No saudoso verão de 2009 saiu o primeiro tomo deste franchisado reboot e eu fui ver ao cinema, como ditou o reflexo condicionado de consumidor seguidista e pouco exigente. Durante umas semanas não falei no filme, deixei que as minhas primeiras impressões e preconceitos sedimentassem. Lá me sentei numa pedra em posição yoga e ouvi os amigos que me pediam para controlar o ódio. Vi o que de positivo se podia ver nesse filme e acabei por aceitar este novo Star Trek em realidade paralela para permitir uma nova dose de aventuras que não colidissem com as anteriores. Esse amor rapidamente passou e esta sequela nem sequer a fui ver ao cinema, porque “puta que os pariu a todos mais as sequelas”. Vi o filme quando chegou ao videoclube do povo e estou então pronto para continuar a dissecar os blockbusters deste verão de má memória, e que Deus nos livre e guarde de mais épocas assim. Tende piedade de nós.
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No início deste verão prometi a mim mesmo ficar longe dos blockbusters para bem da minha sanidade mental e daqueles que me rodeiam. Não se tratava de uma regra intransigente, antes um “prime directive” com grande probabilidade de ser quebrada. Decidi mais tarde outra coisa mais flexível, ver os filmes mas não falar deles. Basicamente para não importunar ninguém com opiniões geralmente pouco populares. Ontem estava a afiar a corrente do meu Husqvarna 240 e-series TrioBrake (com motor X-Torq) e pensei “Ora foda-se, tenho que levar todos os dias com presunções alheias sem direito a contraditório e não posso opinar em relação a meia dúzia de filmecos cujo principal intuito é secar as mesadas de teenagers que lutam ferverosamente por perder a virgindade pelas nossas lindas praias de areia branca a perder de vista? “ E eis-me aqui, no momento crucial que conclui esta complexa linha de raciocínio.
Vera Farmiga é uma respeitosa mãe de família da minha idade. Todos a conhecemos dos mais variados filmes, sendo que a sua imagem de marca é a sensualidade* e a recusa em meter mamas postiças. Posto isto, vamos às fotos.
*Sensualidade – Capacidade de levantar pau. Medida em milisegundos (ou Furlongs nos Estados Unidos)
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No início do ano vi um filme que algum tempo vinha sinalizado em listas de referências como “filme a não perder”. Apesar de estar já familiarizado com o nome, nunca me ocorreu que Tucker & Dale vs Evil fosse nada mais que um simples filme de terror em que meia dúzia de adolescentes se dirigem para um fim de semana de deboche descontrolado numa cabana da floresta, sem contacto com a civilização, para ver a sua diversão ser interrompida inesperadamente por uma série de decapitações, esventramentos, esquartejamentos e a tradicional decepar dos membros inferiores em plena locomoção. E é exactamente nesta expectativa redutora que Tucker & Dale vs Evil pega para nos levar a um passeio, tirando-nos da perspectiva enfadonha das patéticas vítimas (que quase sempre merecem o que o destino lhes guarda) para que possamos compreender o lado do eternamente injustiçado assassino.
Há uns meses atrás tive o infortúnio de assistir a um testemunho de um jovem que se sentiu impressionado em demasia com Drive, filme de 2011 de Nicolas Winding Refn. O garoto andava perdido na vida, sem planos de futuro, sem namorada, sufocado em casa dos pais, desmoralizado e sem esperança num mundo melhor. Depois de ter visto a luz no enxameio de bofetada requintado protagonizado por Ryan Gosling decidiu passar as noites a conduzir pela cidade a ouvir a banda sonora do filme e a imaginar cenários de grandeza. Um dia foi ao McDrive e manteve a música em generoso volume. Foi atendida por uma gótica meio metalizada que provavelmente tinha dois piercings no clitóris. Ela sentiu uma atração por ele e iniciou um agressivo processo de flirting. “Olá”, “Como te chamas”, “Boa música!”, etc, até que chegou à terrível pergunta “O que fazes?”. O moço respondeu “Conduzo!” com um inexplicável orgulho. E ela volta à carga ligeiramente confusa “Conduzes o quê? Um taxi? Uma carrinha de entregas?”. Nesta altura o jovem sentiu o peso do ridículo e arrancou, tendo-se esquecido de trazer a encomenda. Podia-se adaptar para o remake português do filme. Chamar-lhe-ia “McDrive”.
Esta semana um amigo chamou-me a atenção através de um link no facebook para uma review a um filme scifi dos anos 90 chamados Space Truckers. Cliquei no vídeo e de imediato o meu cérebro explodiu em recordações e referências obscuras de filmes que tinha visto e por alguma razão o meu cérebro achou por bem omitir. Os anos 90 foram profícuos em projectos imaginativos e de multicores caleidoscópicas, em arrojo e coragem de avançar por terrenos desconhecidos ou excêntricos. De modo mais ou menos feliz, todos garantiram lugar na memória dos tempos. Ao contrário do que se faz actualmente, reciclagem e reaproveitamento de fórmulas gastas, os estúdios dos anos 90 permitiam-se a algum divertimento, os actores aceitavam papéis perfeitamente fora do âmbito da sua paleta de representações. Os executivos, imersos em trips intermináveis de cocaína, assinavam qualquer delírio narrativo que lhes colocassem na mesa, enquanto os sesu advogados se deliciavam sexualmente com autocarros de putedo multigénero (e às vezes equídeo) que lhes era entregue ao domicílio. Vamos aqui falar de alguns destes filmes e dos elementos que fazem deles autênticas pérolas de devaneio criativo, coragem e testículos de aço. Dois de cada vez, para não enfartar.
A semana passada dei boleia ao Álvaro da contabilidade. A viagem era curta, mas o infeliz acontecimento de um camião se ter despistado no meio da ponte que preciso de atravessar para chegar a casa, quando me encontrava já num ponto de não retorno, obrigou-me a enveredar pela eventualidade mais horrenda com que um ser humano se pode deparar: a conversa de circunstância. Olhei pela janela do meu lado enquanto o Álvaro olhava pela janela dele com sintomas de um ataque de pânico. Eu abomino a maior parte do contacto social, mas o Álvaro é de outra divisão. É um tipo que tem ataques de pânico frequentes por ansiedade social. Perguntei-lhe se gostava de cinema. Olhou para mim todo sorridente, suado e com aspecto ligeiramente paliativo e disse-me que sim. Disse que ia ver o Super-Homem porque era um filme espectacular. Eu perguntei-lhe porque raio acharia ele espectacular um filme que ainda não tinha visto? “Às tantas vais ver e depois é uma desilusão, Álvaro. Isto de uma pessoa criar expectativas é mau para tudo na vida, desde o sexo ao cinema.” Disse eu tentando legar alguma sapiência ao frágil Álvaro. Bom, deviam ver como o rapaz ficou. Começou a hiperventilar e só não morri ali com o crânio esmagado porque o Álvaro é um franganito incapaz de carregar mais que uma resma de papel de cada vez. Olhou para mim com as labaredas do inferno inflamadas nas retinas e disse-me que era espectacular porque tinha visto o trailer, e que os efeitos especiais eram os mais caros de sempre, e que o Nolan também tinha realizado (sic) e até já tinha visto online umas críticas e diziam que era o melhor filme de super-heróis de sempre. Para quebrar o gelo ainda lhe perguntei o que ele achava do facto de lhe terem tirado as cuecas vermelhas do lado de fora e o terem obrigado a manter a sua roupa interior no seu devido lugar. Não me respondeu. Pegou no telemóvel e começou a jogar Snake II.
Há escassos dias iniciei-me no universo de Harmony Korine com Gummo. Desde sempre que estou familiarizado com uma icónica imagem do filme, em que uma criança de aspecto socialmente descuidado come um prato de esparguete sentada na banheira. A água cinzenta escura, um tabuleiro apodrecido, os azulejas cheios de bolor e um pedaço de bacon colado com fita cola à parede. Atenção que eu acabei de escrever “um pedaço de bacon colado com fita cola à parede”… Além de ser um dos frames mais icónicos dos foruns e imageboards de cinema por essa Internet fora é também Gummo in a nutshell. Mais ainda, é um concentrado de essência do pouco que vi de Korine.
Todos estamos habituados a larguras de banda supersónicas, serviços web 2.0 que vieram tornar obsoleta a necessidade de saber ler mais de 140 caracteres de cada vez e interfaces gráficos tão pesados que nos obrigam constantemente a renovar o parque informático para fazer exactamente o que fazíamos há 20 anos atrás. Aceder a filmes no seu formato “não legal” é tão natural como respirar e mesmo aquele amigo que abusa da expressão “o computador está a pensar” e faz “remover hardware com segurança” para não apanhar vírus sabe como sacar uma cópia de boa qualidade do último blockbuster que foi lançado em DVD. Mas tempos houve em que não era assim, tempos antes dos blogs e das redes sociais, tempos antes mesmo dos sites dinâmicos em que o gif animado servia para colocar um símbolo “under construction” a rodar todas as cores do espectro em páginas adormecidas. O acesso a pirataria fazia-se pelos servidores de newsgroups (usenet) da Telepac.
Faz no próximo dia 24 de Junho 10 anos que escrevi a minha primeira review de um filme sob o nome Cinemaxunga. A origem é simples e linear, sem subjectividades filosóficas ou dilemas existenciais. Estava na minha casinha de solteiro deitado a ver um filme às 4 da manhã quando me virei para os meus colegas de apartamento e disse duas coisas: “Tenho que me levantar às sete e meia para ir trabalhar e ainda aqui estou” e “Este filme é tão horrível, não acham? Estão a borrifar-se? Ai é? A Internet há-de saber disto, amanhã começo um blog e eles vão temer a minha ira, irão querer dar-me milhões para que me cale, irão ameaçar-me de morte com medo da minha voz revolucionária, irão… zzzzz” e voltei a adormecer. E, de facto, no dia seguinte criei mesmo um blog, o que vem provar que aquelas substâncias de que falam tão mal não são prejudiciais como os média mainstream, os governos neo-liberais ou os deuses do povo escaravelho que controla secretamente o planeta nos fazem acreditar. Não era o meu primeiro blog, era apenas mais uma tentativa de escrita numa interminável série de falhanços totais. Ignorei a imensa lista de afazeres que tinha pela frente no meu trabalho e comecei a escrever. Destilei um pouquinho de ódio e o efeito não foi tão poderoso como imaginei nas minhas fantasias de Spider Jerusalem. Publiquei e fui à minha vida.
Por cada filme de zombies fraquinho que é lançado, Lucio Fulci mata um gatinho do outro lado da tumba. Os filmes de terror que saem actualmente são praticamente todos maus. Os de zombies ainda pior. As causas já foram por várias vezes aqui expostas. A mais recente é esta invasão teenager à procura de emoção, as caldeiradas hormonais, as imaturidades emocionais de quem não tem um crédito à habitação para pagar ou de quem nunca teve que abandonar o idealismo pela lógica da sobrevivência. Warm Bodies pretende ser o outro lado dos filmes de Zombies, mas é na realidade uma mal disfarçada tentativa de sacar euros à conta de um Twilight com zombies coladinho ao cheirinho de Romeu e Julieta, porque quando se copia de uma obra de Public Domain não é plágio é adaptação livre.
O senhor Arnold Alois Schwarzenegger está de volta. Depois de um intervalo de 10 anos para fazer o serviço político obrigatório do clã Kennedy, Arnie volta ao cinema de acção e da violência gratuita. Estaria a mentir se dissesse que este regresso me é indiferente, afinal de contas estamos a falar do herói da nossa adolescência, o protagonista dos Terminators, de Commando, Predator, True Lies, Total Recall ou Conan (o que não é homem-rã). Impulsionado por esta nova onda de “I’m too old for this shit” movies, Schwarzenegger optou por fazer mais uma perninha a assentar bofetada de criar bicho, distribuir balázio e atirar oneliners relacionadas com os problemas da velhice.
Para os aficionados de longa data do cinema de terror é mais que óbvio que o género está morto. Não no sentido de morto, enterrado e esquecido. Diria que está em coma induzido e mantido no limbo da ausência de criatividade, a canibalizar-se, sofre de doenças de consanguinidade. Arriscar sai caro e usar as mesmas técnicas para assustar teenagers de 14 anos funciona sempre, porque todos os anos há um lote novo de teenagers que nunca foi impressionado antes. Para nós, os que seguem o género desde o início dos tempos (videoclubes, vá!), pouco material novo existe. É mais rentável para mim apostar em clássicos que escaparam do que investir o meu precioso tempo a ver templates açaimados e letárgicos. A culpa, na minha humilde opinião, é do Saw, do gore CGI e da banalização do jump scare.
Eva Maria Livia Amurri é filha de Franco Amurri e Susan Sarandon, além de ser enteada de Tim Robbins. Não sendo este site propriamente especializado propriamente em genealogia, vamos ao que interessa. Peitinhos da Quinta
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Esta pretende ser uma primeira abordagem a um velho tema do universo da critica cinematográfica, que é uma segunda avaliação a um filme e um resultado completamente diferente da primeira. Todos já passámos por situações similares. Um filme que foi bom (ou mau) e que a uma segunda visualização, depois de um considerável período de tempo, afinal teve impacto completamente diferente. Os factores são vários, conhecidos e comuns. A companhia, o estado emocional ou hormonal, influencias psicotrópicas e índice de embriaguez, o peso do hype ou o amour (toujours l’amour). São influências temporárias que nos toldam o juízo e nos fazem, afinal, humanos.
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