Geração “Borra Piças” – TV para Saloios

Portugal nunca foi um país reconhecido pela qualidade da sua programação televisiva. Mas eis que chegámos ao ponto zero de toda a estupidez televisiva. A SIC apercebeu-se quão idiotas são os seus utentes quando as audiências subiram em flecha no dia em que passaram apanhados canadianos e gatos a escorregar do sofá. Pior que ter programação braindead é ter um atrasado a explicar o que vai acontecer, para que não haja dúvidas quanto ao grau de imbecilidade do que jaz perante nós.

Pior do que o programa propriamente dito é quando quero mostrar a minha indignação e olho em volta está tudo a rir e ninguém disponível para atender as minhas lamúrias. E se por acaso falo disto a alguém, dizem-me que é apenas o meu mau feitio.  Que sou “fino”,  tenho a mania que sou bom e elitista. Parece que estou dentro de um clone de “The Invasion Of The Body Snatchers”.

Quando me inscrevi num clube de vídeo pela primeira vez (86/87) haviam duas ou três cassetes que eram imensamente difíceis de alugar. Gente Gira e as suas continuações. Essencialmente Gente Gira são apanhados feitos na África do Sul de tom racista cujo título original é Funny People. Era o boom das candid cameras. Estamos a falar de uma época em que o colocar algo em fast forward fazia rir, uma época em que os Modern Talking eram uma banda da moda e em que as pessoas usavam chumaços nos ombros para parecerem mais largos.

Anos depois, 23 para ser exacto, o mundo parece retrair a uma velocidade superior àquela que o nosso cérebro consegue processar, chupando todo um país que se recusa a mudar de canal para um vórtice de estupidez apenas superado pelo grande boom de reality TV de meados dos anos 90, que apenas afectou Portugal nas camadas mais intelectualmente vulneráveis, como celebridades Jet Set, socialites e escumalha cor-de-rosa em geral.