns destes filmes podem ter êxito em circuitos diferentes daqui a 10, 20 ou 100 anos porque o tempo os ajuda a persistir. Os gostos mudam e, quiçá, uma inversão na evolução nos faça amar esta vasta parolice que Hollywood nos tenta enfiar pelas goelas abaixo todas as semanas. Isso aconteceu imensas vezes no passado e o que me traz aqui hoje é uma singela lista de 5 filmes que foram absolutamente humilhados na sua estreia e hoje em dia são filmes que considero obras superiores.

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Resolution (2012)

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Não costumo contextualizar temporalmente os meus posts para que sejam lidos em qualquer altura sem serem maculados pelas referências a eventos que o tempo entretanto fez esquecer. Seja amanhã, daqui a dois anos ou quando os arqueólogos extraterrestres, daqui a 1600 anos, encontrarem o servidor onde tenho o blog alojado. No entanto hoje vou abrir um excepção e dizer que estamos em pré-época de Oscars, aquela silly season cinéfila onde se enfolam pastelões à categoria de obras primas para que possam servir de veículos de fama a algumas pessoas e depois ser esquecidos em enormes cestos nos hipermercados a 1.49 e ninguém os comprar. Já passei por tantos anos disto que desisti de discutir a futilidade do evento. “És do contra!”, “Não admira que não gostes destes filmes, só vês merda.” e o clássico “A crítica é unânime em eleger (novamente)  este como o filme do século.” A minha opinião é que apenas uma pequena percentagem dos filmes têm o seu real valor espelhado nestas festas, que estes eventos são actos de puro marketing que servem apenas para concentrar toda a atenção do mundo nos filmes de meia dúzia de estúdios (como se outras cinematografias não existissem) e sem valor artístico e que os vencedores são manipulados de acordo com uma agenda pré-definida. E assim procuro por me afastar para que não me volte a rebentar a veia que tenho na testa que se irrita cada vez que um paneleiro para aqui vem recitar odes às mentiras que Hollywood lhe enfia no cu. Este ano decidi regressar ao cinema de terror, um gênero do qual me tenho afastado porque sofreu um duro golpe criativo nos anos 2000. Agora parece estar a aparecer uma nova onda de belo cinema de terror independente e é isso que vou investigar. Comecei com Resolution, uma obra de Justin Benson e  Aaron Moorhead, autores que anteriormente nos trouxeram obras como… nada. Nada que tenha cá chegado comercialmente, pelo menos.

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Humanoids from the Deep (1980)

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Quando as festas começam a morrer, a música desaparece, o chão se torna perigosamente escorregadio e o dia começa a nascer, dou comigo a defender de modo violento a minha teoria de que os filmes de terror dos anos 80 e inícios dos anos 90 que tivessem nudez ou uma cena de sexo compostinha no primeira acto, eram uma merda em termos de valores de produção e de satisfação reduzida para o fã inveterado de uma boa matança. E nestas alturas levanta-se sempre um bêbedo do fundo da sala e pergunta “Então e o Humanoids from the Deep ?”. Então paro para repensar e reflectir na minha vida, nas minhas escolhas e a questionar todas as decisões, resoluções e juízos que fiz até então. “Será a minha vida uma ilusão? Um engano? Quem sou eu?”. E depois respondo “Ah, Ya!” num ataque fulminante de adolescência compulsiva, mas sem a habitual ereção.

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A Boy and his Dog (1975)

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Surgia em 1975 um dos filmes mais mal compreendidos de  sempre. Um pós-apocalíptico que não era drama nem acção, um bocado aparolado nas escolhas estéticas, personagens moralmente desprezíveis e cujos protagonistas eram um cão telepata e um jovem violador. Foi arrasado pela crítica, desprezado pelo público e maltratado pela sua produtora, mas o tempo fez-lhe justiça. Por isso puxem uma cadeira e comam um pudinzão, vou contar-vos a história de um rapaz e do seu cão.

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Bad Milo! (2013)

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Por muito informados que estejamos por todas as fontes que nos ejaculam ao segundo infinitos jorros de informação, nada sabe melhor que ver um filme espectacular que nunca tínhamos ouvido falar. Filmes que saltitam espontaneamente de um ou outro feed maioritariamente monótono. Filmes que apanhamos acidentalmente da RTP2. Às vezes são pessoas com gostos diametralmente opostos ao nosso que dizem “Ai que horror! Que filme horrendo, uma ofensa ao bom gosto e um atentado aos valores familiares e da moralidade pública e social.” Desta feita venho-vos falar de Bad Milo, um filme tão surreal quanto simbólico, a história de um homem que materializa um demónio com toda a sua fúria reprimida. Um típico funcionário de classe média, abusado para manter o ganha pão da sua família em tempos incertos de empregabilidade frágil. Um dia tudo é canalizado para um pequeno e adorável, mas igualmente mortífero e cruel, demónio. Uma criatura que lhe sai do rabo a cada vez que precisa de matar todos os que se atravessem no caminho do nosso herói. Quem nunca evacuou um demónio intestinal capaz de aniquilar toda a vida numa raio de meio quilómetro que atire a primeira pedra.

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Red Heat (1988) e o cacifo de titânio reforçado

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Crianças, juntem-se aqui que hoje temos história. Coloquem os vossos chapéus de papel de alumínio e elétrodos de pinça no escroto1 porque vamos viajar no tempo. Nos anos 80 os filmes de Arnold Schwarzenegger era um evento anual que nenhum teenager sedento de sangue e carnificina podia perder. Numa época sem Internets e com as revistas estrangeiras de cinema a custar meio ordenado mínimo, a criançada passava os dias a lamber os cartazes nas salas de cinema. Cartazes que às vezes chegavam a ter mais de um ano de antecedência. Tanta a antecedência que há casos de filmes mudaram entretanto de nome ou outros que nem chegaram a ver a luz do dia. Nestes tempos negros de incerteza e falácias comerciais, o conceito de “Filme novo do Schwarzenegger” era uma âncora de esperança, o quente conforto de algo que não nos ia falhar, um segundo lar… O “Filme novo do Schwarzenegger” era tão certo como apanhar umas valentes bofetões depois de chegar a casa às 20h cheios de lama e com queixas de 23 vizinhos acerca de alegada destruição de propriedade alheia e de por em risco a integridade sexual das suas filhas (essas galdérias). Isto para dizer que no ano do senhor de 1988 andámos todos eufóricos durante 7 ou 8 meses porque ia estrear um novo filme do Schwarzenegger e o elevado bodycount já nos retesava os mamilos de antecipação.  Red Heat estrearia no Outono, logo após a chegada das primeiras negativas a matemática.

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Branco (2013)

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Há uns meses atrás li com avultada tristeza a notícia de que o festival dedicado ao cinema português que se realiza anualmente em Coimbra foi cancelado por um conjunto de razões que não interessam para agora. Na sequência deste triste anúncio tive uma conversa com o Luís Alves e vim a perder quase toda a esperança de ver o novo filme dele aqui pelas terras banhadas pelas contaminadas  águas acastanhadas  do Mondego. Não desisti e usei bitch tactics para o tentar fazer sentir pena de mim de modo a que dissesse “Eu arranjo-te uma versão para veres” ao que ele respondeu amavelmente com “Eu arranjo-te uma versão para veres”. Fiquei todo contente porque a minha curiosidade estava em valores record, depois da excelente curta “A Cova” que tive oportunidade de ver na SIC Radical. Um dia depois recebi o bilhete dourado em forma de link num serviço de alojamento de vídeos.

Suspiria (1977)

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Ver filmes de terror na noite de Halloween é uma tradição muito portuguesa fortemente enraizada nos nossos costumes e cuja origem remonta ao distante ano de 2009. É surreal a maneira como uma tendência que conhecíamos apenas dos filmes americanos de repente se transforma num segundo carnaval neste jardim florido de lusofonia, numa medrança exponencial violentamente interrompida por um feriado que foi considerado, unilateralmente, supérfluo. Foi nesta tendência que embarquei este ano, de ver um filmezinho de terror antes de me fazer cedo ao vale de lençóis que havia que acordar cedo no dia seguinte para picar boi. A época é fértil em lançamentos novos e reedições, daí que tenha escolhido um Argento perdido que nunca tinha visto por uma daquelas razões que todos temos para ir adiando um filme. Suspiria foi a gema e em nada me arrependo.

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Tucker & Dale vs Evil (2010)

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No início do ano vi um filme que algum tempo vinha sinalizado em listas de referências como “filme a não perder”. Apesar de estar já familiarizado com o nome, nunca me ocorreu que Tucker & Dale vs Evil fosse nada mais que um simples filme de terror em que meia dúzia de adolescentes se dirigem para um fim de semana de deboche descontrolado numa cabana da floresta, sem contacto com a civilização, para ver a sua diversão ser interrompida inesperadamente por uma série de decapitações, esventramentos, esquartejamentos e a tradicional decepar dos membros inferiores em plena locomoção. E é exactamente nesta expectativa redutora que Tucker & Dale vs Evil pega para nos levar a um passeio, tirando-nos da perspectiva enfadonha das patéticas vítimas (que quase sempre merecem o que o destino lhes guarda) para que possamos compreender o lado do eternamente injustiçado assassino.

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Spring Breakers (2012)

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Há escassos dias iniciei-me no universo de Harmony Korine com Gummo. Desde sempre que estou familiarizado com uma icónica imagem do filme, em que uma criança de aspecto socialmente descuidado come um prato de esparguete sentada na banheira. A água cinzenta escura, um tabuleiro apodrecido, os azulejas cheios de bolor e um pedaço de bacon colado com fita cola à parede. Atenção que eu acabei de escrever “um pedaço de bacon colado com fita cola à parede”… Além de ser um dos frames mais icónicos dos foruns e imageboards de cinema por essa Internet fora é também Gummo in a nutshell. Mais ainda, é um concentrado de essência do pouco que vi de Korine.

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The Last Stand (2013)

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O senhor Arnold Alois Schwarzenegger está de volta. Depois de um intervalo de 10 anos para fazer o serviço político obrigatório do clã Kennedy, Arnie volta ao cinema de acção e da violência gratuita. Estaria a mentir se dissesse que este regresso me é indiferente, afinal de contas estamos a falar do herói da nossa adolescência, o protagonista dos Terminators, de Commando, Predator, True Lies, Total Recall ou Conan (o que não é homem-rã). Impulsionado por esta nova onda de “I’m too old for this shit” movies, Schwarzenegger optou por fazer mais uma perninha a assentar bofetada de criar bicho, distribuir balázio e atirar oneliners relacionadas com os problemas da velhice.

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